São Paulo, segunda-feira, 06 de maio de 2002

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SALVADOR

Logradouro teve vários nomes antes de 1902, quando os baianos recepcionaram oficiais do país andino com entusiasmo

Desfile da Marinha chilena batizou via

ESPECIAL PARA A FOLHA

Mais antiga rua de Salvador, a rua Chile na verdade comemora agora o centenário da adoção do nome atual, cuja origem está na entusiasmada recepção dos baianos à esquadra da Marinha de Guerra do Chile, que desfilou em Salvador em julho de 1902.
O governo chileno está estudando a possibilidade de realizar uma réplica do desfile como parte dos eventos de comemoração do centenário da rua.
A Bahia não tinha maiores vínculos políticos ou comerciais com o país andino, muito menos raízes culturais, mas o calor do momento e a pressão da mídia influenciaram o ânimo das autoridades para dar nova denominação à via pública, então chamada de rua Direita do Palácio.
Estandartes dos dois países enfeitaram prédios para o povo admirar, enquanto era descerrada a placa comemorativa.
A rua mais antiga de Salvador nos 453 anos de existência da cidade teve várias denominações antes de se chamar Chile.
Primeiro, rua das Portas de Santa Luzia, quando Salvador ainda era uma cidade murada (à época de sua fundação, em 1549), com uma vala d'água que a protegia de inimigos reais ou imaginários semelhante às das urbes medievais.
A rua, que ia de porta a porta, era a principal das sete que constituíam a sede do Governo Geral do Brasil. As casas eram de taipa e a rua, de chão batido.
Mais tarde (séculos 17 e 18) foi chamada de rua dos Mercadores, rua Direita do Palácio (século 19) e, finalmente, de rua Chile.
O imperador dom Pedro 2º, na sua visita às Províncias do Norte, em 1856, achou-a "estreita e enlameada". Deixou esse registro no seu diário de viagem.
A via pública era formada por sobrados de três e quatro andares, alguns habitados, outros locados por prestadores de serviços: alfaiates, ourives, douradores, cirurgiões-dentistas. No entorno da rua estava o poder, representado pelo palácio do Governo, pela Câmara Municipal e pelo decano da grande imprensa baiana, o "Diário da Bahia".
No final do século 19, o óleo de baleia dos lampiões das esquinas foi substituído por gás e, já na virada do século, por luz elétrica.

Guerra anunciada
Em janeiro de 1912, a Chile se transformava em palco de uma guerra anunciada, fruto da política selvagem reinante. Lojas e repartições foram bombardeadas por canhões do forte de São Marcelo, e a biblioteca pública, com 20 mil volumes, foi incendiada.
O conflito entre militares do governo do Estado e forças federais deixou sequelas, arruinando prédios que antes do embate já requeriam reformas.
A rua Chile sofreu o vácuo do poder, obrigado a se transferir para o palacete das Mercês, enquanto o palácio dos Governadores, danificado pelo bombardeio, era restaurado.
Três anos depois, em 1915, os baianos celebravam a inauguração da nova rua: bonita e larga, asfaltada, com trilhos de bondes nos sentidos de ida e volta, arquitetura moderna e lojas de moda no estilo parisiense.
Nascia a Chile do glamour, da paquera no fim de tarde, dos anúncios de néon; a rua que ditaria hábitos e faria a moda nas décadas seguintes.
(NELSON VARÓN CADENA)


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