São Paulo, segunda-feira, 15 de maio de 2000


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Facto perdeu "c" na viagem ao Brasil


EM PORTUGAL

A língua portuguesa peninsular pode causar estranhamento ao brasileiro desavisado. Séculos de separação entre Brasil e Portugal proporcionam contraste em várias expressões cotidianas. As brincadeiras são inevitáveis. Uma delas conta que palavras como "facto" ou "protecção" perderam o "c" na travessia do Atlântico.
As surpresas começam logo no desembarque. No bem localizado aeroporto de Lisboa, a 30 minutos do centro, o turista pode optar por um autocarro (ônibus). Na cidade, as opções de transporte se estendem ao comboio (trem) e ao "eléctrico" (bonde), e as paradas e estações são paragens. Se preferir, o turista pode se deslocar como um peão (pedestre).
Avisos em locais públicos podem surpreender um brasileiro pelo excesso de formalismo ou pelo uso de termos inusitados. Por exemplo, no interior de um trem, lê-se: "Esta carruagem é para si, estime-a".
Ontem, os portugueses comemoraram o Dia da Mãe, afinal, pensam, mãe é uma só. Nesse caso, o brasileiro usa o plural, ao contrário de 1º de abril, que é o Dia da Mentira, enquanto o lusitano celebra o Dia das Mentiras.
A presença da telenovela brasileira insere expressões como "tchau" no dia-a-dia de grandes cidades como Lisboa e Porto, onde se ouve também "adeusinho". Mas, por enquanto, celular ainda é "telemóvel" para o português.
Um "que legal!" se transforma em "ai que giro!", exclamado por crianças e adolescentes, principalmente. Se tiver pressa, o jovem português pode ordenar ao amigo: "despacha-te!", que funciona como "anda logo!".
Em uma tasca, tipo de taberna ou botequim, pode-se experimentar a ginjinha, uma aguardente local produzida à base de uma fruta parecida com a cereja, ao som de uma música pimba (cafona, brega), ó pá (amigo).
Nos bairros mais antigos de Lisboa, vêem-se muitos miúdos (crianças) brincando, pequenos talhos (açougues) e varais nas fachadas das casas que expõem peúgas (meias), cuecas (calcinhas) e gangas (calças jeans).

Falar brasileiro
A 10 km de Coimbra, em Condeixa-a-Nova, mora Ana, funcionária pública apaixonada pelo sotaque brasileiro. "O brasileiro fala o português com açúcar."
Tão particular, esse modo de falar nem sempre é assimilado inteiramente por um português. Dono de um café em Coimbra, seu António "Brasileiro", como alguns amigos o chamam, viveu em Santos (SP) durante mais de duas décadas e diz que jamais perdeu o sotaque.
Apesar disso, anima-se quando percebe que deixa escapar expressões do Brasil, de onde saiu há mais de 15 anos. Conta com saudades histórias do tempo em que morou em São Paulo. De suas lembranças emergem os primeiros anos de casado e lances dos times de futebol do coração -Lusa, Vasco da Gama e Portuguesa Santista-, que ainda hoje são assunto obrigatório ao telefone com o primo que ficou no Brasil.
Moradora de Aveiro, a 240 km de Lisboa, a estudante Marisa elogia o jeito de falar do brasileiro, sua musicalidade e as telenovelas. Estudante de violino e canto lírico, diz que seu nome é mais comum no Brasil que em Portugal.
Os amigos italianos Sara e Giorgio estudam letras com especialização em obras e escritores brasileiros em Milão. Em seu curso, Sara elegeu como objeto de estudo a obra de Caetano Veloso. Giorgio prefere Gilberto Gil.
Apaixonada pela língua portuguesa, Sara se interessa pela influência do negro na cultura brasileira, diz namorar um rapaz de Olinda e revela que seu maior objetivo é morar em Salvador.
Já a portuguesa Xana, que mora em Cabo Verde, diz gostar de clássicos da MPB, de Roberto Carlos e de "novidades" como Chico César, Adriana Calcanhoto e Mamonas Assassinas. (JR)


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