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SÃO PAULO, 445
O tijolo substituiu o pau-a-pique só há pouco mais de cem anos, possibilitando inovações arquitetônicas
Pau e terra foram o início do caminho
da Reportagem Local
Em São Paulo, pau e barro foram
o início do caminho. Em seus primeiros três séculos de vida, o pau-a-pique dominou as construções,
com janelões e telha vermelha. O
pequeno povoado, que servia como pouso para viajantes, podia ser
descrito em poucas linhas.
"Tem essa cidade três conventos,
que são o de carmelitas descalças,
o de capuchos, o de monge beneditinos; tem o colégio que foi de jesuítas. Tem casa de misericórdia e
quatro igrejas, a do Rosário dos
Pretos, a de Santo Antônio, a de
São Pedro e a de São Gonçalo Garcia", escreveu o paulistano Pedro
Taques de Almeida Pais Leme
(1714-1777) em 1772.
A Casa do Grito, em frente ao
museu do Ipiranga, é remanescente dessa época e está aberta à visitação. Construída com a técnica de
taipa de mão (vigas de madeira e
barro), é um ótimo exemplo de casa rural de São Paulo -o Ipiranga
era formado por chácaras-, segundo o arquiteto Carlos Lemos.
Foi em suas proximidades que D.
Pedro deu o grito de liberdade, reza a lenda. Daí o nome da casa.
Nessa cidade, que foi sepultada
pela expansão territorial, tudo
conspirava a favor do tom bucólico. "É a cidade cercada de chácaras, que a embelezam; é muito farta de águas; o ar é... salubre ..., as
ruas são calçadas e espaçosas",
descreveu o português Luís d'Alincourt (1787-1841) no livro "Memória sobre a Viagem do Porto de
Santos à Cidade de Cuiabá" (1818).
Além de agradável, era bela.
Confira: "A cidade de São Paulo é
incontestavelmente a mais bela de
todas... no Brasil", derreteu-se o
francês Auguste de Saint-Hilaire
(1779-1853) quando esteve na capital, em 1819.
Em seu passeio pela São Paulo
romântica, visite também a casa da
Marquesa de Santos, onde hoje
funciona um museu (rua Roberto
Simonsen, 136, Centro).
Outro marco da arquitetura paulistana é a secular Estação da Luz,
assim como o museu do Ipiranga,
de 1885. O Teatro Municipal, construído entre 1903 e 1911, também
deve constar do passeio por São
Paulo antiga. Seu estilo? É eclético.
A mistura estilística passou a caracterizar a cidade há cem anos
-na Paulista, criada em 1891, os
palacetes contavam a origem dos
donos. Havia os de fachada à italiana, árabe, portuguesa e assim por
diante. Foi quando o tijolo substituiu, pelas mãos dos imigrantes, o
antigo sistema de taipa.
Os arranha-céus foram chegando, à imagem e semelhança de Nova York, e alguns paulistanos resolveram retomar o colonial brasileiro. Em Higienópolis, a maioria
das casas seguia essa orientação.
Para apreciar uma das poucas que
restaram, vá à rua Emílio de Meneses, 38. Nesse fim do caminho da
autenticidade arquitetônica, a casa
permanece solitária entre o concreto dos edifícios sem alma.
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