São Paulo, segunda, 25 de janeiro de 1999

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SÃO PAULO, 445
Anita Malfatti, Tomie Ohtake e Flávio de Carvalho deram cores novas à metrópole, que os reverenciou
Pintura naturalizou os artistas na cidade

da Reportagem Local e da Redação

Nem todos eram paulistanos, é verdade. Mas mesmo quando o sobrenome ou a biografia revela a origem extra-capital de muitos desses pintores, ainda assim eles são da cidade.
Pertencem a um lugar onde o antigo despedaça-se no contato com as chaminés, os carros, os outdoors, a nova vida. Manabu Mabe, nascido no Japão em 1924, foi um dos mestres dessa arte de legendar o caos.
Abstracionista, elegeu a concisão como forma de arte. Na tela "Melodia da Paixão" (1962), ouve-se o ruído das cores dissonantes.
Igualmente arrebatador é o trabalho da revolucionária Anita Malfatti (1893-1964). Essa sim paulistana -nasceu na rua Líbero Badaró, 111- enfrentou o desconforto de seus conterrâneos frente à sua obra modernista, nos conservadores anos 10, quando realizou sua primeira exposição na cidade.
Suas mulheres de cabelos verdes e estudantes cheias de dor foram aceitas nas décadas seguintes. "Devo à força de seus quadros a revelação do novo e a convicção da revolta", disse a seu respeito o escritor Mário de Andrade.
Um dos bons amigos e admiradores de Anita Malfatti foi Di Cavalcanti, outro nome solar da arte produzida em São Paulo.
Emiliano Augusto de Albuquerque Melo (1897-1976) nasceu no Rio de Janeiro e mudou-se para São Paulo com um objetivo "sério": estudar na renomada faculdade de direito da capital. Ele abandonou o curso e pintou o Brasil mestiço, o nordeste famélico. Na 3ª Bienal de São Paulo, em 1955, ouviu o agradecimento da cidade que o acolheu: ganhou o primeiro prêmio para artista nacional.
Como Di Cavalcanti, o fluminense Flávio de Carvalho (1899-1973) também veio para São Paulo a fim de se tornar advogado, estudando na mesma faculdade.
Em 1934, fez sua primeira exposição e, escândalo, todas as telas eram de nus e foram apreendidas pela polícia. Para conhecer algo de seu trabalho, vá ao Masp, onde está exposto o quadro "Mulheres" (1968).
Já o paulistano Aldo Bonadei (1906-1974) não escandalizou ninguém -sua pintura quase sempre foi homogênea e figurativa.
Nos anos 50, a japonesa Tomie Ohtake juntou-se à fornada das artes plásticas da cidade.
Despojada, fomentou a linguagem dos fortes, do suor do trabalho, das horas mortas. O quadro "Obra 3" (1969), do acervo do Masp, é um ótimo exemplo de sua estética.
A tela, abstrata, sem figuras definidas, contrasta com toda a obra do precursor da escola artística de São Paulo, José Ferraz de Almeida Júnior (1850-1899), de Itu.
Ele não era paulistano, é verdade, mas, na Paulicéia, paulistanos todos somos.
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Exposição continua Foi prorrogada até o dia 28 de março a exposição "Niemeyer 90 Anos", que acontece no Pavilhão Manoel da Nóbrega, no parque Ibirapuera (SP). Com entrada franca, o evento é aberto ao público das 11h às 17h e reúne painéis, maquetes e vídeos, além de uma reprodução, em tamanho natural, do estúdio do arquiteto em Copacabana, no Rio.
Oscar Niemeyer chefiou o grupo de arquitetos -integrado, entre outros, por Eduardo Kneese de Mello, Carlos Lemos- que, por ocasião do 4º Centenário de São Paulo, projetou o Ibirapuera.
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Informações: tel. (011) 571-1009.


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