São Paulo, Segunda-feira, 22 de Fevereiro de 1999
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ESPANHA
Herança das duas raízes pode ser notada em manifestações como danças flamencas, castanholas e palácios
Granada mescla culturas
árabe e cristã

Ricardo Grinbaum/Folha Imagem
Vista de Granada a partir de Alhambra, uma cidadela árabe onde moravam o sultão, sua família e uma população de até 40 mil empregados


do enviado especial à Espanha

Granada é uma esquina da história onde o mundo cristão se encontrou com o árabe e deixou suas marcas numa cultura original.
Essa mistura única ainda sobrevive e marca a Espanha da música flamenca, das castanholas, dos palácios e dos jardins árabes.
O rapaz que canta o flamenco com os amigos numa praça do velho bairro árabe Albaicín não faz graça para turistas. Ele é herdeiro distante dos poetas árabes de Granada. Se o jovem termina o canto aos gritos de "olé" ou "ojalá", há oito séculos os poetas diziam "wallah" (oh Deus) e "aj-allah" (se Deus quiser).
Em Granada, não há como fugir da lembrança de Al-Andalus, como os árabes chamavam a Espanha nos 800 anos de ocupação.
No alto de uma montanha, fica a gigantesca Alhambra, uma cidadela árabe, onde moravam o sultão, sua família e uma população de até 40 mil empregados. Na colina em frente espalha-se o bairro de Albaicín, de casas pintadas de branco em ruas estreitas e tortas.
Vale a pena andar pelas ladeiras e ver as "cármenes", as mansões com belos pátios e os jardins internos. A fachada das casas é decorada com vasos floridos e pratos brancos pintados com desenhos azuis. O escritor Federico García Lorca, que nasceu na Província de Granada, dizia que as "cármenes" expressam a alma da cidade.
Ainda no Albaicín, o Mirador San Nicolás tem uma vista privilegiada de Alhambra e, ao fundo, da Sierra Nevada. Todos os dias, moradores do bairro e turistas se reúnem ali para ver o pôr-do-sol.
No bairro Sacromonte ficam as "cuevas" (cavernas) ocupadas pelos ciganos desde o século 18. Ali pode-se ver os ciganos cantando e dançando o flamenco, sem preocupação com os turistas.
Última cidade árabe a cair, em 1492, Granada guarda a memória da reconquista católica. Na Capela Real, de 1521, estão enterrados os reis Fernando 3º e Isabel, que expulsaram os árabes da Espanha.
Após a reconquista, Granada se tornou uma das cidades mais importantes do país. A prosperidade está refletida na imponência da catedral, ao lado da Capela Real, em estilo gótico e renascentista.
Nas ruas Gran Vía de Colón e Reyes Católicos pode-se ter uma idéia da vida hoje em Granada, com seus 300 mil habitantes, boa parte estudantes universitários vindos de toda a Espanha. (RICARDO GRINBAUM)


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