São Paulo, segunda-feira, 15 de maio de 2000


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PORTUGAL
Casas que apresentam a música típica portuguesa estão espalhadas por toda a Lisboa; estilo já foi marginalizado
Dor do fado deve ser respeitada em silêncio


EM PORTUGAL

É desrespeitoso falar durante uma apresentação de fado. Não porque essa música seja um símbolo português -como a tourada-, reconhecido em todo o mundo nem tampouco porque ela traduza a expressão da alma coletiva do português. Mas, sim, porque dar atenção ao fadista significa ouvir uma confissão, de lamentação e tristeza, cheia de emoção, uma poesia de dor.
Em Lisboa, as casas típicas de fado se concentram no Bairro Alto, em Alfama e na Mouraria, mas é possível ouvi-lo em várias partes da cidade, inclusive durante a refeição, quando se ouvem fadistas profissionais ou o "fado vadio": alguém que se levanta da mesa enquanto come e resolve cantar.
Sobre as origens do fado nada é conclusivo, se veio da África ou do Brasil em caravelas portuguesas, cantado por escravos ou marinheiros. Sabe-se, porém, que foi nas ruas de Lisboa que a música tomou forma, primeiro em botecos e tabernas, depois em cafés e restaurantes. O intérprete, homem ou mulher, é sempre acompanhado por uma viola e uma guitarra portuguesa.
A expressão vem do latim fatum (destino), sua crença como algo que nos subjuga e ao qual não podemos escapar, o domínio da alma e do coração sobre a razão, conduzindo a atos de paixão e desespero, traduzidos em um profundo -e belo- lamento.

Surgimento
O fado parece ter surgido primeiramente em Lisboa e no Porto. Depois foi levado para a universitária Coimbra pelos estudantes -nessa cidade, adquiriu características bem próprias.
As cantigas de amor da Idade Média, que eram cantadas por um homem para uma mulher, parecem ter parentesco com o fado de Coimbra, no qual os estudantes, usando capas pretas, entoam as suas canções debaixo da janela da mulher amada.
Da mesma época, as cantigas de sátira ou de escárnio e maldizer têm referência em críticas políticas e sociais presentes nos fados.
Estima-se que o fado tenha pelo menos 150 anos, período no qual já foi marginalizado e associado a desordeiros, mas esteve presente nas lutas políticas, da monarquia à república, entre socialistas e democratas e nas sátiras sociais.

Vida boêmia
Associado à vida boêmia, à "má vida", ao calor e ao vinho, o fado teve como primeiro grande nome Maria Severo (1810-1836), que imortalizou o bairro da Mouraria com o fado "Rua do Capelão".
Outros, como Alfredo Duarte (1891-1982), escreveram e cantaram obras, hoje clássicos do gênero. Amália Rodrigues (1921-1999) cantou e deu mais riqueza à canção de Lisboa, divulgando-a pelo mundo, e novas vozes como a de Dulce Pontes acrescentam novo fôlego ao fado.

Histórias fadistas
Criada para homenagear a canção de Lisboa, a Casa do Fado e da Guitarra Portuguesa abriga a história dessa expressão musical urbana. Recente, esse espaço está se expandindo e ganha mais evidência. A área em frente ao museu, localizado no histórico Alfama, é cada vez mais usada para shows.
O visitante percorre ambientes que utilizam recursos audiovisuais para retratar a história do fado, sua presença na vida social e política portuguesa e seus intérpretes. Exposições permanentes e temporárias, auditório e loja temática complementam o passeio.
A casa prepara novos espaços: núcleo museológico, centro de documentação e escola de guitarra portuguesa, além de um café e uma esplanada.

Casa do Fado e da Guitarra Portuguesa - Largo do Chafariz de Dentro, 1, tel. local (351) 1-882-3470. Aberta diariamente, exceto às terças, das 10h às 18h.


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