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ITÁLIA-BRASIL
Importância da etiqueta do país cresce com compras dos EUA e injeção de dinheiro para reconstruir Europa
Moda italiana floresce após Segunda Guerra
HELOISA LUPINACCI
DA REPORTAGEM LOCAL
"Não existe moda italiana. Nem
no mobiliário, nem na decoração,
nem no vestuário. Nós podemos
criá-la, devemos criá-la."
Como assim? E Milão, de onde
saem ternos bem cortados, sinônimos de elegância, assinados por
Giorgio Armani? E Roma, com
sua alta-costura representada por
vestidos sensuais e luxuosos que
saem dos croquis de Valentino e
de Ricardo Capucci? E o Salão Internacional do Móvel de Milão,
que, ano a ano, exibe o que há de
mais experimentalista no desenho de móveis no mundo?
Calma. Embora a moda italiana
pareça ser tradicional -afinal há
muitos séculos Michelangelo desenhou o uniforme da Guarda
Suíça do Vaticano-, ela nem
sempre representou luxo e riqueza. Até os anos 50, uma etiqueta
italiana não dizia muita coisa. Era
uma etiqueta qualquer.
Assim, as palavras do líder fascista Benito Mussolini, ditas nos
anos 30, refletem o status da moda italiana nessa época, em que
ela não ultrapassa as fronteiras do
país, salvo raras exceções.
Mas o que Mussolini não esperava era que o seu desejo de criação de uma moda italiana viria a
ser realizado em parte graças à
sua atuação no comando do país.
A moda italiana se torna visível
aos olhos do mundo apenas depois da Segunda Guerra Mundial
e, em parte, devido ao Plano
Marshall (plano dos EUA que injetou dinheiro para a reconstrução de países da Europa ocidental
destruídos pela Segunda Guerra).
O assunto é tratado no livro
"Reconstructing Italian Fashion",
de Nicola White (2000, 224 págs.,
editora New York University
Press, US$ 24,95 na www.amazon.com). White relata como a
etiqueta italiana deixou de ser
qualquer coisa para tornar símbolo de luxo, de tecidos fantásticos e de corte preciso.
No fim da Segunda Guerra, a
Itália estava devastada. Mas alguns setores eram vistos como
alavanca para tempos melhores.
O principal deles era o têxtil.
Embora o Reino Unido tenha
tentado boicotar a ajuda dos
EUA, temendo que a melhoria
do setor têxtil italiano atrapalhasse a recuperação da indústria
de algodão na Inglaterra, o plano
americano de reerguer a Itália foi
mantido. Para os EUA, a melhor
maneira de tirar a Itália de seu
estado de destruição era fomentando a exportação.
Resultado: uma chuva de encomendas dos EUA para a compra
de tecidos italianos, tradicionalmente apreciados ao redor do
mundo. Com a combinação de
tecidos sendo produzidos a todo
vapor, uma tradição de arte e de
alfaiataria, aconteceu o inevitável. Nos anos 50, começa a florescer uma moda à italiana.
A consolidação desse processo
se dá 20 anos depois, quando os
salões de prêt-à-porter milaneses se confirmam como o segundo pólo mundial de criação de
estilo, apenas abaixo de Paris.
É em Milão que surgem grifes
como Giorgio Armani, Versace,
Dolce & Gabbana. A alta-costura
vem de Roma. É na capital italiana que se concentram nomes como os de Valentino, Simonetta
Visconti e Roberto Capucci.
"A Itália tem uma tradição de
ensino do que chamamos de
prendas domésticas. Tanto para
homens quanto para mulheres",
explica Raquel Valente, coordenadora do curso de moda da Faculdade Santa Marcelina.
A tradição de alfaiataria resulta
na invencibilidade dos italianos
quando o assunto é moda masculina. Armani e Ermenegildo
Zegna viram sinônimo de homem bem vestido. A expertise
dos artesãos alia-se à familiaridade com o couro e um empurrãozinho de Salvatore Ferragamo alçou os sapatos italianos à dianteira do mundo. E, assim, a moda nunca mais foi a mesma.
Que o diga Paris. Quando o estilista Gianfranco Ferré pintou e
bordou em Milão, chamando a
atenção do mundo, a reação veio
a galope: o estilista foi contratado
pela maison Dior logo de uma
vez. Lá ele ficou de 1989 a 1997.
Por mais que a Itália tenha
criado a sua moda, como queria
Mussolini, Paris não arrisca dividir os holofotes com ninguém.
Muito menos pôr a perder o status de centro mundial da moda.
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