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BRASIL DANÇA
Barreirinhas brota vários olhos-d'água no deserto
ENVIADO ESPECIAL A BARREIRINHAS (MA)
Os chavões dos folhetos turísticos não abrem todas as portas do
Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, mas uma boa dica de
entrada é pelo município de Barreirinhas, que permite vislumbrar
parte daquele deserto peculiar esculpido pela natureza.
Em meio à vastidão de dunas de
areia branca, encontram-se lagoas e olhos-d'água formados pelas chuvas e com níveis estáveis
durante todo o ano. Suas águas
passeiam das tonalidades verde-claro ao azul mais intenso.
Com área de 1.550 metros quadrados, Barreirinhas abriga cinco
lagoas dos Lençóis: a Azul, a Bonita, a dos Peixes, a da Lua e a da Esperança.
Um mergulho na lagoa Bonita,
por exemplo, envolta em silencioso mundo branco, pode ser uma
experiência mística ou espiritual,
conforme a disposição do visitante, que não passará indiferente. É
fechar os olhos e deixar a alma ir
ao longe.
A alta temperatura local, que
atinge facilmente a casa dos 40C,
pede roupas leves (além dos trajes
de banho), chapéu ou boné e, claro, protetor solar com fator dos
mais elevados.
Há quem prefira passar a noite
no deserto, e aqui a recomendação se inverte por causa do frio.
Para chegar a Barreirinhas, a
260 km de São Luís, um avião permitirá avistar as dunas e as lagoas.
Pela estrada, porém, o passeio é
precedido de uma aventura digna
de trilha antes de alcançar a paisagem paradisíaca.
A partir de Barreirinhas, que
lembra uma vila de pescadores, o
único acesso é por uma estrada
acidentada, entrecruzada pelo rio
Preguiças e ladeada por uma vegetação irregular.
O trajeto de 22 km é percorrido
a bordo de uma jardineira, como
são chamadas as Toyotas com tração nas quatro rodas, devidamente adaptadas com bancos nas carroçarias abertas.
Os passageiros enfrentam solavancos, desviam de galhos e, em
alguns momentos, têm seus pés
alagados nos trechos do rio. É
preciso ainda atravessar uma balsa durante alguns minutos.
"Nos pontos alagados, eu já sei
onde a areia está mais fofa e procuro evitá-los para não atolar o
carro", diz o motorista Valério
Souza da Luz, 26.
Para ter idéia do isolamento, no
início do ano um grupo de turistas de São Paulo (14 pessoas), com
destino à lagoa Azul, teve o carro
atolado na estrada, em pleno pôr-do-sol, e ainda por cima foi atacado por um enxame. O motorista
correu 7 km para localizar um trator e rebocar o veículo.
Por conta da movimentação de
turistas, sobretudo nos últimos
três anos, já chega a 80 o número
de jardineiras em Barreirinhas. O
serviço gera emprego para jovens
como Abel de Oliveira, 19, e Uziel
Cantanhede Sarmento, 18, que
ajudam Luz no transporte e também fazem as vezes de guia.
Oliveira conhece as cinco lagoas
"como a palma da mão". Ele faz
curso de inglês e de espanhol e revela consciência ecológica quando pede ao motorista que pare.
Ele desce da jardineira e recolhe
uma garrafa atirada na estrada. A
Ecotrilhas (tel. 0/xx/98/349-0372)
é uma das empresas que fazem o
passeio e cobra R$ 35 por pessoa
ou R$ 280 por grupo.
Antes de contemplar a lagoa
Bonita, o visitante sobe um morro
íngreme de cerca de 40 metros, já
formado pela areia branca. No sopé, a barraca do casal Izeli, 26, e
Eleonis Cabral Garcia, 28, é o único sinal do que se entende por civilização. Pode-se bebericar água-de-coco, comer castanha de caju
ou até pratos como macarrão
com galinha caipira.
A família fica reunida na barraca somente nos finais de semana.
De segunda a sexta, dona Izeli
permanece em Barreirinhas por
conta da escola dos filhos. Em sua
simplicidade, o casal e os filhos espelham o esforço de parte dos
moradores que tenta melhorar as
condições de vida depois que os
Lençóis viraram até cenário de
novela para atrair turistas.
(VALMIR SANTOS)
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