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SÃO PAULO, 445
Ruas do centro eram o charme da capital no início do século, quando as damas soltavam a voz sem pudor
Rostos faceiros ferviam vida provinciana
da Reportagem Local
A bela dama passeia faceira pelas
garbosas vias do centro, admirando artigos de toucador e outros
mais. Ao seu lado, o mancebo vergando terno de fino corte carrega
um cravo na lapela e apóia-se, todo
"blasé", em uma bengala francesa.
Cena de cinema, propaganda antiga? Não, é a São Paulo do início
do século, quando as finas senhoras tomavam chá nos charmosos
cafés do centro, jamais tratavam
com intimidade estranhos e usavam pó-de-arroz.
Os jardins, como o da Luz e Aclimação, eram pontos de encontro
nos finais de semana. Mas era na
rua Direita, no largo do Arouche e
na rua do Carmo, entre outras, que
desfilava a fina flor da elite paulistana. A área central da cidade concentrava o lazer, as compras e o comércio -ou seja, tudo.
As "senhoras", que se casavam
antes dos 20 anos, geralmente, dedicavam-se à casa e às artes do lar:
bordado, pintura, música e canto.
O ouvido vinha sendo treinado há
gerações.
"Canto e música são talentos comuns que elas revelam com graça e
facilidade", já notava o médico
sueco Gustavo Beyer (1775-1852)
em 1813, durante uma visita a São
Paulo. Os traços físicos das paulistanas também falaram alto ao viajante: "As mulheres em geral são
bonitas e extremamente encantadoras no seu modo de ser".
No início do século, tal beleza
não se traduzia na moda. Os vestidos eram simples, e as jóias, usadas
com parcimônia. No cabelo, sempre longo, pentes eram o máximo
do toque de vaidade que as moças
paulistanas se permitiam.
Mas, às vésperas do novo milênio, tudo mudou. A França ditava
modos e gostos. Roupas eram feitas com costureiras, não mais em
casa, seguindo moldes franceses.
Era a "belle époque".
Nos anos 20, o charleston tomava conta dos salões de baile enquanto a cidade ia sendo "modernizada". Os descendentes de cafeicultores iam mais a Paris do que à
Consolação.
Assim foi até pouco depois da Segunda Guerra Mundial, quando as
praças e ruas do centro ainda eram
sinônimo de lazer e luxo.
Nos anos 50 e 60, as zonas centrais foram se degradando, com o
fim do comércio e a mudança de
cinemas, bares e restaurantes para
os bairros, e o vaivém de pedestres
na rua Augusta passou a competir
com o ruído das lambretas. O resto
é história.
(CARLA ARANHA)
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