São Paulo, segunda-feira, 25 de março de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Habitantes da cidade têm orgulho de dizer que evento é maior concentração de arte popular do Estado

Feira de Caruaru é show de formas e cores


DO ENVIADO ESPECIAL A PERNAMBUCO

Enquanto mãos habilidosas e calejadas por anos de experiência amassam o barro, dando forma e cor ao imaginário, os sons da zabumba, do triângulo e da sanfona ecoam por todos os cantos de Caruaru. Localizada a 130 km de Recife, a Princesa do Agreste, assim chamada carinhosamente pelos moradores, é considerada pela Unesco um dos maiores centros de artes figurativas das Américas.
Em todos os pontos da cidade, é possível encontrar peças do Alto do Moura, povoado a 7 km de Caruaru que concentra os seguidores de Mestre Vitalino.
Mas o melhor local para se dedicar exclusivamente à apreciação do artesanato da região é a Feira de Artesanato de Caruaru, onde também ocorre uma feira mais ampla, a Feira de Caruaru, evento que vende, além de peças artesanais, roupas, ervas e alimentos.
Há quem diga que ela é a maior feira livre do mundo. Os caruarenses não contestam, até gostam, mas preferem dizer que ali está a mais rica concentração da arte popular de Pernambuco. E têm razão. A feira é um show de cores, trançados, bordados, esculturas e muito mais: um espetáculo produzido por pessoas simples, artistas anônimos que transformam as mais rudes matérias-primas em objetos de rara beleza.
"A inovação é a alma do artesanato pernambucano", comenta Joseildo da Silva, 31, que há 12 anos trabalha na Feira de Caruaru. Com extrema habilidade, ele trança cordas, transformando-as em cortinas, bandôs, suportes para vaso e acabamento de quadros. "Estou sempre inventando peças novas", afirma o artesão, que revela nos trabalhos a influência de culturas indígenas.
Com palha e tecido, Maria do Socorro dos Santos produz bonecos de vários tamanhos. "Os de tamanho natural são os mais procurados; parecem de verdade." A artesã também confecciona quadros de palha. Em vez de tinta, ela usa tecidos para fazer em relevo gravuras da festa de são João, dos retirantes do sertão e de paisagens do cotidiano.

Fama
A feira, que recebe cerca de 40 mil visitantes por dia, é conhecida internacionalmente e exporta produtos sobretudo para a Europa. A produção de couro de Caruaru é vendida em todo o país. Os preços praticados na feira representam pelo menos a metade dos cobrados em Recife.
Severino Pereira da Silva, 45, confecciona carteiras, sapatos, bolsas e roupas de couro. Conhecido entre os amigos como Ramos, o nome artístico adotado, o artesão prefere ter tranquilidade a se tornar um médio exportador. "Aqui nasci, aqui fabrico, aqui vendo e estou feliz assim", encerra a conversa.
Bacias, candeeiros e latas fazem parte do dia-a-dia de muitos nordestinos, por isso é comum encontrar na feira quem manuseie as finas e perigosas folhas-de-flandres. Gilmar Florêncio da Silva, 32, trabalha com o material há 18 anos. Montou uma pequena fábrica dos produtos na feira e emprega dez pessoas.
Dizem que a Feira de Artesanato de Caruaru surgiu logo depois da fundação da cidade, no século 16. Por um longo período, ocupou desordenadamente ruas estreitas. Somente em 1992 foi inaugurado o parque 18 de Maio, uma área que tem 40.000 m2.
Às terças-feiras acontece a feira da Sulanca, uma espécie de saldão promovido por 10 mil barraqueiros. São vendidos a preços reduzidos produtos de cama, mesa, banho e vestuário. (FABIO MARRA)



Feira de Artesanato de Caruaru -Parque 18 de Maio, s/nš; funciona diariamente, das 8 às 17h



Texto Anterior: Vitalino é ainda o mestre dos ceramistas
Próximo Texto: Vilarejo reúne discípulos de Vitalino
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.