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SALVADOR
Logradouro teve vários nomes antes de 1902, quando os baianos recepcionaram oficiais do país andino com entusiasmo
Desfile da Marinha chilena batizou via
ESPECIAL PARA A FOLHA
Mais antiga rua de Salvador, a
rua Chile na verdade comemora
agora o centenário da adoção do
nome atual, cuja origem está na
entusiasmada recepção dos baianos à esquadra da Marinha de
Guerra do Chile, que desfilou em
Salvador em julho de 1902.
O governo chileno está estudando a possibilidade de realizar uma
réplica do desfile como parte dos
eventos de comemoração do centenário da rua.
A Bahia não tinha maiores vínculos políticos ou comerciais com
o país andino, muito menos raízes
culturais, mas o calor do momento e a pressão da mídia influenciaram o ânimo das autoridades para dar nova denominação à via
pública, então chamada de rua
Direita do Palácio.
Estandartes dos dois países enfeitaram prédios para o povo admirar, enquanto era descerrada a
placa comemorativa.
A rua mais antiga de Salvador
nos 453 anos de existência da cidade teve várias denominações
antes de se chamar Chile.
Primeiro, rua das Portas de Santa Luzia, quando Salvador ainda
era uma cidade murada (à época
de sua fundação, em 1549), com
uma vala d'água que a protegia de
inimigos reais ou imaginários semelhante às das urbes medievais.
A rua, que ia de porta a porta,
era a principal das sete que constituíam a sede do Governo Geral do
Brasil. As casas eram de taipa e a
rua, de chão batido.
Mais tarde (séculos 17 e 18) foi
chamada de rua dos Mercadores,
rua Direita do Palácio (século 19)
e, finalmente, de rua Chile.
O imperador dom Pedro 2º, na
sua visita às Províncias do Norte,
em 1856, achou-a "estreita e enlameada". Deixou esse registro no
seu diário de viagem.
A via pública era formada por
sobrados de três e quatro andares,
alguns habitados, outros locados
por prestadores de serviços: alfaiates, ourives, douradores, cirurgiões-dentistas. No entorno da
rua estava o poder, representado
pelo palácio do Governo, pela Câmara Municipal e pelo decano da
grande imprensa baiana, o "Diário da Bahia".
No final do século 19, o óleo de
baleia dos lampiões das esquinas
foi substituído por gás e, já na virada do século, por luz elétrica.
Guerra anunciada
Em janeiro de 1912, a Chile se
transformava em palco de uma
guerra anunciada, fruto da política selvagem reinante. Lojas e repartições foram bombardeadas
por canhões do forte de São Marcelo, e a biblioteca pública, com 20
mil volumes, foi incendiada.
O conflito entre militares do governo do Estado e forças federais
deixou sequelas, arruinando prédios que antes do embate já requeriam reformas.
A rua Chile sofreu o vácuo do
poder, obrigado a se transferir para o palacete das Mercês, enquanto o palácio dos Governadores,
danificado pelo bombardeio, era
restaurado.
Três anos depois, em 1915, os
baianos celebravam a inauguração da nova rua: bonita e larga, asfaltada, com trilhos de bondes nos
sentidos de ida e volta, arquitetura moderna e lojas de moda no estilo parisiense.
Nascia a Chile do glamour, da
paquera no fim de tarde, dos
anúncios de néon; a rua que ditaria hábitos e faria a moda nas décadas seguintes.
(NELSON VARÓN CADENA)
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