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Rota dá aula de biologia e história
DO ENVIADO ESPECIAL
Percorrer a pé os 30 quilômetros da Trilha do Ouro não pode
ser considerada uma tarefa das
mais fáceis, pois o andarilho tem à
frente obstáculos como morros
com subidas "intermináveis",
densas florestas em que chove até
300 dias por ano e muitos mosquitos em certos trechos.
Quem, ainda assim, insiste em
desbravar a rota, não se arrepende. Após verdadeiras aulas práticas de biologia, história e geografia, o viajante termina o percurso
com uma bagagem muito maior
que a mochila, que a essa altura
costuma pesar dez vezes mais.
O ponto de partida fica na simpática São José do Barreiro, a 268
quilômetros de São Paulo. O município guarda vários exemplos
de casarões em estilo colonial, que
rememoram o ápice da exploração do ouro e do café.
De lá são cerca de 25 quilômetros em estrada de terra até a portaria do parque nacional. Esse trecho, em épocas de chuvas, fica intransponível para veículos sem
tração nas quatro rodas. Por isso o
ideal é alugar um jipe ou uma caminhonete na cidade.
Logo no início da trilha, a pouco
mais de 20 minutos da entrada do
parque, descortina a bela cachoeira Santo Isidro, com 80 metros de
queda. Não muito distante, a cachoeira das Posses e a das Marrecas também garantem momentos
de encanto aos caminhantes e de
refresco aos corajosos.
Após algumas horas de caminhada, atinge-se uma bela vista
do vale do Bonito, pouco antes da
bifurcação que leva à fazenda do
Veado, ponto de descanso e onde
se pode comprar mel puro.
Segundo dia
A manhã seguinte começa com
um desafio: várias subidas sem
sombra nem água. O consolo é a
vista que aparece aos poucos. Em
pouco -mas suado- tempo,
atinge-se a fazenda Barreiro, que
lembra um cenário de livros sobre
a vida campestre.
Os primeiros sinais do calçamento construído por escravos
com pedras retiradas de rios começam a aparecer algumas curvas à frente. Numa das paradas, é
possível deixar as mochilas e subir
o morro do Gavião, de onde se
contempla uma extraordinária
vista do mar de Parati.
Após atravessar inúmeras porteiras, pinguelas e pontes de madeira, chega-se à fazenda Central:
à beira de um rio que proporciona
hidromassagem em suas pedras, a
propriedade tem um vasto gramado que lembra paisagens bem
comuns em filmes europeus.
O bucolismo, entretanto, não
dura muito tempo. A alguns minutos dali está a cachoeira do
Veado, para muitos o ápice da
Trilha do Ouro. São duas quedas
que somam 200 metros de altura
no belo vale do rio Mambucaba.
Algumas pessoas aproveitam o
máximo da cachoeira acampando
perto dela. Dormir ao som da
água corrente é um alívio para o
corpo já cansado da caminhada.
Logo depois, uma boa subida surpreende os andarilhos, que ainda
têm uma última chance de avistar
a queda-d'água no fim da ladeira.
A partir desse ponto inicia a
descida de mata atlântica para o
litoral. Atravessam-se vários córregos do rio Mambucaba -um
deles marca a divisa dos Estados
de São Paulo e do Rio de Janeiro.
No meio do caminho, ainda são
encontrados vários casebres isolados. Vale a pena aproveitar para
conversar com moradores, que
têm muitas histórias da região.
Há, por exemplo, crianças que
não sabem a própria idade e desconhecem personalidades como
Pelé, Xuxa ou Fernando Henrique
Cardoso. A falta de instrução, porém, em nada impede uma infância simples e feliz: basta vê-los jogando futebol nos campos abertos ou brincando nos rios para
comprovar -e até invejar- isso.
Antes de concluir a trilha, o explorador ainda passa por caminhos cheios de lodo, trechos escorregadios de pedra e um belo
trajeto rodeado de lírios.
A alguns quilômetros do final,
uma bela praia coroa a aventura
pela qual já passaram índios, escravos, tropeiros e, hoje, amantes
da natureza. (CA)
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