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CHEIRO DE CAFÉ
Painéis de Benedito Calixto expostos na antiga Bolsa retratam o começo da história da cidade
Centro de Santos guarda memórias da antiga riqueza
MARGARETE MAGALHÃES
ENVIADA ESPECIAL A SANTOS
O centro histórico de Santos
ainda cheira a café. E o aroma se
espalha entre as construções do final do século 19 e começo do 20,
quando a cidade litorânea, a 68
km de São Paulo, tornava-se a
maior praça cafeeira do mundo.
Seguindo a fragrância do produto, encontram-se cafés tradicionais no centro da cidade, como
o Carioca e o Café Paulista, este de
1911. No Paulista, a bebida se faz
presente não só no balcão, mas
também nas paredes enfeitadas
com azulejos, encomendados ao
artista italiano José Lubra em
1959, que retratam momentos como o do plantio, da colheita e do
consumo do fruto.
Quase noventa anos mais jovem
que o Paulista, o café do Museu
dos Cafés do Brasil funciona dentro da antiga sede da Bolsa Official
de Café, de 1922, onde eram centralizadas e negociadas as operações do produto número um da
economia brasileira da época.
Com objetos e obras de arte encomendados especialmente para
decorar suas paredes, é possível
ver neste prédio restaurado, desde 1998, a riqueza que o café ostentava -já na entrada, por
exemplo, o pavilhão de 1.205 m2 é
coberto por mármore italiano.
Na área onde era realizado o
pregão, a pedra ganha formas
geométricas, como uma estrela de
seis pontas no centro de um círculo, símbolo da maçonaria.
Voltando no tempo, pode-se
imaginar o ritual de negociação,
quando os corretores expunham
os grãos dos produtos nas mesinhas de jacarandá em frente às
127 cadeiras, enquanto eram observados pelos fazendeiros que ficavam no mezanino, situado no
primeiro andar.
Ao fundo da área do pregão,
três painéis do artista plástico Benedito Calixto exaltam a cidade, a fundação
de Santos por Brás Cubas -retratada num painel central de 9 m x 3
m- e o porto de Santos em dois
momentos, em 1822 e cem anos
depois, data da inauguração da
Bolsa do Café.
E, para completar o ambiente
artístico, no centro do pregão as
negociações eram iluminadas pelo vitral da tradicional Casa Con-
rado: "A Visão do Anhanguera, a
Mãe Douro e as Mães d'Água",
lenda que faz referência à riqueza
e à prosperidade, que durou até os
anos 50. A Bolsa foi desativada em
1951.
Para reavivar ainda mais a história do café, o projeto de restauração e reforma das instalações
prevê para junho deste ano a
abertura de biblioteca, livraria e
acervo de base histórica, com peças e maquinário da época.
Nostalgia
Apesar de as lembranças estarem por toda parte, do vigor cafeeiro restam mais as reminiscências e a nostalgia. Alguns prédios
que espelhavam a pujança do café
estão abandonados, sob litígio ou
em processo de restauração.
Apesar de apagada pelos anos
de descuido, a estação de trem
São Paulo Railway, também conhecida por Santos-Jundiaí, mantém sua grandeza. Cópia da Victoria Station, de Londres, a estrada de ferro, que começou a operar
em 1868, agilizou o transporte do
café para ser exportado pelo porto
de Santos.
De propriedade de uma empresa privada, a revitalização da estação, que deverá abrigar um centro
de convenções, já recebeu R$ 3
milhões do governo do Estado,
mas depende de um contrato da
prefeitura com o proprietário para dar início às obras.
Na rua do Comércio, onde ficava a residência de Alexandre de
Gusmão (1696-1753) -considerado o "avô da diplomacia brasileira" por ter triplicado as terras
para o país com a assinatura do
Tratado de Madri (1750)-, as casas do século 19 estão deterioradas e algumas usam o térreo para
estacionamento.
Para tentar reverter a situação e
revitalizar o centro histórico, uma
cartilha distribuída pela prefeitura indica como o dono do imóvel
pode obter reduções de Imposto
de Renda, isenção de IPTU e linhas de crédito em bancos para
restaurar a propriedade.
Museu dos Cafés do Brasil - Funciona
de terça à sábado das 9h às 17h, e aos domingos, das 10h às 17h; rua 15 de Novembro, 95, tel.: 0/xx/13/3219-5585
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