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FORTALEZA NAS LETRAS
Circuito na capital homenageia escritor, cujo primeiro livro teria sido queimado para acender charuto
Primeiro livro de José de Alencar virou pó
DA REPORTAGEM LOCAL
Queimado, página por página,
para acender charutos. Segundo
depoimento do próprio José de
Alencar, esse foi o destino de seu
primeiro livro, "Os Contrabandistas". O incendiário em questão
seria um dos amigos que frequentavam sua casa e que, provavelmente, desconhecia a expressão
"abusar da hospitalidade".
A versão não é comprovada.
"Muitos biógrafos duvidam da
ocorrência, atribuindo-a à tendência que o escritor sempre demonstrou a dramatizar excessivamente os fatos de sua vida", escreve o linguista Carlos Faraco em
anexo de uma das edições do livro
"Iracema", uma das principais
obras do autor cearense. Mas a
dúvida ficou.
Considerado um dos maiores
escritores do romantismo brasileiro, José de Alencar morreu em
1877, aos 48 anos, deixando como
legado quase 20 livros, além de
peças teatrais e obras jurídicas.
Em "Iracema", é narrado o
amor de uma virgem tabajara
com Martim, guerreiro europeu.
Desse encontro, nasce Moacir, o
primeiro mameluco da ficção
brasileira e cujo nome significa
"vindo da dor". Para o nome de
Iracema, há algumas interpretações. Para uns, significa romanticamente "lábios de mel", para outros, o termo tupi "eira cema",
quer dizer "saída do mel". Outros
ainda dizem que é um anagrama
da palavra América.
As aventuras da heroína ultrapassaram os limites da literatura
no Ceará. Em Fortaleza, um dos
principais circuitos culturais da
cidade está localizado no bairro
Praia de Iracema. Não muito longe dali, na praia do Mucuripe, local em que termina o livro, há
uma estátua de Iracema, Martim e
Moacir. A lagoa da Parangaba
ainda é conhecida como o local
em que a índia tomava banho, e o
Ceará, graças à descrição do autor
no livro, é até hoje o local dos
"verdes mares bravios".
A casa em que o autor nasceu,
no bairro de Messejana, em Fortaleza, é um importante ponto turístico da cidade. Lá, são mantidas
as ruínas de um antigo engenho,
considerado o primeiro do Ceará
a receber energia a vapor.
Teatro
A primeira fachada é austera,
em linhas neoclássicas. Basta passar a bilheteria e o café para se ver
dentro de um grande e colorido
jardim. Ou melhor, de um teatro-jardim. Assim é o teatro José de
Alencar, inaugurado em 1910, no
centro de Fortaleza.
O jardim propriamente dito só
foi concretizado anos depois, durante uma reforma realizada entre 1974 e 1975. Projetado pelo
paisagista Burle Marx, o jardim
possui oitis, jucás, macaúbas e
pau-brasil, entre outras. Ao fundo, domina o cenário uma trepadeira do tipo thumbergia, com
flores pequenas, de cor lilás.
Os bancos sombreados são um
convite a conversas e leituras. O
teatro possui um café e uma biblioteca com acervo voltado para
as artes, aberta ao público.
Dentro da sala de espetáculos,
há uma homenagem ao escritor.
José de Alencar é retratado ao lado de Peri, Lucíola, Iracema e outros personagens que criou, enquanto uma mulher que representa a fama o coroa com louros.
A imagem parece responder à
pergunta que José de Alencar formulou certa vez ao Visconde de
Taunay: "Você acha que chegarei
à posteridade?".
(AMARÍLIS LAGE)
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