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Quase todo habitante é da família Crispim
NO LITORAL CEARENSE
Jonas é irmão de Misaac e Sidrak, que são primos de Jeová e
Josué, que são primos de Joás, neto dos irmãos Francisco e Jonas.
Não, não se trata de uma nova
versão de quadrilha utilizando
personagens bíblicos, mas da realidade do povoado de Ponta Grossa, onde quase todos são parentes
e têm o sobrenome Crispim.
"Apenas quatro pessoas da comunidade não têm o sangue da
família", conta Francisco Crispim, que é dono da barraca Pantanal. São eles duas mulheres que
se casaram com dois Crispins e
dois aventureiros que acabaram
ficando para sempre: um mineiro
e um potiguar.
Muito religiosa, a maioria da
população tem nomes bíblicos,
particularmente do Antigo Testamento: Jeová, Messias e Eliseu são
alguns exemplos, além dos já citados. Até o nome da pousada de
Jonas vem da Bíblia: Canaã.
Numa comunidade que pouco
se mistura, a cor de pele bem
branca, o cabelo loiro e os olhos
azuis são as características predominantes. Isso porque todos são
descendentes diretos dos holandeses, que ali desembarcaram
provavelmente em 1621.
Tais características de vez em
quando castigam a pele desses habitantes, que ainda tiram da pesca
o principal meio de vida. "Essas
cicatrizes do rosto de Jonas foram
provocadas pelo sol", conta a sua
mulher, Santana.
Talvez seja por isso que o dono
da pousada Canaã passe a maior
parte do dia debaixo da sombra
das árvores, preferencialmente
deitado em rede a elas atada.
A rede também é companhia inseparável do velho Afonso, que
nela passa o dia recitando poesias
memorizadas na época em que
ainda estava gerando alguns dos
seus 14 filhos. Com dificuldade de
reconhecer até seus parentes próximos, ele sempre se nega a vender seu pedaço de terra a qualquer
transeunte que, brincando, lhe faz
uma oferta. "Se eu lhe vender essa
terra, fico sem esses coqueiros onde minha rede está atada."
(MV)
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