São Paulo, Segunda-feira, 22 de Fevereiro de 1999
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ESPANHA
Construção de estação ferroviária revela restos anteriores a Cristo em Córdoba, que teve seu apogeu no séc. 10º
Obras desmascaram ruínas romanas

Almodova, em Córdoba, cidade da Andaluzia que viveu seus 300 anos de prosperidade mais ou menos no século 10º do enviado especial à Espanha

Ao fazer as escavações para a construção da nova estação ferroviária de Córdoba, em 1992, os operários encontraram ruínas dos tempos da ocupação romana, iniciada no ano de 169 a.C.
Córdoba é uma cidade onde as marcas da história estão presentes em cada esquina. Não é uma história qualquer. Córdoba foi durante 300 anos a capital árabe no Ocidente, cidade mais desenvolvida da Europa medieval.
No século 10º, auge do poderio de Córdoba, a cidade tinha 100 mil habitantes, centenas de mesquitas, bibliotecas, observatórios e uma universidade.
As casas eram construídas à moda árabe, com pátios, jardins e fontes. Havia centenas de banhos públicos e um aqueduto que abastecia de água a cidade.
Nos mercados mouros falava-se várias línguas: o bérber, das tribos do norte da África, o árabe, o hebraico e o romance, uma derivação do latim que viria a se tornar o atual espanhol.
Árabes, judeus e cristãos conviviam pacificamente. Surgiram filósofos, como o árabe Averroes, e médicos importantes, como Maimônides, da comunidade judaica.
Córdoba era famosa em toda a Europa pela qualidade de seus artigos em couro e em metal, pela fiação de seda e pelos azulejos, até hoje uma marca da cidade.
Quem anda hoje em dia pelo "casco viejo", a parte antiga e preservada de Córdoba, não tem dificuldade em imaginar como era a vida no antigo califado.
A grande mesquita de Córdoba, segunda mais importante do antigo mundo muçulmano, ainda está de pé. Ao seu redor, espalham-se os bairros mouro e dos judeus (Judería), com ruas muito estreitas e tortas, construídas ao acaso, sem planejamento.
Uma ponte erguida pelos romanos, sobre o rio Guadalquivir, liga a cidade antiga à torre da Calahorra, levantada no século 14.
Nos arredores da cidade ficam os restos da Medina Azahara, "a cidade da flor". O local está em ruínas. Mas antes de ser destruída por tribos bérberes, em 1010, era um palácio imponente.
Construído por Abd al Rahman 3º em homenagem à sua esposa predileta, a obra empregou 10 mil homens e materiais importados até do norte da África.
O palácio tinha 400 quartos em marfim, cedro e ônix, decorados com pérolas e peças de ouro. Para servir ao califa, havia milhares de empregados, músicos e um harém de 6.300 mulheres.
A opulência de Córdoba durou 300 anos. Começou em 711, quando os mouros do norte da África invadiram Córdoba. A princípio, Córdoba ficou subordinada ao califado de Damasco, mas em 765 Abd al Rahman 1º proclamou-se emir independente.
Como sede de um califado, Córdoba prosperou. Mas no princípio do século 11, em meio a uma guerra civil, a cidade foi invadida e saqueada por tribos bérberes. Em 1236, o rei cristão Fernando 3º reconquistou Córdoba, que hibernou como cidade provinciana até o século passado.


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