São Paulo, segunda-feira, 14 de maio de 2001

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PAZ NOS BÁLCÃS

Devastado na guerra de 91, o balneário de Dubrovnik foi reerguido em dez anos de obras de restauração

"Pérola do Adriático" emerge dos escombros

DO ENVIADO ESPECIAL À CROÁCIA

Os sinos da catedral de Dubrovnik interrompem o silêncio da movimentada rua principal da cidade velha.
É meio-dia, e o sol da primeira semana da primavera é uma boa razão para os restaurantes começarem a lotar para o almoço.
Crianças sobem e descem correndo as escadarias, enquanto as vendedoras das lojas de suvenires, vazias, bocejam de tédio. É difícil, quase impossível, imaginar que um local tão pacato tenha sido palco de um dos mais cruéis episódios da guerra que marcou o colapso da ex-Iugoslávia.
Merecedora do apelido de "pérola do Adriático" e um dos maiores orgulhos dos croatas, Dubrovnik foi reduzida a escombros pela artilharia das forças sérvias e montenegrinas ao longo de três meses de bombardeios em 1991.
A importância militar ou estratégica de casas, igrejas e monumentos medievais atingidos era nula. Só mesmo a lógica de um conflito movido por um nacionalismo étnico irracional para explicar por que o local, considerado Patrimônio Histórico da Humanidade pela ONU, pôde ser visto como um alvo legítimo.
Felizmente, dez anos de trabalhos de restauração foram capazes de reerguer Dubrovnik. A geografia ajuda a manter viva a memória do conflito: onde quer que se esteja, pode-se avistar a colina de onde choviam bombas. Mesmo assim, a vida normal foi retomada pelos moradores.
Situada na extremidade sul da Croácia, a parte antiga de Dubrovnik é cercada por muralhas e torres de proteção. As igrejas, os monastérios e a sinagoga que se escondem por suas vielas e escadarias tornam a cidade uma espécie de Jerusalém entre as águas.

Explorando a cidade
Uma das maneiras mais interessantes de explorar Dubrovnik é caminhando sobre suas muralhas. É possível dar a volta inteira ao redor da Stari Grad (cidade velha) sobre elas, admirando tanto a vista interna quanto o impressionante azul do mar que a cerca.
Outra boa opção é observá-la do mar, o que pode ser feito com uma viagem de "ferry" para a vizinha ilha de Lokrum.
Do porto de Dubrovnik é possível embarcar também para diversas ilhas da costa da Dalmácia ou para a Itália.
Fundada no século 7º por refugiados romanos derrotados em batalhas nos Bálcãs, Dubrovnik pertenceu ao Império Bizantino.
Entre os séculos 14 e 19, se consolidou como uma cidade-Estado portuária independente na região do mar Mediterrâneo. Seus habitantes viviam da navegação, fazendo a ponte comercial entre o Oriente e o Ocidente.
Sua extensa história e privilegiada localização proporciona ao viajante boa variedade de museus e templos para visitar.
Apesar do ar medieval e do aspecto antigo das construções -todas feitas de tijolos com os mesmos tons de bege-, a cidade não parou no tempo.
A cada esquina virada, uma nova praça surge, com mais cafés e restaurantes. No verão, os croatas enfrentam as cerca de 12 horas de ônibus a partir de Zagreb para se juntar aos turistas alemães, italianos e espanhóis que lotam os bares e as discotecas da Stari Grad, em festas de virar a noite.
Em julho e agosto, com o festival de verão, a agenda cultural de Dubrovnik fica concorrida, com concertos ao ar livre, apresentações de jazz ou rock e espetáculos teatrais. Tudo regado a muito vinho da Dalmácia, presunto defumado e frutos do mar, especialidades da região.
Dubrovnik é hoje talvez o melhor exemplo da transformação à qual a Croácia foi submetida após quase dez anos de sua declaração de independência. Reconstruída a toque de caixa, a "pérola do Adriático" deixou de ser um front de batalha devastado e volta a ser uma das paradas mais vibrantes na região do Mediterrâneo.
(MARCELO STAROBINAS)



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