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DESVELANDO A ANTIGA PÉRSIA
Embora os jardins sejam festejados, é a arquitetura residencial que encanta na cidade
Casas de Kashan convertem barro em ouro
NO IRÃ
"Os arquitetos de Kashan são os
grandes alquimistas da história,
capazes de criar ouro a partir da
areia." A frase proferida por um
enviado da Unesco à cidade, há
mais de dez anos, continua a ser
repetida sem perder a atualidade.
Embora a atração mais festejada
de Kashan sejam os magníficos
jardins Fin, a cidade também impressiona pela grandeza da arquitetura residencial do século 19 e
pela curiosa organização da malha urbana, forjada com a dupla
função de proteger dos invasores
e dos rigores do clima do deserto
de sal que envolve o lugar.
À primeira vista, a cidade de
trânsito pesado para seus pouco
mais de 400 mil habitantes parece
uma coleção confusa de placas de
néon iluminadas em meio a uma
espessa nuvem de areia. Pouco
importa: o charme está nas casas
construídas para nobres mercadores de tapetes, com seus jardins
interiores e paredes entalhadas
em estuque (capaz de conferir
acabamento luxuoso a paredes
rústicas de adobe e tijolo).
Visitar as casas Borujerdi, Tabatabaei, Abassian e Ameriha evidencia a existência de um estilo
maduro de arquitetura em barro,
perfeitamente adequado às condições climáticas da cidade, com
temperaturas que variam de 40C
no verão a índices abaixo de 0C
no inverno. As duas primeiras foram construídas no final do século 19 para as famílias de mesmo
nome pelo arquiteto Ostad-Ali
Maryam, cuja inspiração surgiu
na infância, da observação do trabalho dos artesãos que edificaram
a mesquita Agha Bozorg, onde
acabou por se tornar aprendiz.
As casas, hoje transformadas
em museu, inserem-se no cenário
urbano da velha cidade, escondidas em ruelas estreitas e bem ventiladas, conhecidas como "koochehs". As paredes altas de adobe
ou tijolo foram construídas para
reduzir os efeitos da desertificação, conter tempestades de areia e
dificultar a entrada de invasores
estrangeiros. Protegem do sol no
verão e mantêm as ruas mais
aquecidas no inverno.
Em Tabatabaei, funciona todas
as noites um simpático restaurante, com refeições simples servidas
sobre tablados forrados com tapeçaria. Para um verdadeiro banquete, vale conhecer o Delpazir,
no subterrâneo de uma pequena
galeria, próxima à entrada do bazar, na avenida Aiatolá Kashani.
Administrado por uma inglesa,
seu marido e filho (iranianos),
serve fartos pratos típicos. O tradicional Bath of Mir-Ahmad Soltan mescla gastronomia com arquitetura, num edifício que conserva características do banho
que funcionou ali no século 12.
Mas, além das casas, com seus
românticos jardins interiores,
Kashan exibe o mais antigo jardim persa preservado no Irã. Ele
cobre mais de 24 mil m2, rodeados
por uma muralha. Os cursos d'água, que dividem o jardim em
quatro quadrantes, percorrem canais recobertos por azulejo turquesa. Histórias locais relatam
que os arquitetos que planejaram
o jardim queriam criar uma versão terrena do paraíso. Quem
passeia entre as roseiras e ciprestes centenários, embalado pelo
som da água que corre, chega a
acreditar que eles conseguiram.
(ANA LUCIA BUSCH e CAIO VILELA)
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