São Paulo, segunda, 25 de janeiro de 1999

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SÃO PAULO, 445
O tijolo substituiu o pau-a-pique só há pouco mais de cem anos, possibilitando inovações arquitetônicas
Pau e terra foram o início do caminho

da Reportagem Local

Em São Paulo, pau e barro foram o início do caminho. Em seus primeiros três séculos de vida, o pau-a-pique dominou as construções, com janelões e telha vermelha. O pequeno povoado, que servia como pouso para viajantes, podia ser descrito em poucas linhas.
"Tem essa cidade três conventos, que são o de carmelitas descalças, o de capuchos, o de monge beneditinos; tem o colégio que foi de jesuítas. Tem casa de misericórdia e quatro igrejas, a do Rosário dos Pretos, a de Santo Antônio, a de São Pedro e a de São Gonçalo Garcia", escreveu o paulistano Pedro Taques de Almeida Pais Leme (1714-1777) em 1772.
A Casa do Grito, em frente ao museu do Ipiranga, é remanescente dessa época e está aberta à visitação. Construída com a técnica de taipa de mão (vigas de madeira e barro), é um ótimo exemplo de casa rural de São Paulo -o Ipiranga era formado por chácaras-, segundo o arquiteto Carlos Lemos. Foi em suas proximidades que D. Pedro deu o grito de liberdade, reza a lenda. Daí o nome da casa.
Nessa cidade, que foi sepultada pela expansão territorial, tudo conspirava a favor do tom bucólico. "É a cidade cercada de chácaras, que a embelezam; é muito farta de águas; o ar é... salubre ..., as ruas são calçadas e espaçosas", descreveu o português Luís d'Alincourt (1787-1841) no livro "Memória sobre a Viagem do Porto de Santos à Cidade de Cuiabá" (1818).
Além de agradável, era bela. Confira: "A cidade de São Paulo é incontestavelmente a mais bela de todas... no Brasil", derreteu-se o francês Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853) quando esteve na capital, em 1819.
Em seu passeio pela São Paulo romântica, visite também a casa da Marquesa de Santos, onde hoje funciona um museu (rua Roberto Simonsen, 136, Centro).
Outro marco da arquitetura paulistana é a secular Estação da Luz, assim como o museu do Ipiranga, de 1885. O Teatro Municipal, construído entre 1903 e 1911, também deve constar do passeio por São Paulo antiga. Seu estilo? É eclético.
A mistura estilística passou a caracterizar a cidade há cem anos -na Paulista, criada em 1891, os palacetes contavam a origem dos donos. Havia os de fachada à italiana, árabe, portuguesa e assim por diante. Foi quando o tijolo substituiu, pelas mãos dos imigrantes, o antigo sistema de taipa.
Os arranha-céus foram chegando, à imagem e semelhança de Nova York, e alguns paulistanos resolveram retomar o colonial brasileiro. Em Higienópolis, a maioria das casas seguia essa orientação. Para apreciar uma das poucas que restaram, vá à rua Emílio de Meneses, 38. Nesse fim do caminho da autenticidade arquitetônica, a casa permanece solitária entre o concreto dos edifícios sem alma.



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