São Paulo, segunda-feira, 21 de maio de 2001

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INTERIOR DE SP

Patrimônio histórico é constituído de terreiros, tulha e jardim projetado pela própria condessa do Pinhal

Local mostra etapas da produção do café

DA ENVIADA ESPECIAL A SÃO CARLOS (SP)

Com 12 fazendas de café herdadas pelo pai, Antônio Carlos de Arruda Botelho foi agraciado com o título de conde do Pinhal pelo imperador dom Pedro 2º em agradecimento ao seu empenho em trazer uma estrada de ferro no final do século 19 para a região de São Carlos, município à época chamado de São Carlos do Pinhal.
O feito tinha por objetivo escoar a produção dos seus cerca de 2 milhões de pés de café para o porto de Santos, a fim de exportá-la.
As construções ligadas à produção do café são bem conservadas na fazenda Pinhal e dão uma boa noção das etapas pelas quais os grãos passavam antes de deixar a propriedade agrícola.
O terreiro servia como uma espécie de purgatório para os grãos logo após a colheita: era nessas grandes plataformas de pedra que eles se secavam, adquirindo uma cor pretejada.
No meio dos terreiros, paredes circulares de cimento os amontoavam, cobertos por um plástico, para que não se molhassem na chuva e também para permitir a troca de calor entre os grãos.
Bem abaixo dos terreiros, a tulha abrigava a máquina de beneficiar café (separar os grãos de acordo com peso e características, além de descascá-los), que era, em seguida, armazenado.
A máquina não existe mais, porém o edifício da tulha ainda está de pé e assombra os visitantes que passam por lá, não só pela magnitude do edifício, mas também por causa dos sons emitidos a partir de um ninho de corujas dentro da tubulação que outrora transportava os grãos.
Também faz parte do conjunto histórico, tombado como patrimônio histórico, a senzala, que chegou a acomodar centenas de escravos no auge da fazenda.
Hoje adaptada para receber eventos, a construção, de meados da década de 1870, provavelmente já recebeu janelas -que ornam com a arquitetura local- no século 19, de acordo com o guia Francisco de Sá Neto.
O fato de a senzala ficar tão perto da sede, onde moravam os sinhozinhos, mostra quão próximos os patrões ficavam dos escravos, embora a distância social entre eles fosse tão bem definida.

Toque feminino
Segundo Sá Neto, a condessa do Pinhal se preocupava com a saúde dos escravos, realizando uma revista na senzala todas as manhãs para providenciar tratamento, quando necessário.
Além de colocar sua sensibilidade humanitária a serviço da mão-de-obra da fazenda, Carolina Mello Franco Oliveira, que se casou com o conde de Pinhal em 1863, deu também seu toque feminino ao jardim localizado na parte de trás da casa-grande.
O jardim tem espelhos-d'água atualmente ornamentados por carpas, mas que na época da condessa tinham como enfeite cisnes, aves cuja manutenção é muito cara hoje em dia.
De acordo com Sá Neto, a preocupação paisagística do jardim tem relação com a origem da condessa, alemã, já que as pessoas provenientes desse país consideravam importante a construção de espelhos-d'água, que tinham a função de embelezar e refrigerar o local nos dias quentes, além de balancear a umidade do ar.

(MARISTELA DO VALLE)



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