São Paulo, segunda, 28 de setembro de 1998

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RIO-SANTOS É FORTE
Monumento tem uma cúpula complexa, com três andares, para abrigar as peças de artilharia
Canhões de Copacabana disparam história

especial para a Folha

O forte de Copacabana, no Rio, é provavelmente o mais famoso dos fortes brasileiros. Ele abriga hoje o Museu Histórico do Exército. Foi construído de 1908 a 1914, equipado com poderosos canhões para a época -dois de calibre 305 mm em uma cúpula blindada, dois de 190 mm em outra cúpula blindada e dois de 75 mm em torretas que retraíam no interior do forte.
Quando ficou pronto, o forte era o mais poderoso da América do Sul. Foi o primeiro de concreto no país.
Parte de sua guarnição foi protagonista do chamado "18 do Forte" em 1922, uma revolta militar contra o governo. Os oficiais jovens -principalmente tenentes- criticavam a nomeação pelo presidente Epitácio Pessoa de um civil para o Ministério da Guerra (hoje do Exército) e também protestavam contra Arthur Bernardes, o candidato oficial que tinha sido eleito à presidência da República.
O governo bombardeou o forte. Os revoltosos, em número pequeno, fazem um último gesto de rebeldia -saem do forte, caminham pela avenida Atlântica e são quase mortos pelas forças legalistas.
Desde então, por ser o mais poderoso da ex-capital da República, o forte esteve no centro de vários episódios político-militares. Atirou contra o cruzador Tamandaré durante os distúrbios políticos de 1955 (mas nenhum tiro acertou).

Museu do Exército
O forte foi transformado em museu em 1986. Novas exposições abertas recentemente fazem dele o melhor museu do Exército.
O museu, subordinado à diretoria de Assuntos Culturais do Exército, tem como objetivo preservar a memória da força terrestre e de sua inserção na sociedade brasileira, da qual a tumultuada história do forte é um bom exemplo.
A cúpula dos canhões principais de 305 mm é uma obra complexa, dividida por três pavimentos básicos. No primeiro pavimento, no térreo, está a plataforma de carregamento, contendo elevadores para a munição.
O segundo pavimento, ou câmara intermediária, contém os chamados "sarilhos" para transportar para cima os projéteis e as cargas explosivas.
O terceiro pavimento, a câmara das baterias, inclui o posto de comando da cúpula, de onde se faz a observação e a direção do tiro.
Mas atirar com um canhão assim contra um alvo móvel e distante como um navio inimigo exige muito mais.
Outras salas do forte possuem equipamento e pessoal dedicado a realizar os complicados cálculos matemáticos para que os projéteis acertem o alvo a alguns quilômetros de distância. Ironicamente, é um trabalho que exigia o trabalho de várias pessoas e tomava tempo -algo que qualquer computador pessoal hoje realizaria em frações de segundo.
Nem todos os canhões são visíveis de fora. Os de calibre 75 mm ficavam em cúpulas internas retráteis, Sul e Norte. Esses canhões eram utilizados para a defesa próxima do forte.
Consta que em 5 de julho de 1922, durante o episódio dos "18 do Forte", o então tenente Eduardo Gomes -o patrono da Aeronáutica- assumiu o comando da torre Norte, chegando a disparar contra alvos governistas.
Para quem duvida que o Rio é o melhor lugar do país para ver canhões, existe no acesso ao forte, na al. Otávio Correia, uma exposição de canhões antigos com peças como um britânico Whitworth calibre 32 libras, típico da guerra do Paraguai, ou um antitanque de 75 mm de calibre tomado dos alemães na Segunda Guerra.
O museu também inclui, fora do forte, o salão Colônia-Império e o salão República, mostrando o papel do Exército nos eventos da história do país.
Há mesmo um equipamento multimídia, em português e inglês, que informa sobre o conteúdo das vitrinas e uma iluminação controlada por computador.
Aberto de terça-feira a domingo, das 10h às 16h (fecha às segundas). O ingresso custa R$ 2 e nas quartas a entrada é franca.
(RICARDO BONALUME NETO)



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