São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 2000


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Túmulo chegou à região de barco

DO ENVIADO ESPECIAL

Herodes Agripa, rei da Judéia, mandou cortar a cabeça de Tiago, discípulo de Jesus, apóstolo cristão, como está registrado em "Atos dos Apóstolos", capítulo 12, versículo 2. Isso foi em 42 ou 44 depois de Cristo.
Em 813, o bispo Teodomiro, de Iria, na Galícia, encontrou em San Fiz uma tumba de mármore no meio do mato, que anjos e luzes estranhas haviam indicado para um monge. Quem gosta de cinema viu essas e outras histórias e dogmas católicos serem enxovalhados em "O Estranho Caminho de Santiago" (1969), do cineasta espanhol Luís Buñuel.
O que fazia o corpo do líder dos cristãos de Jerusalém, o galileu Tiago, na Galícia? Segundo a tradição, o decapitado Tiago foi levado por seus discípulos para um barco que, guiado pela mão divina, foi dar nas costas galegas, então a Gallaecia romana.
Depois de desventuras fantásticas e embates mágicos, os discípulos de Tiago conseguiram sepultá-lo. A perseguição romana aos cristãos teria relegado o culto às relíquias ao esquecimento. Até que o bárbaro bispo Teodomiro as reencontrou.
Por coincidência, a descoberta do bispo ocorreu num momento em que os nobres dos reinos espanhóis do norte, a única parte da península Ibérica livre dos mouros, careciam de símbolos para combater os infiéis.
O túmulo de Tiago tornou-se então uma igreja; reis espanhóis criaram uma ordem de cavalaria para proteger Santiago de Compostela e seus caminhos. Em 997, Al Mansur, o comandante militar do califado mouro de Córdoba (então a cidade mais civilizada do Ocidente), arrasaria Santiago.
Os mouros foram aos poucos expulsos e a cidade se tornou uma espécie de símbolo da Reconquista católica da península. O que é hoje a catedral começou a ser construída em 1078 e foi terminada como basílica românica em 1211. Sua fachada seria reformada no século 17, com desenho barroco. O estranho túmulo de Tiago ainda está lá. (VTF)


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