São Paulo, segunda, 25 de janeiro de 1999

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SÃO PAULO, 445
Espanhol, português e hebraico se confundiam com dialetos italianos, majoritários, na virada do século
Imigrantes ergueram uma torre de babel

da Reportagem Local

"Il giornale, signore, il giornale" (o jornal, senhor, o jornal), gritava o menino na rua. Na soleira da casa, outro dizia "guten tag" (bom-dia, em alemão). Pela cidade, lia-se "Rotisserie Sportsman", "Aux 60.000 Paletots". Sim, a São Paulo do início do século instituiu uma profusa babel.
Quase a metade da população (cerca de 250 mil habitantes) era formada por italianos em 1900. Havia ainda alemães, árabes, espanhóis, judeus -e, claro, portugueses, mas esses não contam para fins "babelísticos" por falarem o velho e bom idioma de Camões.
A dissonância linguística da virada do século impressionou o jornalista e crítico de arte Manoel de Sousa Pinto (1880-1934), que, em 1905, se surpreendeu com os novos sons da capital.
"Ao jantar servem-nos "minestra' e "risotto' -é a Itália, a Itália com arroz de açafrão e queijo ralado. Pegando um jornal sobre a mesa, deparamos com o título "Fanfulla', com data do mesmo dia", escreve em suas memórias -e não sem razão.
Falava-se italiano (pouco) e uma meia dúzia de variações sobre o tema (muito). Os dialetos vêneto, lombardo, napolitano e trentino suplantavam o idioma da Toscana, o italiano oficial, que não era falado por todos os filhos de Dante.
Geralmente ex-colonos das fazendas de café do interior, tornaram-se banqueiros, industriais, médicos, comerciantes e também carregadores, operários, condutores de bonde. Aprendizes de arquiteto e de construtores também não faltaram.
Graças a isso, São Paulo ganhou algumas fontes, como a do Teatro Municipal, além de edifícios de orientação neo-renascentista e neoclássica.
O tijolo derrubou o pau-a-pique e a cidade ganhou novos rumos, migrantes em estilo e forma. Novos bairros, como Mooca, Pari, Bexiga, Barra Funda e Brás, patentearam as pequenas casas operárias, enquanto na zona sul iam tomando forma os projetos de ruas elegantes.
A companhia City desenhou o Jardim América, onde quatrocentões e novos afortunados passaram a dividir a calçada. (CA)



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