São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 2003 |
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AVIAÇÃO Apesar da crise no setor, brasileiro que preside a companhia européia vê caminho de duas vias entre Portugal e o país TAP peita turbulência com 30 vôos ao Brasil
SILVIO CIOFFI EQUILÍBRIO - "Quando cheguei a
Portugal, no ano 2000, a TAP contabilizava prejuízos líquidos de
120 milhões, com uma perda operacional de 62 milhões. Iniciamos um programa de ajustes forte, deixando os prejuízos no patamar de 20 milhões e realizando
um ganho operacional de 20
milhões. Em 2002, ano em que
transportamos 5,5 milhões de
passageiros (3,3% mais que em
2001), fechamos o ano com uma
perda líquida de 6 milhões e um
ganho operacional de 50 milhões. Isso dá para medir o perfil
de recuperação da empresa, que
diminuiu seu endividamento. A
TAP tem 57 anos, e a cultura na
Europa é fortemente sindicalizada. Aprendemos a trabalhar com
os sindicatos, que entenderam as
dificuldades e colaboraram." ESTRATÉGIA - "A TAP tem hoje
vôos diários diretos para São Paulo, Rio e Recife, quatro semanais
para Fortaleza e cinco para Salvador; são 30 vôos por semana só
para o Brasil, voando com equipamentos Airbus; A-340 para os
três primeiros destinos e A-310
para o Nordeste. A ocupação nas
rotas já esteve melhor, mas ainda
é boa, na faixa de 75%. Há um caminho de duas vias sendo trilhado entre Brasil e Portugal. Havia
vôos da TAP e, então, hoteleiros
portugueses passaram a investir
mais no Brasil, o que por sua vez
ajuda a companhia." GUERRA - "Minha análise é que a
guerra no Iraque e as dificuldades
econômicas internacionais não
ajudarão o Brasil a ter mais turistas -aliás, a guerra não ajuda
país nenhum. Mas é claro que
Brasil e Portugal terão menos perdas que outros países mais envolvidos no conflito. Em termos globais, as empresas americanas sofreram muito, seja no âmbito interno, seja no mercado externo.
Seja no Atlântico Norte, seja no
Pacífico, a crise é uma realidade.
As empresas aéreas européias sofreram menos, mas também enfrentaram queda de mercado. A
companhia ainda estava em fase
de consolidação de algumas rotas,
ocupando espaços, pois havia rotas que podiam ter dois vôos diários -e a empresa não tinha. Isso
permitiu um crescimento de 8%
na oferta de vôos, que a demanda
acompanhou." PRIVATIZAÇÃO E ROTAS - "Temos
37 aviões, 27 são Airbus da família
A-320, A-321 e A-319. Também
temos A-310 e A-340. A TAP é
uma empresa estatal, mas está
sendo preparada para a privatização. Temos 8.200 funcionários,
mas é preciso levar em consideração que 50% do trabalho que fazemos de manutenção é para terceiros, como Air France, Lufthansa e
empresas do Oriente Médio. Nas
rotas intercontinentais, o Brasil é
muito importante, rivaliza em importância econômica para a empresa com países da África, como
Angola, Moçambique e África do
Sul. Há também Dacar, no Senegal. Nosso maior movimento é
dentro da Europa -caso de Paris,
com sete vôos diários; de Madri,
com seis ou sete vôos por dia; de
Londres, com uns quatro vôos todo dia. Para a Itália, entre Roma e
Milão, fazemos cerca de quatro
vôos diários. Depois vem Bruxelas, com número parecido. Outra
particularidade são os vôos para a
ilha da Madeira, para onde voamos quase em regime de ponte-aérea; idem para os Açores. Para
os EUA, temos algo como sete ou
oito vôos semanais. Com relação
às alianças globais, temos acordos
com empresas européias em separado, caso da Iberia, da Portugália, da FinAir e da British Midland, mas não participamos ainda de nenhuma aliança. A estratégia é revigorar e fortalecer a empresa -para, então, negociar." ULTRALEVE - "Quando eu trabalhava na manutenção da Varig,
fui convidado por um grupo de
amigos que havia levado o primeiro ultraleve para o Brasil. Era
um equipamento antigo, parecido até com o Demoiselle inventado por Santos Dumont, um ultraleve de primeira geração. E aí fomos, no Rio, ao Campo dos Afonsos para fazê-lo voar. Fizemos várias corridas na pista, mas estava
difícil fazer a decolagem. Subíamos um metro, não mais que isso.
Como eu era o mais magrinho,
consegui, afinal, fazer o ultraleve
subir -e como festejei quando
passei ao lado da torre de controle! Isso foi em 1981." MEMÓRIA - "Trabalhei 28 anos
na Varig, de 1972/1973 a 2000.
Sem dúvida fui influenciado por
meu pai [Fernando Pinto é filho
de Lili de Souza Pinto, piloto que
marcou época na aviação brasileira e que, diz uma história não
confirmada, teria levado Leonel
Brizola para fora do Brasil depois
da malograda resistência ao movimento militar, em 1964". Ele era
um profissional de empresa aérea
e uma pessoa entusiasmada pela
aviação, levava a segurança de
vôo e o treinamento a sério, idem
a organização da companhia.
Gostava do que fazia -e isso foi
contagiante. Estava disponível a
qualquer instante para fazer o vôo
que a empresa precisasse: podia
estar no meio de um churrasco,
mas largava tudo para atender a
um chamado. Meu irmão virou
piloto, é um dos mais antigos na
Varig, voa no Boeing-777. Acabei
também me tornando engenheiro
mecânico pela UFRJ e piloto de
avião privado." BRASIL - "Tenho boas recordações da minha vida profissional,
passei na Varig um período muito
importante da vida, tenho família
lá, uma ligação e um carinho pela
empresa. Aquilo foi uma escola.
Com relação à fusão da Varig e da
TAM, acho que ela é possível, pode ser uma ferramenta num momento de mercado difícil. É claro
que as culturas das empresas são
diferentes e que isso é um desafio.
Mas a fusão é possível, as frotas
são diferentes, a TAM está mais
ancorada nos jatos da Airbus, a
Varig tem uma frota de Boeings,
mas progressivamente as empresas podem aprofundar esses laços. Ouvi o discurso dos cem dias
do presidente Lula no rádio e
acho que há um ar de "positivismo" no país, e as razões para que
isso ocorra são reais." EUA - "Esse foi sem dúvida o
mercado que mais sofreu. Gigantes como United Airlines e USAir
enfrentaram uma perda de 20%
no número de passageiros. Houve
ainda uma queda de preços, pois a
competição lá é forte, o que fez
com que a oferta se ajustasse, mas
aos poucos. A American Airlines
conseguiu resistir, mas a conjuntura ainda não é fácil. Há ainda as
empresas "low cost, low fare" [custos baixos, tarifa baixa" trilhando
caminhos diferentes. A filosofia
inova, mas atende determinados
mercados, não pode atuar numa
escala grande de distribuição." |
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