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É VERÃO
Ingredientes trazidos do mar Mediterrâneo e dos campos ao redor de Roma são a alma da gastronomia local
Comer bem é o maior pecado da capital
do enviado especial à Itália
Pouco importa se você come
num "ristorante" elegante, na
"trattoria", mais familiar, ou
num bar anônimo, desses que servem sanduíches como o "panino" e o "tramezzino": em Roma,
todos os caminhos levam a experiências gastronômicas.
Até na prisão Regina Coeli, diz
um ditado, "si mangia bene!". E
os ingredientes, vindos do mar
Mediterrâneo ou dos campos ao
redor da capital, o azeite de olivas
quase bíblico e o toicinho ("pancetta") são alguns dos segredos da
"cucina romanesca".
Alquimias como a "battuta", o
macerado de toicinho e temperos,
estão na alma de muitos dos pratos populares dessa cozinha, que
abusa ainda dos miúdos e das vísceras -partes desprezadas pela
elite quando a nobreza e o clero
governavam Roma.
A Cidade Eterna é, também, tão
famosa pelas comidas quanto pela
qualidade da água de suas fontes
ancestrais -e isso para não falar
nos vinhos da região do Lácio.
Admirando uma praça -por
exemplo, a Piazza Navona, a das
fontes esculpidas por Giovanni
Lorenzo Bernini (1598-1680)- o
bom é brindar o verão com o frascati "Fontana Candida", ou com
outro vinho branco produzido a
partir das uvas do tipo trebbiano.
Mas, para escapar dos restaurantes essencialmente turísticos
ao redor dessas praças, convém
percorrer os caminhos que, em
Roma, levam à boa mesa.
O barato da "Tavola calda"
A "tavola calda" é, na Itália, um
lugar para comer bem por um punhado de liras.
Quem inicia sua jornada querendo, além de não perder tempo,
gastar pouco, pode experimentar
uma que se chama Capo Le Case.
Essa portinha nas cercanias da
Piazza di Spagna, é uma "tavola
calda" tão familiar que tem atrás
do balcão dois cunhados -Carlo,
salvo engano, é o do bigodão- e a
mulher de um deles, irmã do outro, fica atrás do caixa.
Na entrada da Capo Le Case, o
balcão frigorífico acomoda peças
imensas de mortadela com pistache, presuntos e embutidos de todos os tipos, além de queijos como
o branco cremoso "Bel Paese".
A mágica acontece quando se
ordena um "panino", com umas
tantas fatias disso e daquilo, rodelas de tomate, tudo num pão roseta crocante e com o "mangiare!".
Para acompanhar, um "quartino" (250 ml) de vinho ou um suco, se bem que sempre dá para escolher entre uma das águas naturalmente gasosas, como a Ferrarele, de sabor forte, ou beber a Acqua Panna, cremosa e sem gás.
Sentando numa das mesas ao
fundo, o ideal é comer um "primo
piatto" do dia: em geral um espaguete "alla carbonara", com bacon e ovos, ou uma massa com
mariscos na casca ("cozze").
Se a fome for maior, o "secondo" tradicional é a "saltimbocca
alla romana", escalopinho com
sálvia e presunto de Parma.
O "ristorante" é o limite
Já mais caros (cerca de US$ 35
por pessoa, com vinho da casa),
dois restaurantes bem romanos
que valem a viagem são o Colline
Emiliane e o Da Giggetto.
No cardápio do Colline, "ristorante" bolonhês que ao longo dos
anos só fez melhorar, inclusive na
ambientação, o "giambonetto"
de vitela é a peça de resistência.
O prato, um "secondo", é um
cozido macio de vitela ao leite e
vem acompanhado de purê.
O vinho tinto da casa é encorpado, ótimo para acompanhar uma
massa "al ragù" ou um assado.
Como o salão é pequeno -e o
restaurante fecha muito-, convém fazer reserva ("prenotare")
pelo tel. local (05) 48-17538.
O Colline Emilliane fica escondido numa ruela ao lado da Piazza
Barberini, perto do túnel, na Via
Degli Avignonesi, 22.
Um pouco mais caro, o restaurante Da Giggetto, quase xará da
velha cantina paulistana, fica ao
lado das ruínas do Portico d'Otávia e próximo da sinagoga, não
longe do rio Tibre.
Também convém fazer reservas
pelo tel. local (06) 68-61105 para
não perder a chance de ir a esse
"ristorante" que , desde 1923,
serve comida judaico-romana.
Faça a extravagância de pedir de
entrada " fiori di zucchina ripieni", flores de abobrinha envoltas
na mais fina farinha de trigo e fritas, tendo como recheio um pouco
de mozarela e aliche.
Isso ou os brotos fritos de alcachofra ("carciofi alla giudìa"),
que se come com folha e tudo.
Os cogumelos ("funghi") também são preparados de muitas
formas. Já os filés de bacalhau
("baccalà") crocantes são o "secondo piatto" mais pedido.
Mas o Da Giggetto também é
pródigo em pratos substanciosos,
como "ossobucco" e rabada
("coda alla vaccinara").
A lista não tem limites
Ainda no centro do gueto, vale ir
ao Piperno, na Via Monte de'Cenci, 9 (tel. local 6880-6629) e ao Al
Pompiere, na via Santa Maria de
Calderari, 38 (tel. local
6868-8377), locais que servem a
ancestral comida de Roma -incluindo o cordeiro. Ou ao Al Pompiere, semelhante ao Da Giggetto,
que fica no primeiro andar do Palazzo Cenzi-Bolognetti, prédio do
século 16 decorado com afrescos.
(
SILVIO CIOFFI)
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