São Paulo, Segunda-feira, 22 de Fevereiro de 1999
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Alhambra revela o paraíso
dos muçulmanos

do enviado especial

O paraíso, segundo o Corão, é um jardim à sombra, com muitas plantas, refrescado por água corrente, onde os "afortunados" podem descansar. Pode-se ter uma visão da imagem do paraíso muçulmano numa visita a Alhambra, cidadela árabe em Granada.
Alhambra começou a ser construída no século 9º, como um "alcazar" (castelo). Ao longo dos séculos 13 e 14 foi ampliada com um conjunto de palácios e de jardins.
Cada pedaço de Alhambra foi concebido para agradar aos sentidos. Espelhos d'água foram planejados para refletir a imagem dos palácios. As fontes e os canais d'água refrescavam o ambiente, como o paraíso descrito no Corão, e produziam um som relaxante (hoje impossível de ser percebido em meio à balbúrdia dos turistas).
Cada centímetro dos enormes palácios é decorado com motivos geométricos e inscrições em caligrafia árabe, a maioria retirada do Corão ou em louvor a Alá.
No seu auge, Alhambra chegou a abrigar 40 mil pessoas, entre elas o sultão, suas concubinas, a corte e um exército de empregados, que vivia numa cidade dentro das muralhas. Dali, a dinastia Násdir comandou o último reino mouro a resistir à reconquista dos reis católicos. Em 1492, o sultão Boabdil se rendeu aos inimigos cristãos.
Em Granada, não há guia turístico que deixe de repetir a lendária frase da mãe de Boabdil: "Você chora como mulher o que você não soube defender como homem".
Hoje, Alhambra é o monumento mais visitado da Espanha. Quem visita o lugar pode ver o melhor exemplo de arte mourisca na Europa e ter uma idéia de como era a vida dos mouros, ou pelo menos, dos sultões em território espanhol.
Alhambra é separada em três partes: a fortaleza ("alcazar"), os palácios da casa real e os jardins do Generalife, residência de verão onde os sultões descansavam das intrigas da corte. Os banhos reais tinham três fontes de água: quente, fria e perfumada. Havia vidros para filtrar a luz e dar ao vapor a cor desejada pela família do sultão.
Ao andar alguns metros, o visitante estará diante de um novo ciclo histórico. Depois de tomar a cidadela, em 1492, os reis católicos Fernando e Isabel fizeram uma reforma numa das alas dos palácios. Em contraste à opulência e à delicadeza da arquitetura e da decoração mourisca, a ala dos reis católicos é despojada.
Mais à frente, o visitante se depara com um novo salto histórico. Construído pelo neto de Fernando e Isabel, o palácio de Carlos 5º é um exemplo grandioso da arquitetura renascentista.
Uma visita a Alhambra faz perder o fôlego porque as atrações se sucedem. Ao norte dos palácios, o jardim do Generalife servia como refúgio de verão aos monarcas mouros.
Os jardins foram muito modificados ao longo dos séculos e não guardam a forma original. Mas a combinação de fontes, piscinas e vegetação explica por que uma das traduções possíveis para o termo "generalife" é "jardim do paraíso elevado". (RG)


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