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Apresentador refuta boicote sugerido pelo ministro da Justiça a "programas de mau gosto" e diz que críticas se devem aos seus índices de audiência: "A gente fica visado"
"Falam mal de mim porque meu programa incomoda"
Reprodução
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Modelo passeia nua pela rua em pegadinha do programa de Sérgio Mallandro |
CLÁUDIA CROITOR
DA REPORTAGEM LOCAL
ELE JÁ foi um ídolo das crianças,
chegou a substituir Xuxa durante as
férias da apresentadora, comandou atrações infantis na Globo e no SBT, contracenou com o trapalhão Didi no cinema.
Hoje, o apresentador Sérgio Mallandro,
39, é sinônimo de, no mínimo, polêmica.
Dono de três atrações na TV Gazeta,
repletas de mulheres seminuas lutando
no gel e pegadinhas com drogas, revólver
e bate-boca, ele pode ser considerado um
alvo perfeito para a portaria 796 do Ministério da Justiça, que altera as regras de
classificação dos programas de TV.
Mesmo assim, seus programas "Festa
do Mallandro" 1 e 2 e "Allegria Geral" são
líderes de audiência na Gazeta, com médias de 5 pontos e picos de até 12 pontos
no Ibope, e já conseguiram ficar até na
frente da Rede Globo. "Falam mal dos
meus programas porque eu incomodo
muita gente", defende-se o apresentador. A seguir, trechos de entrevista que
ele concedeu à Folha.
Seus três programas são os de maior
ibope da TV Gazeta. Por que, na sua opinião, você tem tanta audiência?
Meu programa é para as pessoas darem risada, para se divertirem, para verem mulheres bonitas. Todo mundo só
vê desgraça, só tem conta pra pagar, vive
com medo de assalto, de doença. E, no final do programa, eu procuro sempre
passar uma mensagem positiva, falo de
uma campanha antidrogas, falo para as
pessoas doentes nos hospitais não desistirem da vida. As pessoas gostam disso.
Mesmo sendo líder de audiência na Gazeta, segundo a superintendente de programação da emissora, Marinês Rodrigues, seus programas não trazem receita
porque os anunciantes não querem vincular suas marcas a eles.
Eu acho que quem não consegue vender anúncio para o Sérgio Mallandro é
incompetente. Estou na TV há 19 anos, e
todos os programas em que eu trabalhei
foram sempre vendáveis. A falta de
anunciantes deve ser por causa dos preços dos anúncios, já que, por terem a
maior audiência, meus programas são os
mais caros da casa. Então, os anunciantes procuram programas mais baratos.
O ministro da Justiça, José Gregori, chegou a propor que os telespectadores fizessem um boicote a programas de "mau
gosto" e criticou, entre outros, o seu programa. O que, na sua opinião, faz seus
programas serem considerados assim?
Quem está falando isso é uma pessoa
que mora em Brasília e não vê meu programa. Ele vê pelos jornais. A imprensa
fala mal do meu programa porque ele incomoda muita gente. O que a gente faz
de tão errado assim? O que fazemos de
errado, na verdade, é ficar várias vezes
em primeiro lugar na audiência. E, quando isso acontece, viramos alvo de críticas. Não quero mais ficar em primeiro
lugar, a gente fica muito visado. Por
exemplo, houve um sábado que a Globo
estava com 12 pontos no Ibope e eu estava com 10,7. E eu tinha uma pegadinha
muito boa para pôr no ar, que iria fazer o
meu programa superar a Globo. Sabe o
que eu fiz? Mandei chamar o intervalo.
Como diz o Silvio Santos, é ruim ser o
primeiro. Melhor é ser o segundo, que
ninguém fala nada de você.
Você foi acusado de assédio por uma assistente de palco e de ser viciado em cocaína por um ex-produtor do seu programa. Isso ajudou a mudar sua imagem de
ídolo infantil para "rei da baixaria"?
Ninguém chuta cachorro morto.
Quando eu estava fora do ar, ninguém
inventava nada disso. Estou processando essas pessoas. Eu tive que fazer um
exame para provar que eu nunca usei
drogas, mas ninguém publicou isso. Minha mãe foi parar no hospital por causa
disso. As pessoas usam meu nome para
conseguir espaço na mídia.
E os casos de pegadinhas polêmicas que
já foram feitas no seu programa, como a
de um homem pendurado em uma placa
na marginal Tietê, que mobilizou o corpo
de bombeiros, ou a simulação de um acidente de trem, apoiado pelo governo e
pelo Ministério da Saúde?
Quem fez a pegadinha do homem pendurado foi o mesmo produtor que me
acusou de usar drogas. Ele fez isso sem o
meu conhecimento, para prejudicar o
programa. A pegadinha da simulação foi
outro problema: fizemos uma simulação
de uma pessoa pegando fogo, mas, na
hora de colocar a fita da pegadinha, o técnico se enganou e colocou a fita da simulação do governo sem querer.
A nova portaria do Ministério da Justiça
veio para combater programas com mulheres seminuas, tiros, violência, pegadinhas de mau gosto. Seu programa representa tudo o que a portaria quer coibir?
Cenas de meninas de biquíni existem
desde o programa do Chacrinha. O Gugu
exibe a garota da banheira no domingo à
tarde, a novela das sete mostra o índio
pelado. Não posso falar sobre essa portaria porque estou por fora. Estou esperando receber um comunicado da direção
da emissora. Sou apenas um funcionário, o problema não é meu. Meu programa da noite tem pegadinhas mais sensuais, para adultos, mas o programa da
tarde é feito para crianças.
Então você acha que, para certas atrações, deve existir horário determinado?
É uma questão de bom senso. Sei que
pode haver no meu programa coisas que
as crianças não deveriam assistir. Mas a
novela mostra mulher pelada, o SBT
mostra a garota da camiseta molhada, e
eu concorro com todos esses programas,
então tenho que mostrar o que eles mostram. Não colocamos uma menina tirando a roupa de graça. Há um contexto.
Mas a pegadinha é feita para que ela
apareça sem roupa...
Claro. Isso é uma pegadinha engraçada, sensual. Ela não está transando, como nos filmes que os canais exibem no
horário. Ela está no camarim.
Uma pegadinha como aquela em que
um ator ofereceu "cocaína" ao cantor Rafael não é algo que choca?
Sim, foi uma cena forte. O intuito foi
mostrar que ele estava curado, que não
tinha mais nada a ver com as drogas.
Do que você seria capaz pela audiência?
Eu vou até um limite, que é minha
consciência, sei até onde posso ir. Sou
um cara de família. Mas não sou hipócrita, nem vou fugir da linguagem da televisão. Senão, iria para uma TV educativa.
Já cometemos erros nesse programa, eu
sei. Mas nem por isso meu programa está pesado. O povo quer ver uma menina
de biquíni, quer dar risada. À noite, tenho que usar a linguagem da noite, mas
isso não quer dizer que eu serei obsceno.
Para você, o que é de mau gosto na TV?
De mau gosto são as notícias que a gente ouve, as filas nos hospitais, as injustiças com as crianças, as mentiras dos políticos, as eleições. Não tem que existir
censura. Na TV, você vê o que quiser.
Na sua opinião, a televisão deveria ter
uma função mais social, mais educativa?
Educação tem que ser feita na escola, a
televisão serve para divertir, para informar. Eu teria o maior prazer em ceder o
meu programa para fazer campanhas
antidrogas para alertar os jovens, por
exemplo, mas ensinar o ABC tem que ser
na escola, senão a gente vai tirar o emprego dos professores.
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