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São Paulo, segunda-feira, 24 de fevereiro de 2003

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Rota dá aula de biologia e história

DO ENVIADO ESPECIAL

Percorrer a pé os 30 quilômetros da Trilha do Ouro não pode ser considerada uma tarefa das mais fáceis, pois o andarilho tem à frente obstáculos como morros com subidas "intermináveis", densas florestas em que chove até 300 dias por ano e muitos mosquitos em certos trechos.
Quem, ainda assim, insiste em desbravar a rota, não se arrepende. Após verdadeiras aulas práticas de biologia, história e geografia, o viajante termina o percurso com uma bagagem muito maior que a mochila, que a essa altura costuma pesar dez vezes mais.
O ponto de partida fica na simpática São José do Barreiro, a 268 quilômetros de São Paulo. O município guarda vários exemplos de casarões em estilo colonial, que rememoram o ápice da exploração do ouro e do café.
De lá são cerca de 25 quilômetros em estrada de terra até a portaria do parque nacional. Esse trecho, em épocas de chuvas, fica intransponível para veículos sem tração nas quatro rodas. Por isso o ideal é alugar um jipe ou uma caminhonete na cidade.
Logo no início da trilha, a pouco mais de 20 minutos da entrada do parque, descortina a bela cachoeira Santo Isidro, com 80 metros de queda. Não muito distante, a cachoeira das Posses e a das Marrecas também garantem momentos de encanto aos caminhantes e de refresco aos corajosos.
Após algumas horas de caminhada, atinge-se uma bela vista do vale do Bonito, pouco antes da bifurcação que leva à fazenda do Veado, ponto de descanso e onde se pode comprar mel puro.

Segundo dia
A manhã seguinte começa com um desafio: várias subidas sem sombra nem água. O consolo é a vista que aparece aos poucos. Em pouco -mas suado- tempo, atinge-se a fazenda Barreiro, que lembra um cenário de livros sobre a vida campestre.
Os primeiros sinais do calçamento construído por escravos com pedras retiradas de rios começam a aparecer algumas curvas à frente. Numa das paradas, é possível deixar as mochilas e subir o morro do Gavião, de onde se contempla uma extraordinária vista do mar de Parati.
Após atravessar inúmeras porteiras, pinguelas e pontes de madeira, chega-se à fazenda Central: à beira de um rio que proporciona hidromassagem em suas pedras, a propriedade tem um vasto gramado que lembra paisagens bem comuns em filmes europeus.
O bucolismo, entretanto, não dura muito tempo. A alguns minutos dali está a cachoeira do Veado, para muitos o ápice da Trilha do Ouro. São duas quedas que somam 200 metros de altura no belo vale do rio Mambucaba.
Algumas pessoas aproveitam o máximo da cachoeira acampando perto dela. Dormir ao som da água corrente é um alívio para o corpo já cansado da caminhada. Logo depois, uma boa subida surpreende os andarilhos, que ainda têm uma última chance de avistar a queda-d'água no fim da ladeira.
A partir desse ponto inicia a descida de mata atlântica para o litoral. Atravessam-se vários córregos do rio Mambucaba -um deles marca a divisa dos Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro.
No meio do caminho, ainda são encontrados vários casebres isolados. Vale a pena aproveitar para conversar com moradores, que têm muitas histórias da região.
Há, por exemplo, crianças que não sabem a própria idade e desconhecem personalidades como Pelé, Xuxa ou Fernando Henrique Cardoso. A falta de instrução, porém, em nada impede uma infância simples e feliz: basta vê-los jogando futebol nos campos abertos ou brincando nos rios para comprovar -e até invejar- isso.
Antes de concluir a trilha, o explorador ainda passa por caminhos cheios de lodo, trechos escorregadios de pedra e um belo trajeto rodeado de lírios.
A alguns quilômetros do final, uma bela praia coroa a aventura pela qual já passaram índios, escravos, tropeiros e, hoje, amantes da natureza. (CA)

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