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Facto perdeu "c" na viagem ao Brasil
EM PORTUGAL
A língua portuguesa peninsular
pode causar estranhamento ao
brasileiro desavisado. Séculos de
separação entre Brasil e Portugal
proporcionam contraste em várias expressões cotidianas. As
brincadeiras são inevitáveis. Uma
delas conta que palavras como
"facto" ou "protecção" perderam
o "c" na travessia do Atlântico.
As surpresas começam logo no
desembarque. No bem localizado
aeroporto de Lisboa, a 30 minutos
do centro, o turista pode optar
por um autocarro (ônibus). Na cidade, as opções de transporte se
estendem ao comboio (trem) e ao
"eléctrico" (bonde), e as paradas e
estações são paragens. Se preferir,
o turista pode se deslocar como
um peão (pedestre).
Avisos em locais públicos podem surpreender um brasileiro
pelo excesso de formalismo ou
pelo uso de termos inusitados.
Por exemplo, no interior de um
trem, lê-se: "Esta carruagem é para si, estime-a".
Ontem, os portugueses comemoraram o Dia da Mãe, afinal,
pensam, mãe é uma só. Nesse caso, o brasileiro usa o plural, ao
contrário de 1º de abril, que é o
Dia da Mentira, enquanto o lusitano celebra o Dia das Mentiras.
A presença da telenovela brasileira insere expressões como
"tchau" no dia-a-dia de grandes
cidades como Lisboa e Porto, onde se ouve também "adeusinho".
Mas, por enquanto, celular ainda
é "telemóvel" para o português.
Um "que legal!" se transforma
em "ai que giro!", exclamado por
crianças e adolescentes, principalmente. Se tiver pressa, o jovem
português pode ordenar ao amigo: "despacha-te!", que funciona
como "anda logo!".
Em uma tasca, tipo de taberna
ou botequim, pode-se experimentar a ginjinha, uma aguardente local produzida à base de
uma fruta parecida com a cereja,
ao som de uma música pimba
(cafona, brega), ó pá (amigo).
Nos bairros mais antigos de Lisboa, vêem-se muitos miúdos
(crianças) brincando, pequenos
talhos (açougues) e varais nas fachadas das casas que expõem
peúgas (meias), cuecas (calcinhas) e gangas (calças jeans).
Falar brasileiro
A 10 km de Coimbra, em Condeixa-a-Nova, mora Ana, funcionária pública apaixonada pelo sotaque brasileiro. "O brasileiro fala
o português com açúcar."
Tão particular, esse modo de falar nem sempre é assimilado inteiramente por um português.
Dono de um café em Coimbra,
seu António "Brasileiro", como
alguns amigos o chamam, viveu
em Santos (SP) durante mais de
duas décadas e diz que jamais
perdeu o sotaque.
Apesar disso, anima-se quando
percebe que deixa escapar expressões do Brasil, de onde saiu há
mais de 15 anos. Conta com saudades histórias do tempo em que
morou em São Paulo. De suas
lembranças emergem os primeiros anos de casado e lances dos times de futebol do coração -Lusa, Vasco da Gama e Portuguesa
Santista-, que ainda hoje são assunto obrigatório ao telefone com
o primo que ficou no Brasil.
Moradora de Aveiro, a 240 km
de Lisboa, a estudante Marisa elogia o jeito de falar do brasileiro,
sua musicalidade e as telenovelas.
Estudante de violino e canto lírico, diz que seu nome é mais comum no Brasil que em Portugal.
Os amigos italianos Sara e Giorgio estudam letras com especialização em obras e escritores brasileiros em Milão. Em seu curso, Sara elegeu como objeto de estudo a
obra de Caetano Veloso. Giorgio
prefere Gilberto Gil.
Apaixonada pela língua portuguesa, Sara se interessa pela influência do negro na cultura brasileira, diz namorar um rapaz de
Olinda e revela que seu maior objetivo é morar em Salvador.
Já a portuguesa Xana, que mora
em Cabo Verde, diz gostar de
clássicos da MPB, de Roberto
Carlos e de "novidades" como
Chico César, Adriana Calcanhoto
e Mamonas Assassinas.
(JR)
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