São Paulo, segunda-feira, 22 de outubro de 2001

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AMÉRICA NATIVA

É preciso pechinchar no local, que tem ainda museu sobre o jade
Estrada sinuosa leva à feira maia de Chichi

DO ENVIADO ESPECIAL À GUATEMALA

O índios de Chichicastenango vivem num dos pontos mais altos das cordilheiras da Guatemala (2.000 m acima do nível do mar). Carros e ônibus que partem da capital percorrem 145 km de sinuosa estrada, levando o turista até o povoado, principalmente às quintas-feiras e aos domingos, dias reservados ao animado e colorido mercado local.
Centenas de barracas alinhadas e enfeitadas disputam a atenção do visitante com peças artesanais e vestuário, que traduzem os costumes e a tradição dos ancestrais, sobretudo dos maias.
Em Chichi, diminutivo adotado pelos nativos, o odor de incensos, as flores e o burburinho inusitado do idioma local, o quiché, remontam à história distante.
Outras surpresas são expostas nas vielas do povoado. Barracas simples amontoam coloridos tecidos e bordados feitos à mão. São roupas, cortinas e confecções impecáveis para qualquer tipo de decoração. Artesanatos de corda, cerâmica e pedras também revelam a arte aprendida fielmente ao longo de gerações. Aos domingos, o comércio de Chichicastenango recebe em média 10 mil pessoas.
"Regatear" é a palavra-chave para se fazer compras em Chichi. Pechinchar faz parte da cultura local e nunca se compra algo pelo preço inicial. Faça sempre uma contraproposta -é o esperado. Ao final da negociação, as duas partes sairão satisfeitas.
Tirar fotografias em Chichi, no entanto, requer mais habilidade. Focalizar rostos ou até mesmo produtos sem prévia autorização pode causar algum tumulto. Antes é preciso pedir permissão e fazê-lo pode custar alguns quetzales, a moeda local.

Templo e jade
Chichi guarda ainda a igreja Santo Tomás, que em tempos antigos foi o templo maia Quiché. Ali foram descobertos inúmeros vestígios de civilizações distantes. Em 1700 encontraram o "Popol-Vuh", livro sagrado dos maias-quiché, que relata uma das versões da origem do planeta e feitos de divindades maias.
A escadaria frontal da igreja Santo Tomás é o ponto de encontro de religiosos locais, que promovem cultos cristãos inserindo rituais de grupos indígenas. O forte aroma do incenso e o dialeto incompreensível, que dá ritmo às orações e aos pedidos de proteção, tornam a cerimônia mística.
Uma peculiaridade que impressiona os católicos tradicionais é a aguardente que os fiéis oferecem aos santos e divindades da igreja.
O povoado abriga ainda o museu do Jade, em cuja pequena sala são guardadas preciosidades de jade que datam de até 1000 a.C.
A pedra semipreciosa foi usada pelos maias para esculpir as mundialmente conhecidas máscaras fúnebres, além de outros objetos religiosos e decorativos. A composição química proporciona à pedra uma variedade de cores, entre elas o verde, o preto e o rosa.
(FÁBIO MARRA)



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