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SÃO PAULO, 445
Anita Malfatti, Tomie Ohtake e Flávio de Carvalho deram cores novas à metrópole, que os reverenciou
Pintura naturalizou os artistas na cidade
da Reportagem Local e da Redação
Nem todos eram paulistanos, é
verdade. Mas mesmo quando o sobrenome ou a biografia revela a
origem extra-capital de muitos
desses pintores, ainda assim eles
são da cidade.
Pertencem a um lugar onde o antigo despedaça-se no contato com
as chaminés, os carros, os outdoors, a nova vida. Manabu Mabe,
nascido no Japão em 1924, foi um
dos mestres dessa arte de legendar
o caos.
Abstracionista, elegeu a concisão
como forma de arte. Na tela "Melodia da Paixão" (1962), ouve-se o
ruído das cores dissonantes.
Igualmente arrebatador é o trabalho da revolucionária Anita
Malfatti (1893-1964). Essa sim paulistana -nasceu na rua Líbero Badaró, 111- enfrentou o desconforto de seus conterrâneos frente à
sua obra modernista, nos conservadores anos 10, quando realizou
sua primeira exposição na cidade.
Suas mulheres de cabelos verdes
e estudantes cheias de dor foram
aceitas nas décadas seguintes. "Devo à força de seus quadros a revelação do novo e a convicção da revolta", disse a seu respeito o escritor
Mário de Andrade.
Um dos bons amigos e admiradores de Anita Malfatti foi Di Cavalcanti, outro nome solar da arte
produzida em São Paulo.
Emiliano Augusto de Albuquerque Melo (1897-1976) nasceu no
Rio de Janeiro e mudou-se para
São Paulo com um objetivo "sério": estudar na renomada faculdade de direito da capital. Ele
abandonou o curso e pintou o Brasil mestiço, o nordeste famélico.
Na 3ª Bienal de São Paulo, em 1955,
ouviu o agradecimento da cidade
que o acolheu: ganhou o primeiro
prêmio para artista nacional.
Como Di Cavalcanti, o fluminense Flávio de Carvalho (1899-1973)
também veio para São Paulo a fim
de se tornar advogado, estudando
na mesma faculdade.
Em 1934, fez sua primeira exposição e, escândalo, todas as telas
eram de nus e foram apreendidas
pela polícia. Para conhecer algo de
seu trabalho, vá ao Masp, onde está
exposto o quadro "Mulheres"
(1968).
Já o paulistano Aldo Bonadei
(1906-1974) não escandalizou ninguém -sua pintura quase sempre
foi homogênea e figurativa.
Nos anos 50, a japonesa Tomie
Ohtake juntou-se à fornada das artes plásticas da cidade.
Despojada, fomentou a linguagem dos fortes, do suor do trabalho, das horas mortas. O quadro
"Obra 3" (1969), do acervo do
Masp, é um ótimo exemplo de sua
estética.
A tela, abstrata, sem figuras definidas, contrasta com toda a obra
do precursor da escola artística de
São Paulo, José Ferraz de Almeida
Júnior (1850-1899), de Itu.
Ele não era paulistano, é verdade,
mas, na Paulicéia, paulistanos todos somos.
²
Exposição continua
Foi prorrogada até o dia 28 de
março a exposição "Niemeyer 90
Anos", que acontece no Pavilhão
Manoel da Nóbrega, no parque
Ibirapuera (SP). Com entrada
franca, o evento é aberto ao público das 11h às 17h e reúne painéis,
maquetes e vídeos, além de uma
reprodução, em tamanho natural,
do estúdio do arquiteto em Copacabana, no Rio.
Oscar Niemeyer chefiou o grupo
de arquitetos -integrado, entre
outros, por Eduardo Kneese de
Mello, Carlos Lemos- que, por
ocasião do 4º Centenário de São
Paulo, projetou o Ibirapuera.
²
Informações: tel. (011) 571-1009.
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