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10 ANOS SEM GUERRA CIVIL
História é resgatada na terra e no mar
especial para a Folha
A região da praça dos Mártires,
em Beirute, continua um deserto
aplainado, esperando as reconstruções.
Os arranha-céus esburacados
dos hotéis sofisticados, como o
Fenícia e o Holliday Inn, ainda esperam sua vez.
Em diversos outros distritos, até
hoje terrenos estão cobertos de
montanhas de escombros.
Especialmente na antiga Linha
Verde -a demarcação entre o rico bairro cristão no leste e as partes mais pobres no oeste muçulmano, que existiu durante a guerra civil-, no meio de edifícios reconstruídos, destacam-se ruínas
habitadas, como mostra a roupa
estendida para secar.
Certas regiões no nordeste e no
sul são consideradas inseguras e
vedadas ao turista.
Sempre há o perigo de escaramuças entre xiitas e israelenses,
na "zona de segurança", no sul
-faixa de 15 quilômetros de largura que acompanha a fronteira
entre o Líbano e Israel, cerca de
11% do território libanês.
No local, ocupado por Israel
desde 1978, atua uma milícia libanesa de 2.000 soldados financiada, armada e treinada pelo governo israelense -o ESL (Exército
do Sul do Líbano).
Israel criou a "zona" argumentando que precisa da região para
proteger as suas cidades do norte
contra ataques de inimigos islâmicos. E a prosperidade é uma
quimera. Faltam os petrodólares
do golfo Pérsico.
Os desempregados são oficialmente 18% - mas calcula-se que
a cifra esteja perto dos 30%.
E há o problema dos estrangeiros: 30 mil soldados sírios, 100 mil
trabalhadores itinerantes sírios
sem visto e 300 mil palestinos que
ainda vivem em campos de refugiados.
Israel quer paz nas suas fronteiras, e os sírios querem as colinas
de Golã de volta.
O Líbano quer a paz sem intervenções estrangeiras e a repatriação do exército sírio e dos trabalhadores itinerantes e palestinos.
Arqueologia
No terreno desimpedido do
centro de Beirute, 200 equipes de
arqueólogos e estagiários examinaram mais de cem sítios em cerca de 5.000 m2, dos quais importantes restos arquitetônicos serão
conservados e exibidos num
"passeio arqueológico".
Até agora foram identificados,
até seis metros abaixo do nível
atual da rua, estratos neolíticos,
canaanitas, persas, bizantinos e,
entre outras, construções helenistas e romanas, as muralhas da cidade fenícia e a dos fatímidas do
século 9º reutilizadas pelos cruzados. A cidade -a antiga Beritos- foi destruída inúmeras vezes, inclusive por terremotos.
Há muitas reclamações dos especialistas: que o tempo reservado para as escavações não era suficiente, que não se conservou tudo que foi encontrado -da muralha fenícia, por exemplo, serão
expostos só alguns trechos-, que
mosaicos bizantinos não foram
conservados no sítio, mas levados
ao museu etc.
Entretanto, o alto valor dos terrenos e o custo de tempo impuseram seus compromissos.
(FRED MADERSBACHER)
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