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São Paulo, segunda-feira, 20 de janeiro de 2003

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FORTALEZA NAS LETRAS

Circuito na capital homenageia escritor, cujo primeiro livro teria sido queimado para acender charuto

Primeiro livro de José de Alencar virou pó

DA REPORTAGEM LOCAL

Queimado, página por página, para acender charutos. Segundo depoimento do próprio José de Alencar, esse foi o destino de seu primeiro livro, "Os Contrabandistas". O incendiário em questão seria um dos amigos que frequentavam sua casa e que, provavelmente, desconhecia a expressão "abusar da hospitalidade". A versão não é comprovada. "Muitos biógrafos duvidam da ocorrência, atribuindo-a à tendência que o escritor sempre demonstrou a dramatizar excessivamente os fatos de sua vida", escreve o linguista Carlos Faraco em anexo de uma das edições do livro "Iracema", uma das principais obras do autor cearense. Mas a dúvida ficou. Considerado um dos maiores escritores do romantismo brasileiro, José de Alencar morreu em 1877, aos 48 anos, deixando como legado quase 20 livros, além de peças teatrais e obras jurídicas. Em "Iracema", é narrado o amor de uma virgem tabajara com Martim, guerreiro europeu. Desse encontro, nasce Moacir, o primeiro mameluco da ficção brasileira e cujo nome significa "vindo da dor". Para o nome de Iracema, há algumas interpretações. Para uns, significa romanticamente "lábios de mel", para outros, o termo tupi "eira cema", quer dizer "saída do mel". Outros ainda dizem que é um anagrama da palavra América. As aventuras da heroína ultrapassaram os limites da literatura no Ceará. Em Fortaleza, um dos principais circuitos culturais da cidade está localizado no bairro Praia de Iracema. Não muito longe dali, na praia do Mucuripe, local em que termina o livro, há uma estátua de Iracema, Martim e Moacir. A lagoa da Parangaba ainda é conhecida como o local em que a índia tomava banho, e o Ceará, graças à descrição do autor no livro, é até hoje o local dos "verdes mares bravios". A casa em que o autor nasceu, no bairro de Messejana, em Fortaleza, é um importante ponto turístico da cidade. Lá, são mantidas as ruínas de um antigo engenho, considerado o primeiro do Ceará a receber energia a vapor.

Teatro
A primeira fachada é austera, em linhas neoclássicas. Basta passar a bilheteria e o café para se ver dentro de um grande e colorido jardim. Ou melhor, de um teatro-jardim. Assim é o teatro José de Alencar, inaugurado em 1910, no centro de Fortaleza. O jardim propriamente dito só foi concretizado anos depois, durante uma reforma realizada entre 1974 e 1975. Projetado pelo paisagista Burle Marx, o jardim possui oitis, jucás, macaúbas e pau-brasil, entre outras. Ao fundo, domina o cenário uma trepadeira do tipo thumbergia, com flores pequenas, de cor lilás. Os bancos sombreados são um convite a conversas e leituras. O teatro possui um café e uma biblioteca com acervo voltado para as artes, aberta ao público. Dentro da sala de espetáculos, há uma homenagem ao escritor. José de Alencar é retratado ao lado de Peri, Lucíola, Iracema e outros personagens que criou, enquanto uma mulher que representa a fama o coroa com louros. A imagem parece responder à pergunta que José de Alencar formulou certa vez ao Visconde de Taunay: "Você acha que chegarei à posteridade?". (AMARÍLIS LAGE)

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