São Paulo, segunda-feira, 08 de julho de 2002

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TEMPO DE NEVE

Tombos recheiam aulas de esqui do inexperiente, que, no começo, se sente mais cansado que o normal

Valle Nevado é uma meca para iniciantes

Divulgação
Hóspedes do Valle Nevado, Chile, fazem aula de esqui perto dos edifícios do complexo hoteleiro


LUÍS PEREZ
ENVIADO ESPECIAL AO CHILE

Pouco mais de três horas de avião e uma hora e meia de carro -por uma estrada sinuosa que desafia os mais bem resolvidos estômagos- e chega-se a Valle Nevado, estação de esqui a 60 km da capital chilena, Santiago.
É hora de se de(le)itar na neve, bem no coração da cordilheira dos Andes, a 3.025 metros de altitude. Não exagera quem diz que a vida reserva menos quedas do que o aprendizado no esqui.
Em Valle Nevado, meca de esquiadores iniciantes, a manhã deve começar com um café reforçado -não se preocupe, as calorias são impiedosamente eliminadas antes mesmo da entrada na pista.
Macacão, botas, óculos e outros equipamentos fazem a pessoa parecer um astronauta. Os 25 metros entre a "ski shop" (loja onde se alugam os apetrechos) e a pista parecem intermináveis.
O novato logo pensa: "Mal consigo andar, que dirá esquiar". Esquis encaixados, os primeiros passos sob a orientação de um instrutor são de lado, numa inclinação pífia, de uns 15 metros. Depois basta se virar e deixar deslizar. É quando alguns já levam os primeiros tombos.

"Telecuerda"
Quando o exercício começa a ficar chato, chega o momento de pegar o primeiro teleférico (El Vaiven), a fim de encarar a "telecuerda" (espécie de teleférico sem cadeira, em cujo cabo o esquiador encaixa as pernas). São 150 metros em que a "sobrevivência" depende da arte de aprender a frear.
Simples: pernas flexionadas, esquis em forma de "v" invertido, com cerca de um palmo de espaço entre as pontas. Forma-se a famosa cunha, e o desafio é ter equilíbrio para, ao descer, "acariciar" a neve com o calcanhar.
Lindo na teoria. Na prática, o esquiador iniciante sai da "telecuerda" e começa a deslizar: "Estou esquiaaaandooooooo!". Splaf. É uma das muitas quedas que estão por vir. No caso deste repórter, eram quatro a cada 150 m.
Até cair vira um prazer. Difícil é a hora de levantar, quando se torna perigoso torcer o joelho. Aliás, um dos primeiros alertas do instrutor é que, em anos de ensinamentos, ele nunca viu alguém cair de cara na neve, só sentado. Deveria ter prestado mais atenção neste aplicado aluno.
Mas, mesmo que você seja daqueles que não tiveram infância, insista. Cinco horas depois já é possível descer esses 150 m sem cair. Em seguida, aprende-se a fazer curvas -"basta" virar o esqui na direção em que se quer seguir.
Não banque o apressadinho. Mudar da pista verde para uma azul (um grau de dificuldade acima) pode fazer toda a confiança adquirida cair por terra, ou melhor, por neve.
Os passos seguintes são fazer curva em semicunha até os esquis alcançarem o paralelo básico. Por isso a motivação sobre a neve depende de ficar pelo menos uma semana na estação de esqui.
Mesmo porque, no começo, bate um cansaço acima do normal. Afinal, são mais de 3.000 m de altitude -o ponto mais alto esquiável, o Tres Puntas, fica a 3.670 m. Subir um lance de escadas deixa qualquer não-atleta ofegante.
O clima é extremamente seco (os quartos do hotel têm vaporizadores). Ou seja, o hóspede tem a sensação de estar o tempo todo dentro de um avião: pele e vias respiratórias ficam ressecadas. Apesar das quedas, do frio e do cansaço, os primeiros bons resultados sobre o esqui mostram que a experiência vale a pena.

Povo de montanha
É uma cidade? É um vilarejo? Afinal, o que é o Valle Nevado? Perguntando a qualquer pessoa de lá, a resposta está na ponta da língua: "É povo de montanha".
Trata-se de um complexo de esqui com três hotéis, cada um com um estilo: o Valle Nevado, mais sofisticado, com acesso direto às pistas, o Puerta del Sol, para famílias, a 25 m das pistas, e o Tres Puntas, para a moçada que não faz questão de luxo. Há ainda o apart-hotel Valle del Sol.
O cenário de intermináveis montanhas de neve é composto por 9.000 hectares esquiáveis, 37 km de pistas (34 delas). Caso a neve não seja suficiente, o complexo tem como fabricá-la.

Luís Perez viajou a convite da LanChile e do Valle Nevado


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