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COSTA CAPIXABA
Tombado pelo Iphan, processo de produção dos utensílios de barro antecede a chegada dos portugueses
Mãos moldam mesmas panelas há séculos
DO ENVIADO ESPECIAL AO ESPÍRITO SANTO
As mãos habilidosas de Dominga Correia da Vitória, 79, não se
cansam de moldar a cultura capixaba. Com pouco mais de dez
anos de idade, ela aprendeu com
os pais como escolher o barro e,
de forma artesanal, fazer panelas.
"Estudei pouco na vida, mas
aprendi esse trabalho, que muita
gente não consegue fazer", diz orgulhosa, com barro nos dedos.
Assim como Dominga, outras
300 artesãs dividem o galpão da
Associação das Paneleiras de
Goiabeiras, chamadas assim por
morarem no bairro das Goiabeiras, perto do centro de Vitória.
Aos poucos, o barro vai tomando forma, e, como num toque de
mágica, transforma-se em panelas, frigideiras, bules, travessas e
caldeirões. "Goiabas quase não
temos mais no bairro, mas a tradição das panelas não acaba tão cedo", diz a paneleira Evanilda Fernandes, 40, que produz até 50 panelas por dia. A tradição antecede
a colonização portuguesa e é passada de geração para geração há
mais de 500 anos. Por ter sofrido
poucas mudanças, a fabricação
das panelas foi tombada pelo
Iphan como patrimônio imaterial
em 2002, abrindo o livro dos Saberes, categoria de tombamento
desse tipo de patrimônio.
O galpão das paneleiras funciona como uma cooperativa. Cada
artesã produz e comercializa suas
peças. O local é um ponto de referência para o turismo, e o visitante pode acompanhar todo o processo artesanal.
Pela beleza e tradição utilitária,
é inevitável que o turista saia carregando alguns quilos a mais na
bagagem. As peças custam de R$
5 a R$ 20. Grande parte da produção é vendida por telefone e distribuída para todo o Brasil.
O trabalho, que já foi tipicamente feminino, conta hoje com a ajuda dos homens. Eles extraem a
principal matéria-prima, o barro,
do vale do Mulembá, no bairro de
Joana d'Arc, oeste de Vitória.
Também a eles é designada a tarefa de amassar a argila com os
pés, até tornar a massa uniforme.
Sem o auxílio de tornos, as paneleiras moldam o barro manualmente. Todas as peças têm um selo de qualidade, garantindo que o
barro seja levado ao fogo sem rachar.
(FABIO MARRA)
Associação das Paneleiras de Goiabeiras - R. das Paneleiras, 55; Goiabeiras
Velha; tel.: 0/xx/27/3327-0519; funciona
de segunda a sábado, das 7h às 19h.
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