São Paulo, segunda, 28 de setembro de 1998

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Fraqueza humana debilita poder das fortalezas

especial para a Folha

A chave para tomar o Rio de Janeiro era evitar danos por suas fortalezas, desembarcar tropas e avançar rápido. Isso foi feito com notável perícia pelo francês René Duguay-Trouin em 1711, em um episódio bem ilustrativo do papel dos fortes do Rio e de Niterói.
Curiosamente, foi só depois de desastres como esse que as autoridades coloniais -no Brasil e em Portugal- tomavam medidas para melhorar a defesa da cidade -fechando a porta do estábulo depois que o cavalo fugiu, na expressão americana.
Em setembro de 1710, o corsário francês Jean-François Duclerc já tentara entrar na baía da Guanabara para saquear o Rio. Seus cinco navios foram impedidos de entrar na baía pelas fortalezas de Santa Cruz (Niterói) e São João (Rio). Desembarcou sua pequena tropa longe e fez uma marcha extenuante pelo meio do mato até o Rio. Cansados e sem apoio da artilharia naval, os corsários se renderam.
Mas o ataque revelou uma quantidade impressionante de inépcia entre os defensores. Foi a população, e não a tropa regular, que derrotou Duclerc. O governador Francisco de Castro Moraes, em uma carta ao rei dom João 5º, foi fundo na análise: "A fortaleza mais necessária é a dos homens que não fujam; essa não sei se com a gente de cá se poderá remediar". Ironicamente, ele seria um dos que fugiriam no ano seguinte devido a um novo ataque francês.
Os preparativos para receber a segunda invasão corsária francesa, de 1711, foram feitos sem urgência. As fortalezas e as naus portuguesas no porto estavam quase desguarnecidas quando a frota entrou rapidamente, no dia 12 de setembro. Os soldados e os marinheiros estavam cavando trincheiras. Os navios passaram sem dar tempo de os canhões dos fortes da Mui Heróica e Leal Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro praticarem pontaria neles.
O último navio terminou a passagem às 14h30. Em seguida, uma explosão -provavelmente acidental- elimina o forte de Villegaignon. Às 16h, a frota francesa fica fundeada no meio da baía, fora do alcance da artilharia. A operação custou 80 mortos e 220 feridos aos franceses.
No dia seguinte, os invasores tomam a ilha das Cobras. Lá pelas 11h, os franceses já têm na ilha cinco morteiros e quatro canhões de calibre 18 libras, com os quais começam a disparar contra o Rio.
Os franceses tomam a cidade em 21 de setembro, depois de intensos bombardeios. Libertam presos da expedição Duclerc (menos o próprio, que tinha sido assassinado) e judeus presos pela Inquisição.
A população tinha fugido da cidade acompanhando seus "líderes". O governador, o bispo, o almirante, todos os notáveis fugiram logo. A população pobre foi a que mais sofreu. Um temporal tornou a fuga, à noite, um pesadelo. Pessoas eram pisoteadas, morriam afogadas na lama, mães perdiam seus filhos ao mesmo tempo em que os canhões e os trovões tornavam difícil ouvir os gritos.
Os franceses ficam na cidade até novembro. No dia 4 de novembro, fazem um embarque geral. No dia 13 do mesmo mês, a última guarnição francesa, em Santa Cruz, embarca, e a armada parte de volta para a França. (RBN)



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