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"Fiz da poesia um sofá de analista"
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Drummond viveu a maior parte de sua vida no Rio. Vindo de
uma família de fazendeiros em
decadência, morava em uma casa
no centro de Itabira e passava as
férias na fazenda dos Doze Vinténs, ou do Pontal, a 12 km do
centro da cidade.
Cursou parte do ginásio em Belo Horizonte e outra parte em Nova Friburgo (RJ), no colégio Anchieta, de jesuítas, de onde foi expulso por "insubordinação mental". De volta a Belo Horizonte,
iniciou a carreira de escritor no
"Diário de Minas", que reunia
adeptos do modernismo mineiro.
Com a insistência familiar por
um diploma, formou-se em farmácia em Belo Horizonte em
1925. Fundou com outros escritores "A Revista", que durou poucos meses, mas foi importante
veículo de afirmação do movimento modernista em Minas.
Drummond ingressou no serviço
público e, em 1934, transferiu-se
para o Rio, onde foi chefe de gabinete do então ministro da Educação, Gustavo Capanema, até 1945.
Passou depois a trabalhar no
Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional até se aposentar, em 1962. Desde 1954, colaborava como cronista no "Correio
da Manhã" e, a partir de 1969, no
"Jornal do Brasil".
Drummond pertenceu à segunda geração modernista brasileira.
"Sua poesia se estende desde 1930
até os anos 80, sendo ele um poeta
típico do século 20", diz o poeta e
crítico literário Regis Bonvicino,
47. Segundo ele, a poesia de
Drummond é muito variada e
procura abordar temas sobre a reflexão do ser, as questões brasileiras, o dia-a-dia. O poeta escreveu
muito sobre Minas, a banalidade
do cotidiano, a família e o destino.
Vários de seus poemas eram regados de indagações filosóficas.
"Minha motivação foi esta: tentar
resolver, através de versos, problemas existenciais internos. São
problemas de angústia, incompetência e inadaptação ao mundo",
dizia o poeta.
Drummond lançou seu primeiro livro, "Alguma Poesia", em
1930, com 500 exemplares. Um
dos poemas anunciava o espírito
do poeta: "Quando nasci, um anjo
torto / Desses que vivem na sombra / Disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida."
Em 1934, publicou "Brejo das
Almas", com 200 exemplares. Em
1940, foi a vez de "O Sentimento
do Mundo", com 150 exemplares.
A partir daí, Drummond começou a ser reconhecido como o
maior poeta nacional.
Em suas poesias, Drummond
trabalha com o tempo, na sua tradução subjetiva do cotidiano. Várias obras do poeta foram traduzidas para outras línguas. Foi seguramente, por muitas décadas, o
poeta mais influente da literatura
brasileira, tendo publicado diversos livros em prosa.
Ele também traduziu vários autores estrangeiros para o português, como Honoré de Balzac,
García Lorca e Molière.
Durante toda a vida, Drummond fez questão de não aceitar
muitas homenagens e badalações.
Nunca aceitou, por exemplo, ingressar na Academia Brasileira de
Letras. "Nunca nenhum destino
ficou dependendo da minha vida
ou do meu comportamento ou da
minha atitude. Eu me considero e
sou realmente um homem comum", disse pouco antes de sua
morte por insuficiência respiratória, em 17 de agosto de 1987, 12
dias depois de ter perdido sua
única filha, Maria Julieta.
Uma semana antes de morrer,
ele disse em uma entrevista que tinha sido poeta pela necessidade
de exprimir sensações e emoções
que pertubavam seu espírito e
causavam angústia: "Fiz da minha poesia um sofá de analista".
Seus últimos 40 poemas estavam
reunidos em uma pasta com o título "Farewell", lançado em 1996.
E ele deixou, de Itabira para o
mundo, uma história de um homem de ferro com alma de ouro,
segundo ele mesmo, com uma infância itabirana mais bonita que a
de Robinson Crusoé.
(MD)
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