Tire seu passaporte e vá para o Rio. Você vai entender o que eu estou falando.
Uma das boas coisas de viajar é contar as novidades ao chegar, deixar embasbacado o pessoal que ficou no escritório ralando enquanto você estava numa boa.
Para isso, você tem que usar a imaginação, seja para bolar um roteiro de férias criativo, seja para inventar um monte de mentiras quando voltar ao trabalho. A primeira opção é muito mais divertida, vai por mim.
Não basta marcar uma ponte aérea e sair contando vantagem. Ninguém vai perder o precioso tempo do cafezinho ouvindo sua aventura de escalar o Corcovado no lombo de um trem elétrico ou vendo sua foto fora de foco do alto do Pão de Açúcar.
Existe muito mais Rio do que isso. Acorde cedo e vá até Ipanema, para comprovar que aquela praia de areias quase desérticas de que o Ruy Castro tanto fala ainda está lá. Carioca é preguiçoso; se você levantar antes das dez da manhã, a praia é toda sua até o meio-dia.
O Rio tem atualmente a maior rede de transportes alternativos do país. São centenas de vans, ônibus piratas, moto-táxis ilegais, sem falar nos bondes do tráfico. Mas o seu melhor transporte não-convencional é, sem dúvida, o jipe de turismo.
Se paramos numa esquina da zona sul, vemos passar um jipe com uma turma de turistas. Todo carioca inveja aqueles viajantes que, em plena segunda-feira, estão num jipe desfrutando sua cidade, enquanto o Mané está indo ralar. E o pior, depois de um longo passeio pelas nossas matas e cachoeiras, é que eles poderão dar razão ao Bart Simpson: o Rio está cheio de micos, macacos e símios em geral.
Foi-se o tempo de ir ao Rio fazer programa de turista. O turista não quer mais ser confundido com turista. Ele agora quer fazer o que o carioca faz. Ele quer mergulhar nas ilhas Cagarras, quer se misturar aos cariocas, se sentir um de nós, caminhando na floresta da Tijuca, saltando de asa-delta até São Conrado, escalando à unha a pedra Bonita...
O único problema é que nós não fazemos nada disso. Carioca que é carioca prefere mesmo é ficar de bobeira.