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Fraqueza humana debilita poder das fortalezas
especial para a Folha
A chave para tomar o Rio de Janeiro era evitar danos por suas fortalezas, desembarcar tropas e
avançar rápido. Isso foi feito com
notável perícia pelo francês René
Duguay-Trouin em 1711, em um
episódio bem ilustrativo do papel
dos fortes do Rio e de Niterói.
Curiosamente, foi só depois de
desastres como esse que as autoridades coloniais -no Brasil e em
Portugal- tomavam medidas para melhorar a defesa da cidade
-fechando a porta do estábulo
depois que o cavalo fugiu, na expressão americana.
Em setembro de 1710, o corsário
francês Jean-François Duclerc já
tentara entrar na baía da Guanabara para saquear o Rio. Seus cinco
navios foram impedidos de entrar
na baía pelas fortalezas de Santa
Cruz (Niterói) e São João (Rio).
Desembarcou sua pequena tropa
longe e fez uma marcha extenuante pelo meio do mato até o Rio.
Cansados e sem apoio da artilharia
naval, os corsários se renderam.
Mas o ataque revelou uma quantidade impressionante de inépcia
entre os defensores. Foi a população, e não a tropa regular, que derrotou Duclerc. O governador
Francisco de Castro Moraes, em
uma carta ao rei dom João 5º, foi
fundo na análise: "A fortaleza mais
necessária é a dos homens que não
fujam; essa não sei se com a gente
de cá se poderá remediar". Ironicamente, ele seria um dos que fugiriam no ano seguinte devido a um
novo ataque francês.
Os preparativos para receber a
segunda invasão corsária francesa,
de 1711, foram feitos sem urgência.
As fortalezas e as naus portuguesas
no porto estavam quase desguarnecidas quando a frota entrou rapidamente, no dia 12 de setembro.
Os soldados e os marinheiros estavam cavando trincheiras. Os navios passaram sem dar tempo de
os canhões dos fortes da Mui Heróica e Leal Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro praticarem
pontaria neles.
O último navio terminou a passagem às 14h30. Em seguida, uma
explosão -provavelmente acidental- elimina o forte de Villegaignon. Às 16h, a frota francesa fica fundeada no meio da baía, fora
do alcance da artilharia. A operação custou 80 mortos e 220 feridos
aos franceses.
No dia seguinte, os invasores tomam a ilha das Cobras. Lá pelas
11h, os franceses já têm na ilha cinco morteiros e quatro canhões de
calibre 18 libras, com os quais começam a disparar contra o Rio.
Os franceses tomam a cidade em
21 de setembro, depois de intensos
bombardeios. Libertam presos da
expedição Duclerc (menos o próprio, que tinha sido assassinado) e
judeus presos pela Inquisição.
A população tinha fugido da cidade acompanhando seus "líderes". O governador, o bispo, o almirante, todos os notáveis fugiram
logo. A população pobre foi a que
mais sofreu. Um temporal tornou
a fuga, à noite, um pesadelo. Pessoas eram pisoteadas, morriam
afogadas na lama, mães perdiam
seus filhos ao mesmo tempo em
que os canhões e os trovões tornavam difícil ouvir os gritos.
Os franceses ficam na cidade até
novembro. No dia 4 de novembro,
fazem um embarque geral. No dia
13 do mesmo mês, a última guarnição francesa, em Santa Cruz, embarca, e a armada parte de volta
para a França.
(RBN)
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