São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 2000


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Brennand polemiza com obras profanas

SILVIO CIOFFI
Editor de Turismo

De revólver na cinta, o prefeito de Recife, Roberto Magalhães (PFL), "visitou" a redação do "Jornal do Commercio" para intimidar o colunista social.
Irritado com a insinuação de ter censurado uma obra alusiva aos 500 anos do Descobrimento, do artista plástico Francisco Brennand, 72, de aspecto fálico, Magalhães -que foi governador do Estado de Pernambuco e deputado federal-achou por bem exibir toda a sua braveza.
Brennand, o ceramista e pintor que desde 1971 molda a barro e fogo seu "projeto visionário" na região da Várzea, a 19 km de Recife, faz, sim, obras carregadas da mais explícita virilidade.
Aristocrata, herdou do pai uma fábrica de cerâmica desativada, de 1945, e fez do lugar um ateliê-santuário, abarrotado de peças, que chama de "obra de arte total".
Ceramista e pintor, Brennand dá um enfoque sexual e profano às obras moldadas por suas mãos trêmulas, carregadas de magia.
Admirador confesso de Fernand Léger (1881-1955), Brennand constrói suas peças à moda de Antoni Gaudí (1852-1926) -e se diz "modelador", recusando o rótulo de escultor.

Templo profano
Ocupando uma área de três hectares, o santuário profano onde Brennand transforma o barro em cerâmica expõe 2.000 peças e hoje é um local turístico.
A 30 minutos de carro da praia de Boa Viagem, entre Recife e Olinda, o espaço é aberto à visitação de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, e o ingresso custa R$ 2 (tel. 0/xx/ 81/261-2623).
Cultuado por intelectuais como Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, o ateliê que virou templo já foi visitado por João Cabral de Melo Neto, Jack Lang, Juscelino Kubitschek, Oscar Niemeyer, Fernando Henrique Cardoso e por outras 550 mil pessoas.
Algo surrealistas, as obras de Brennand também aludem tantas vezes à forma dos ovos.
Segundo o artista, remetem ainda à arte da antiga Mesopotâmia e às formas das esculturas greco-romanas.
Mas como cada um vê o que quer -ou o que não quer- na escultura polêmica e cheia de vida que o artista cria, a visita a seu ateliê certamente explica mais que as tantas palavras que a crítica gasta para tentar defini-la.


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