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Brennand polemiza
com obras profanas
SILVIO CIOFFI
Editor de Turismo
De revólver na cinta, o
prefeito de Recife, Roberto Magalhães (PFL),
"visitou" a redação do
"Jornal do Commercio"
para intimidar o colunista social.
Irritado com a insinuação de ter censurado uma obra alusiva aos
500 anos do Descobrimento, do artista plástico Francisco Brennand,
72, de aspecto fálico,
Magalhães -que foi
governador do Estado
de Pernambuco e deputado federal-achou
por bem exibir toda a
sua braveza.
Brennand, o ceramista e pintor que desde 1971 molda a
barro e fogo seu "projeto visionário" na região da Várzea, a 19 km
de Recife, faz, sim, obras carregadas da mais explícita virilidade.
Aristocrata, herdou do pai uma
fábrica de cerâmica desativada, de
1945, e fez do lugar um ateliê-santuário, abarrotado de peças, que
chama de "obra de arte total".
Ceramista e pintor, Brennand
dá um enfoque sexual e profano
às obras moldadas por suas mãos
trêmulas, carregadas de magia.
Admirador confesso de Fernand Léger (1881-1955), Brennand constrói suas peças à moda
de Antoni Gaudí (1852-1926) -e
se diz "modelador", recusando o
rótulo de escultor.
Templo profano
Ocupando uma área de três hectares, o santuário profano onde
Brennand transforma o barro em
cerâmica expõe 2.000 peças e hoje
é um local turístico.
A 30 minutos de carro
da praia de Boa Viagem,
entre Recife e Olinda, o
espaço é aberto à visitação de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, e o
ingresso custa R$ 2 (tel.
0/xx/ 81/261-2623).
Cultuado por intelectuais como Jean-Paul
Sartre e Simone de Beauvoir, o ateliê que virou
templo já foi visitado por
João Cabral de Melo Neto, Jack Lang, Juscelino
Kubitschek, Oscar Niemeyer, Fernando Henrique Cardoso e por outras
550 mil pessoas.
Algo surrealistas, as
obras de Brennand também aludem tantas vezes
à forma dos ovos.
Segundo o artista, remetem ainda à arte da antiga Mesopotâmia e
às formas das esculturas greco-romanas.
Mas como cada um vê o que
quer -ou o que não quer- na
escultura polêmica e cheia de vida
que o artista cria, a visita a seu ateliê certamente explica mais que as
tantas palavras que a crítica gasta
para tentar defini-la.
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