São Paulo, segunda, 28 de setembro de 1998

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Fortes usavam óleo de baleia

especial para a Folha

Os fortes coloniais brasileiros eram feitos de pedra ou de uma mistura que podia incluir desde terra ou areia até cal e óleo de baleia. Portanto, não pegavam fogo se atacados com balas esféricas de ferro disparadas de canhões com alcance máximo de 2 km. Já os navios de madeira da época, com velas de lona e carregamento de pólvora, eram altamente inflamáveis.
Em terra, mas não no mar, é possível usar uma arma poderosa, desde que preparada: as balas podem ser aquecidas em fornalhas e disparadas ainda incandescentes.
Isso mostra como era difícil atacar um forte desses, vindo do mar.
"As lições da guerra provam que as chamadas defesas de costa quase que invariavelmente capitulam como resultado de ataque por terra", escreveu um especialista no tema, sir George Sydenham Clarke.

Carnificina
O maior inimigo dos navios é o fogo, por isso a frota deve evitar ficar trocando tiros com os fortes. Se não pegam fogo, os navios à vela eram extremamente resistentes às balas de ferro maciço. Segundo o historiador John Keegan, as batalhas navais da época eram decididas mais pela morte dos marinheiros numa carnificina do que pelo afundamento de navios.
No Brasil, as técnicas européias de fazer a guerra tinham de sofrer adaptações locais devido à exiguidade de recursos e ao ambiente físico original. Durante as guerras com os holandeses no século 17 surgiu o conceito de "guerra brasílica", por exemplo.

Técnica mista
Segundo o historiador Adler Homero Fonseca de Castro, era "uma maneira de se combater específica, com o emprego de técnicas indígenas enfatizando a mobilidade, o uso de armas primitivas e o combate em formações abertas".
Castro diz ainda que "isto combinado a uma tecnologia européia de construção de fortificações, artilharia e armas de fogo leva ao aparecimento de uma "simbiose', envolvendo o uso de pequenos efetivos (considerando-se apenas europeus ou soldados incorporados à estrutura oficial) em unidades bem móveis, apoiada em fortificações temporárias".
Esse tipo de guerra lembra a guerrilha moderna. "Técnicas complexas, como o ataque metódico a fortificações e a construção de fortes passageiros, são empregadas como técnicas da guerra brasílica, junto com a mobilidade das forças, tudo sempre tendo em vista a negação do uso, porém não necessariamente da posse do território ao inimigo", diz Castro. (RBN)



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