São Paulo, segunda-feira, 29 de janeiro de 2001

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CHEIRO DE CAFÉ
Painéis de Benedito Calixto expostos na antiga Bolsa retratam o começo da história da cidade
Centro de Santos guarda memórias da antiga riqueza

MARGARETE MAGALHÃES
ENVIADA ESPECIAL A SANTOS

O centro histórico de Santos ainda cheira a café. E o aroma se espalha entre as construções do final do século 19 e começo do 20, quando a cidade litorânea, a 68 km de São Paulo, tornava-se a maior praça cafeeira do mundo.
Seguindo a fragrância do produto, encontram-se cafés tradicionais no centro da cidade, como o Carioca e o Café Paulista, este de 1911. No Paulista, a bebida se faz presente não só no balcão, mas também nas paredes enfeitadas com azulejos, encomendados ao artista italiano José Lubra em 1959, que retratam momentos como o do plantio, da colheita e do consumo do fruto.
Quase noventa anos mais jovem que o Paulista, o café do Museu dos Cafés do Brasil funciona dentro da antiga sede da Bolsa Official de Café, de 1922, onde eram centralizadas e negociadas as operações do produto número um da economia brasileira da época.
Com objetos e obras de arte encomendados especialmente para decorar suas paredes, é possível ver neste prédio restaurado, desde 1998, a riqueza que o café ostentava -já na entrada, por exemplo, o pavilhão de 1.205 m2 é coberto por mármore italiano.
Na área onde era realizado o pregão, a pedra ganha formas geométricas, como uma estrela de seis pontas no centro de um círculo, símbolo da maçonaria.
Voltando no tempo, pode-se imaginar o ritual de negociação, quando os corretores expunham os grãos dos produtos nas mesinhas de jacarandá em frente às 127 cadeiras, enquanto eram observados pelos fazendeiros que ficavam no mezanino, situado no primeiro andar.
Ao fundo da área do pregão, três painéis do artista plástico Benedito Calixto exaltam a cidade, a fundação de Santos por Brás Cubas -retratada num painel central de 9 m x 3 m- e o porto de Santos em dois momentos, em 1822 e cem anos depois, data da inauguração da Bolsa do Café.
E, para completar o ambiente artístico, no centro do pregão as negociações eram iluminadas pelo vitral da tradicional Casa Con- rado: "A Visão do Anhanguera, a Mãe Douro e as Mães d'Água", lenda que faz referência à riqueza e à prosperidade, que durou até os anos 50. A Bolsa foi desativada em 1951.
Para reavivar ainda mais a história do café, o projeto de restauração e reforma das instalações prevê para junho deste ano a abertura de biblioteca, livraria e acervo de base histórica, com peças e maquinário da época.

Nostalgia
Apesar de as lembranças estarem por toda parte, do vigor cafeeiro restam mais as reminiscências e a nostalgia. Alguns prédios que espelhavam a pujança do café estão abandonados, sob litígio ou em processo de restauração.
Apesar de apagada pelos anos de descuido, a estação de trem São Paulo Railway, também conhecida por Santos-Jundiaí, mantém sua grandeza. Cópia da Victoria Station, de Londres, a estrada de ferro, que começou a operar em 1868, agilizou o transporte do café para ser exportado pelo porto de Santos.
De propriedade de uma empresa privada, a revitalização da estação, que deverá abrigar um centro de convenções, já recebeu R$ 3 milhões do governo do Estado, mas depende de um contrato da prefeitura com o proprietário para dar início às obras.
Na rua do Comércio, onde ficava a residência de Alexandre de Gusmão (1696-1753) -considerado o "avô da diplomacia brasileira" por ter triplicado as terras para o país com a assinatura do Tratado de Madri (1750)-, as casas do século 19 estão deterioradas e algumas usam o térreo para estacionamento.
Para tentar reverter a situação e revitalizar o centro histórico, uma cartilha distribuída pela prefeitura indica como o dono do imóvel pode obter reduções de Imposto de Renda, isenção de IPTU e linhas de crédito em bancos para restaurar a propriedade.

Museu dos Cafés do Brasil - Funciona de terça à sábado das 9h às 17h, e aos domingos, das 10h às 17h; rua 15 de Novembro, 95, tel.: 0/xx/13/3219-5585



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