São Paulo, quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

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São Nicolau fez fama por se desfazer de riqueza

Velhinho-propaganda do século 20 surgiu de santo que até hoje é popular em países como Holanda

DA REDAÇÃO

Tudo converge para uma figura real, são Nicolau de Mira, santo do século 4º igualmente idolatrado por católicos romanos e por cristãos ortodoxos. Reza a tradição que esse religioso tinha o hábito de se desfazer de sua riqueza dando presentes anonimamente no meio da noite -e que, assim, teria originado e personificado o próprio Papai Noel.
Em sua iconografia, no entanto, nada sugere que esse personagem, depois canonizado, vestisse o hábito vermelho e pesado mais adequado para habitantes do pólo Norte do que para ser envergado nos lugares em que, possivelmente, nasceu e viveu são Nicolau de Mira -territórios que, hoje, pertencem à Turquia.
Uma relíquia desse santo que aproxima católicos de ortodoxos está na guardada igreja de linhas românicas alusiva a ele em Bari, capital da Puglia, no sul da Itália (leia mais ao lado).

De hábitos e monges
A lenda diz que Nicolau jogava moedas de ouro para dentro da janela de um pobre homem que tinha três filhas. Uma versão conta que, misteriosamente, surgiram três sacos de dinheiro em noites consecutivas para que o pai das meninas pudesse pagar o dote e casá-las.
Alguns dizem que as moedas eram atiradas chaminé abaixo, e outros, que eram deixadas em meias penduradas na lareira para secar -essa última, uma tradição que continuou.
As congregações religiosas grega e ortodoxa do Leste são particularmente devotas a esse santo que dava presentes. Há igrejas ortodoxas com seu nome e um ícone de são Nicolau é quase sempre encontrado nelas -o que denota a sua grande popularidade.
Isso porque Nicolau, segundo consta, nasceu na Ásia Menor, na cidade de Patara, hoje costa sul da Turquia, mas grega à época. Sua popularidade, por isso, é evidente entre os gregos.
São Nicolau ficou conhecido por sua generosidade em relação aos necessitados, seu amor às crianças e o cuidado com marinheiros e navios.
Morreu no dia 6 de dezembro de 343, em Mira (onde se tornou bispo, ainda jovem), e foi enterrado na catedral do lugar, que hoje é Demre, na Turquia. Ali repousa em uma relíquia.

Santo presente
Um dos santos mais populares nos primeiros dez séculos da igreja, são Nicolau também ganhou reputação por defender prisioneiros falsamente acusados, na maioria das vezes impedindo que fossem executados. Foi assim que se tornou o santo patrono dos prisioneiros.
Ao longo dos séculos, em várias culturas cristãs, a fama de Nicolau se confundiu com a celebração do Natal. Em muitos lugares, incluindo a Holanda, o dia de festa é 6 de dezembro, e a ocasião é mais popular que o próprio Natal na distribuição de presentes.
Mas, quando imigrantes europeus chegaram à América, são Nicolau acabou se americanizando, ganhando a fachada natalina que conhecemos hoje.
Já na segunda metade do século 19 está bem ocidentalizado, inspirando revistas, charges e livros ilustrados nos Estados Unidos. Também motivou, na época, o poema "Uma visita de São Nicolau", que ficou conhecido como "A noite antes do Natal" e se tornou popular.
E então ganha o nome Santa Claus (Papai Noel, em inglês), que veio de "Sinterklaas", como os holandeses chamam são Nicolau, e a partir dos anos 1930 serve à publicidade para vender uma infinidade de produtos, como pasta de dente Colgate, refrigerante Coca-Cola etc.
A publicidade encampou de vez a imagem do velhinho. São Nicolau passou a vender também Michelin, fabricante de pneus, Texaco, empresa petrolífera, e até mesmo marcas de bebida, como a Martini, e de cigarro, caso de Camel, Lucky Strike e Murad. Todas associaram suas imagens à do redondo e risonho velhinho de longas barbas brancas.
As propagandas da Coca-Cola começam em 1931, e são provavelmente as maiores responsáveis em consagrar a figura bonachona e bem-humorada, de roupas vermelhas folgadas e gorro. A partir de então o refrigerante lançaria uma nova campanha com Santa Claus a cada temporada.
Até por isso claro, há quem não goste desse Papai Noel de reclame. Hugo Chávez, o polêmico presidente venezuelano, baniu sua figura das repartições públicas do seu país, por considerar sua imagem muito identificada com os Estados Unidos. (MARGARETE MAGALHÃES, THIAGO MOMM e SILVIO CIOFFI)


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