DA REPORTAGEM LOCAL

Quando o Memorial da América Latina foi construído, em 1989, Oscar Niemeyer pediu ao então governador Orestes Quércia que o painel "Tiradentes" (1948), de Cândido Portinari, que ficava no Palácio dos Bandeirantes, fosse para o memorial. Seis artistas foram convidados a apresentar projetos para um painel que substituiria o de Portinari no palácio.
Antonio Henrique Amaral, Valdir Sarubbi, Emanoel Araújo, Sérgio Ferro, Aguilar e Cláudio Tozzi apresentaram suas idéias. Uma comissão escolheu o projeto "São Paulo - Brasil: Criação, Expansão e Desenvolvimento", de Antonio Henrique Amaral. Os outros projetos podem ser conhecidos no saguão do palácio.
O painel tem dimensões nada modestas. São 4,5 metros de altura e 16 metros de comprimento.
Há outros murais de Amaral pela cidade, como o "Torsos/Renaissance" (1996), no hotel Renaissance, o "Bananas" (1970), na Sociedade Harmonia de Tênis, o "Floresta com Torsos" (1995), no Itaúsa, e o "Frutas/98" (1998), no hotel Porto do Sol.
No Rio, há o "Bambuzal-Rio" (1998), na estação Central do Brasil do metrô. Museus paulistanos e cariocas têm obras de Amaral em seus acervos. Muitas estão em países como México, EUA, Inglaterra, Suíça e Japão, além de diversos países da América Latina.
Na internet, entre no site www.ahamaral.com.br e na Enciclopédia de Artes Visuais do Itaú Cultural (www.itaucultural. org.br). À Folha, Amaral, primo distante da modernista Tarsila do Amaral (1886-1973), fala sobre o painel, sobre a cidade e sobre onde é possível ver obras suas.
(HELOISA LUPINACCI)

CONCEPÇÃO - O painel foi concebido tendo como centro a pequena igreja da fundação de São Paulo. Depois, as diversas etapas da expansão das fronteiras de nosso país, pela ação inacreditável dos bandeirantes, que, buscando ouro, esmeraldas e escravizando índios, fizeram a aventura de chegar até Manaus, no Norte, Lima e Peru, a oeste. Enfim, que avançaram mata adentro, a pé e de barco, e foram responsáveis pelas fronteiras que temos hoje. Por isso, há em "São Paulo - Brasil: Criação, Expansão e Desenvolvimento" as entradas, o ciclo da cana-de-açúcar e do café, a urbanização e depois a industrialização, com a poluição e o progresso industrial.

EXECUÇÃO - Como o painel era muito grande, tinha 4,5 metros de altura, ele ficava justo no meu estúdio. Eu tive que alugar andaimes de obra para colocar dentro do estúdio e fazer o painel.

LOCALIZAÇÃO - Com certeza a visibilidade e as dimensões do painel que está no Palácio dos Bandeirantes fazem dele a maior obra por mim executada. Fiz painéis de sete, oito metros. Porém esse, de 16 m por 4,5 m, é o maior deles. E sua localização é ímpar, o que muito me honra.

NASCIMENTO E RESIDÊNCIA - Atualmente moro em São Paulo, onde nasci, em 1935. Morei em Buenos Aires, por dois anos, e em Nova York, de 1972 até 1981.

SÃO PAULO, CIDADE E ESTADO - É o Estado mais importante da federação, e considero São Paulo a cidade mais interessante do Brasil, embora não a mais bonita. Só perde para o Rio, sem igual por sua beleza! A grandiosidade do painel reflete a grandiosidade e a pujança de São Paulo, acredito.

ONDE VER - [Para conhecer a minha obra sugiro] Uma visita aos museus de diversas cidades e países, a algumas galerias ou ao meu estúdio. Noventa por cento do trabalho dos artistas brasileiros está em coleções particulares, pois o Estado não adquire nem forma coleções compreensivas de seus artistas. O público desconhece quase que completamente a obra dos artistas brasileiros. Somos, infelizmente, muito subalternos culturalmente: tudo o que vem de fora, tudo o que é estrangeiro, é considerado sempre muito mais importante do que o que fazemos aqui. Mas isso é outra conversa.

Texto Anterior: Visita oficial: Guia quebra sisudez da sede do governo
Próximo Texto: Agora, Barra emerge como destino turístico
Índice