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MENTES DE MINAS
Cidade mantém clima boêmio da época do presidente centenário, cujo aniversário virou data de festa
Diamantina dedica Dia da Seresta a JK
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Não havia noite banhada pela
luz do luar em que o presidente
Juscelino Kubitschek de Oliveira
não se rendesse à seresta nas ruas
íngremes, pequenas e estreitas de
sua terra natal, Diamantina, a cerca de 290 km de Belo Horizonte.
Apesar de ter deixado a cidade
aos 18 anos, JK visitava frequentemente a região (leia texto abaixo).
Um dos lugares preferidos para
suas serestas era o beco do Mota,
que até hoje reúne vários botecos,
nos quais as pessoas ficam horas
sentadas tomando cerveja e conversando -algumas ainda investem nas cantorias.
O espírito seresteiro de JK era
tão forte que desde a sua morte,
num acidente de carro em 1976, o
Dia da Seresta ficou imortalizado
em Diamantina em 12 de setembro, aniversário do filho ilustre.
"Mesmo quando ele era presidente, em Brasília, sempre havia
um seresteiro que o acompanhava", afirma Juscelino Brasiliano
Roque, 42, presidente da Associação Comercial e Industrial de Diamantina. Seu avô era amigo íntimo de JK e por isso seu primeiro
nome é Juscelino, como muitos
em Diamantina, e o seu segundo
nome é Brasiliano, em referência
a Brasília, porque nasceu no mesmo dia da inauguração da cidade.
Neste ano, JK completaria cem
anos, e a cidade prepara uma série
de atividades para a data. Uma expedição, batizada de Expedição
Brasília Diamantina, com 20 cavaleiros, amigos de JK, sairá de
Brasília em 22 de agosto, dia da
morte do presidente, rumo a Diamantina, onde deverá chegar em
12 de setembro, para comemorar
o centenário.
Se estivesse vivo, JK não hesitaria em celebrar a data com muita
festa, garantem os amigos. O que
ele não dispensava era uma sesta
de "reparo", a qualquer hora que
lhe batia o cansaço, só para depois
poder continuar a festa.
"Mesmo durante as serestas,
Juscelino saía de fininho, dava
uma dormidinha de dez minutos
e voltava novo", diz o empresário
Leandro Costa, 71, que hospedava
JK em sua casa quando ele visitava Diamantina. Juscelino tinha
seu próprio quarto na casa de
Costa. "Ele me dizia que, para
acompanhar as serestas, precisava ter muito fôlego", conta.
JK puxou o pai e descrevia sua
filiação assim: "Ela [a mãe", a discrição em pessoa, escrava do dever, adversária de festas, frequentava tão-somente a igreja e as casas dos parentes próximos; ele, o
mão-aberta, o gênio expansivo, o
rei da noite e das serenatas".
A boemia, entretanto, não foi
somente privilégio dos contemporâneos de JK. O clima aconchegante -embora com noites que
exigem agasalhos mesmo no verão- e romântico de Diamantina
proporciona o "carpe diem" ainda nos dias de hoje.
A cidade, que em 1999 conquistou o título de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural da Humanidade pela Unesco, continua
tendo as serestas como grandes
atrativos. Apesar de não haver
tantos grupos espontâneos quanto na época de JK tocando e cantando suas modinhas debaixo das
janelas de suas amadas, há serestas programadas pela prefeitura
que acontecem quase todas as
sextas-feiras à noite.
Desde 1997, uma nova fórmula
de apresentação musical ocupa as
ruas de Diamantina mensalmente: a vesperata. O espetáculo é inspirado no grupo Anjos da Meia-Noite, que se apresentou na cidade até o início do século passado.
Àquela época, a banda era dividida e os instrumentos de sopro ficavam nas sacadas, enquanto os
demais permaneciam nas ruas.
A vesperata mantém a tradição
e tem a rua da Quitanda, no centro histórico, como palco das
apresentações. A Banda de Música do Terceiro Batalhão da Polícia
Militar e a Banda Mirim Prefeito
Antônio de Carvalho Cruz tocam
a partir das sacadas e das janelas
dos casarios. Os maestros regem
do centro da rua, misturando-se
com a platéia.
No centro histórico, as casas em
estilo colonial hospedam restaurantes requintados e alguns com
comidas simples feitas no fogão à
lenha, mas com delicadeza.
Nas noites em que a cidade não
recebe eventos, os bares e os restaurantes são fechados antes das
23h. Nos dias de serenata e badalação, durante o festival de inverno (que conta com oficinas,
shows e exposições e vai até sábado), no Carnaval e quando há outros eventos, a vida noturna é agitada.
(MIRELLA DOMENICH)
Informações sobre eventos - Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, tel.
0/xx/38/3531-1636, ou no site
www.diamantinanet.com.br.
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