São Paulo, Segunda-feira, 22 de Março de 1999
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LINHA CRUZADA
Maior cidade do país tem encanto insuspeito
Garimpeiros acham o ouro de Guaiaquil

da enviada especial ao Equador

Ela é a cidade mais populosa do país, com quase 2 milhões de habitantes -Quito congrega apenas cerca de 1, 4 milhão de almas- e tem o porto mais importante do Equador. Mas, sustentam os equatorianos, nesse caso tamanho definitivamente não é documento.
Com fama de perigosa, maltratada e manca de características intrínsecas, Guaiaquil é considerada a menos turística das cidades equatorianas.
Como se vê, trata-se de um desafio e tanto para aqueles com espírito de Indiana Jones, dispostos a garimpar tesouros imersos no aparente caos.
Antes de tudo, é bom saber que para quem mora em São Paulo, no Rio ou em outras capitais brasileiras a violência de Guaiaquil não chega a assustar. Como aqui, é só tomar um certo cuidado e não dar pinta de turista para evitar assaltos.
Devidamente precavido, saia às ruas com ganas de desbravador. Sua recompensa pode ser um rico museu arqueológico, como o do banco do Pacífico, ou a arquitetura das igrejas da região do Malecón, à beira do rio Guaya. Você pode visitar tudo isso a pé.
Como um bom explorador, comece pelas relíquias expostas no Museo Arqueológico del Banco del Pacífico (praça de Icaza, 113). O acervo, muito bem cuidado, é composto de artefatos da cultura equatoriana datados desde 3.000 a.C. até o século 16. São cerâmicas, máscaras, estatuetas, ferramentas.
Também no centro, não deixe de visitar a catedral, construída em 1547 e refeita em 1978. Ela fica em frente ao parque Simon Bolívar. Vá de preferência em um domingo de manhã, quando todas as igrejas estão lotadas.

Fé, suor e pobreza
A multidão acomoda-se nos bancos de madeira e aguarda a missa, longuíssima (leva mais de uma hora), começar. Depois que o padre deixa o altar, os fiéis, gente simples, ainda continuam na igreja, rezando como quem canta um lamento.
Você consegue imaginar, de imediato, quais são os pedidos: dinheiro para comprar uma casinha, remédios para os doentes, escola para os filhos. Ou seja, o básico, que insiste em faltar.
À porta, um ou dois mendigos pedem esmola. Nada comparável à miséria dos grandes centros urbanos brasileiros.

Domingo no parque
No parque Simon Bolívar, as famílias, muitas com crianças, tomam sorvete e vêem a vida passar. Iguanas flanam pelo jardim.
Perto dali, a igreja La Merced ostenta um altar barroco com folhas de ouro. O prédio original é de 1787, mas, como muitos outros, pereceu em um dos incêndios que devastaram a cidade e foi reconstruído em 1938.
Para terminar o passeio guardando na boca um gosto de Sol (e vitória), faça como os equatorianos: tome um picolé artesanal. Com leite e em formato de cone, tem sabor suave e parece querer lhe dar as boas-vindas. (CARLA ARANHA)


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