São Paulo, segunda, 19 de outubro de 1998

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OÁSIS DE CONCRETO
Comércio internacional e de produtos típicos transforma metrópole em centro comercial da região
Mesquitas e ouro puro cintilam em Dubai

do enviado especial aos
Emirados Árabes Unidos


No local onde há pouco mais de três décadas só havia algumas poucas casas e um punhado de tendas beduínas, pulsa hoje uma das mais modernas cidades do mundo. Dubai é considerada a Hong Kong do Oriente Médio e a comparação não é em nada exagerada.
A metrópole é o principal centro comercial da região e tem a mesma mistura que fascina em Hong Kong: o antigo e o moderno em uma convivência impressionantemente pacífica.
Tudo acontece ao redor de um braço de mar que avança terra adentro por dez quilômetros e separa a cidade em duas.
Às margens desse "riozão" de água salgada, há largas e movimentadas avenidas, arranha-céus ultramodernos e também sofisticados shopping centers (a cidade tem mais de 20).
Mas quem quiser algo com mais "cor local" também vai encontrar belas mesquitas e curiosos mercados onde se aglomeram lojinhas de produtos como temperos, essências perfumadas, roupas, artesanato em latão e ouro, muito ouro.
Na água, barquinhos típicos (chamados de "abras") levam passageiros do lado sul da cidade (Bur Dubai) para a porção a norte do braço do mar, Deira.
As tradições e a história da cidade podem ser conhecidas com maior profundidade com uma visita ao museu de Dubai, que, apesar de montado dentro de um antigo forte no centro da cidade, é dotado de recursos multimídia de última geração.
Mas não é essa herança cultural o que mais atrai os turistas que vão a Dubai. A cada ano, cerca de 1,5 milhão de estrangeiros passam pela cidade -número equivalente a metade do total de turistas que o Brasil recebe do exterior anualmente. A maior parte desses visitantes está mesmo é interessada em fazer compras.
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Comércio Dubai, o segundo maior Emirado da nação, já está com suas reservas de petróleo praticamente esgotadas, mas isso não comprometeu sua prosperidade.
A cidade tem uma fortíssima vocação para o comércio. Nos séculos 18 e 19, era um conhecido entreposto de produtos como tâmaras e peixes. O porto ficava numa posição estratégica, bem no meio do caminho entre a África, a Índia e a Pérsia.
No início do século 20, tornou-se um dos principais centros de comércio de pérolas, ao lado de Bahrein. Tudo ia muito bem até que os japoneses começaram a fazer pérolas sintéticas.
A cidade sobreviveu graças ao seu forte comércio e à visão do xeque local, que, desde o início do século, isentou de taxas os comerciantes que traziam mercadorias de outros países.
Depois, para melhorar a situação, veio o ciclo do petróleo, a partir de meados dos anos 60. Foi nessa época que o governo passou a investir numa boa infra-estrutura de telecomunicações, portos, aeroportos e estradas.
A partir daí, começaram a se multiplicar em Dubai as lojas e os shopping centers que vendem artigos de todas as partes do mundo -tudo com preços muito atraentes por causa dos baixos impostos cobrados e da zona franca do porto de Jebel Ali, a poucos quilômetros da cidade.
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Babel do consumo Iranianos, paquistaneses, sauditas, iraquianos, africanos e gente de várias das ex-repúblicas soviéticas têm em Dubai o seu maior fornecedor de bens de todo tipo.
Em Dubai os empresários desse mercado que congrega fantásticos 2 bilhões de consumidores compram de tudo, de carros de luxo europeus a frangos brasileiros.
No final dos anos 80, o governo passou a "vender" a cidade não só como uma destinação para homens de negócio, mas também como uma capital do turismo de lazer, entretenimento e compras.
Para manter em alta a ocupação de seus mais de 250 hotéis e 100 flats, são feitas grandes promoções como o Dubai Summer Festival.
Durante o verão, quando a atividade econômica do país reduz seu ritmo, os hotéis e as lojas baixam seus preços para estimular o turismo interno e atrair gente dos países vizinhos.
A vida noturna da cidade é outra das principais atrações de Dubai. Lá vivem pessoas de mais de 200 nacionalidades, e há várias opções de restaurantes com especialidades tailandesas, japonesas, africanas, indianas e polinésias, além de árabes.
Essa "globalização" se verifica também nas danceterias e casas noturnas, com filiais de redes como Hard Rock Café e Planet Hollywood, além de bares temáticos de esporte, música regional e até mesmo country.
Para distrair as crianças do país -60% da população de Dubai tem menos de 16 anos- e do exterior, está sendo construído um parque temático da Disney, o Dubai's Little Disney, que deve ser inaugurado daqui a quatro anos.
Segundo Abdul Rahim Mohammed Abdulla, diretor do Departamento de Turismo de Dubai, a cidade já é uma das principais destinações de turistas europeus no Oriente, principalmente para alemães e suíços.
Para incrementar ainda mais as atrações turísticas da região, Abdulla revela que há ainda outros dois grandes empreendimentos em obras: um suntuoso resort, o Maho Park, está sendo construído no meio do deserto, e uma grande marina, a Emmar Marina, com mais shopping centers e hotéis, deverá ser inaugurada em meados da próxima década.
"Nosso povo é composto por beduínos do deserto e é esse modo de vida, a possibilidade de vivenciar essas experiências, que queremos oferecer àqueles que nos visitam", diz Abdulla.
(FRANCISCO MARTINS DA COSTA)



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