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SÃO PAULO, 445
Espanhol, português e hebraico se confundiam com dialetos italianos, majoritários, na virada do século
Imigrantes ergueram uma torre de babel
da Reportagem Local
"Il giornale, signore, il giornale"
(o jornal, senhor, o jornal), gritava
o menino na rua. Na soleira da casa, outro dizia "guten tag" (bom-dia, em alemão). Pela cidade, lia-se
"Rotisserie Sportsman", "Aux
60.000 Paletots". Sim, a São Paulo
do início do século instituiu uma
profusa babel.
Quase a metade da população
(cerca de 250 mil habitantes) era
formada por italianos em 1900.
Havia ainda alemães, árabes, espanhóis, judeus -e, claro, portugueses, mas esses não contam para
fins "babelísticos" por falarem o
velho e bom idioma de Camões.
A dissonância linguística da virada do século impressionou o jornalista e crítico de arte Manoel de
Sousa Pinto (1880-1934), que, em
1905, se surpreendeu com os novos
sons da capital.
"Ao jantar servem-nos "minestra' e "risotto' -é a Itália, a Itália
com arroz de açafrão e queijo ralado. Pegando um jornal sobre a mesa, deparamos com o título "Fanfulla', com data do mesmo dia", escreve em suas memórias -e não
sem razão.
Falava-se italiano (pouco) e uma
meia dúzia de variações sobre o tema (muito). Os dialetos vêneto,
lombardo, napolitano e trentino
suplantavam o idioma da Toscana,
o italiano oficial, que não era falado por todos os filhos de Dante.
Geralmente ex-colonos das fazendas de café do interior, tornaram-se banqueiros, industriais,
médicos, comerciantes e também
carregadores, operários, condutores de bonde. Aprendizes de arquiteto e de construtores também não
faltaram.
Graças a isso, São Paulo ganhou
algumas fontes, como a do Teatro
Municipal, além de edifícios de
orientação neo-renascentista e
neoclássica.
O tijolo derrubou o pau-a-pique
e a cidade ganhou novos rumos,
migrantes em estilo e forma. Novos bairros, como Mooca, Pari, Bexiga, Barra Funda e Brás, patentearam as pequenas casas operárias,
enquanto na zona sul iam tomando forma os projetos de ruas elegantes.
A companhia City desenhou o
Jardim América, onde quatrocentões e novos afortunados passaram a dividir a calçada.
(CA)
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