São Paulo, segunda, 9 de março de 1998

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História mistura diplomacia, suor e sangue

da Agência Folha, em Campo Grande

A ferrovia que liga Bauru (SP) à Bolívia foi criada para atender a uma cláusula do Tratado de Petrópolis, assinado entre Brasil e Bolívia em 1903.
Pelo acordo, o Brasil ficaria com o Acre, cederia uma faixa do território mato-grossense e se comprometia a construir uma estrada de ferro que desse à Bolívia um acesso ao oceano Atlântico.
A obra também se encaixava nos planos do governo brasileiro de ocupação do Centro-Oeste, com seus vastos campos para criação de gado e agricultura.
A Companhia Noroeste do Brasil (NOB) iniciou a construção da ferrovia em Bauru (1905) e Porto Esperança (1908).
No território paulista, de Bauru a Araçatuba, os índios coroados, também chamados de caingangues, responderam à tomada de suas terras com constantes ataques e chacinas de operários.
A companhia organizou turmas de "bugreiros" (caçadores de índios), que, com suas batidas, espalhavam o ódio entre os índios. Os "bugreiros" atavam ou tomavam os índios como escravos.
O então coronel Cândido Rondon, chefe do SPI (Serviço de Proteção ao Índio) conseguiu firmar a paz em 1912. A obra foi retomada.
Castigo
A professora de história da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), de Campo Grande, Alisolete dos Santos Weingartner, 60, diz que pressões políticas interferiram no traçado da ferrovia.
Os trilhos evitaram a propriedade da companhia Matte Larangeira, por exemplo, a pedido da empresa. A companhia temia que a chegada de migrantes forçasse o arrendamento das plantações de erva-mate que controlava.
A empresa monopolizou a exploração de até 5 milhões de hectares de erva-mate no sul do Mato Grosso, antes da divisão do Estado. Para isso, dispunha de uma milícia que impunha aos cerca de 25 mil trabalhadores uma rotina desumana, descontos irregulares no pagamento e castigos a peões que tentassem fugir.
A milícia da empresa era tão forte que chegou a ser convocada pelo Exército para combater a Coluna Prestes, quando ela passou por Mato Grosso por volta de 1920.
Diferentemente da Matte Larangeira, a Noroeste do Brasil queria atrair migrantes e impulsionar o intercâmbio sociocultural entre Mato Grosso e São Paulo.
A proximidade de Mato Grosso com os fatos e pessoas de São Paulo e Rio de Janeiro possibilitou a propagação do movimento divisionista, que só se concretizou em 1977, com a criação do Mato Grosso do Sul, definida pelo presidente Ernesto Geisel. (RV)



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