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HUMOR
Renato Aragão tenta mudar horário de seu humorístico na Globo
e diz que quer fazer programa cômico "com historinha"
Para Didi, público hoje só quer sitcom
IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL
N EM BEM lançou seu 40º filme como protagonista, "O Trapalhão e a
Luz Azul" -que estreou há três semanas
em 240 salas no país-, o humorista Renato Aragão, 64, já pensa nas novidades
que vai apresentar na TV no ano 2000.
"Não preparei nada, não", começa,
com seu jeito sério e humilde, para logo
depois abrir o jogo: "Um programa com
quadros já não é aceitável hoje. O povo
quer sitcom".
Sitcom vem da expressão "situation
comedy", ou "comédia de costumes".
Trata-se de um seriado cômico que traz
uma história completa por semana.
Atualmente, Aragão comanda "A Turma do Didi", aos domingos, na Globo
-sem contar as reprises do programa
"Os Trapalhões" (1976-93), que a rede
exibe nas manhãs de segunda a sábado.
Em "A Turma do Didi", ele andou testando o gênero
sitcom. "É o seguinte: quem pede isso é o público, não é
a gente. Então, você vê, quando comecei a "Turma do
Didi", eram quadros, quadros maravilhosos. Mas eles
fazem pesquisas. "Você quer historinha?" Aí, emplacou.
Só não dá mais porque não tem público nesse horário.
O share (porcentagem da audiência sintonizada no programa) pega quase 80% do público. Então, é momento
pra sitcom. Por enquanto."
"Por enquanto" também é o que vai durar o programa
"A Turma do Didi". "Estou nesse horário do meio-dia,
que a Globo precisa, no sacrifício. Porque você vem do
esporte e entra na parte vespertina, que é outro público,
quando as pessoas começam a chegar. É a pior hora, domingo ao meio-dia. O índice era pra dar 10 pontos (cada
ponto equivale a cerca de 80 mil telespectadores na
Grande SP). Eu dou 16, 14. Quando faz sol, cai pra 12.
Mas não pretendo ficar ali, não. Só até o meio deste
ano."
Depois, Aragão quer emplacar sua sitcom, mas já avisa: "Não será com quatro trapalhões. Não vou substituir
pessoas. Antes era uma dupla (com Dedé Santana), depois veio essa fase maravilhosa, que acabou com a morte de dois companheiros (Zacarias, em 90, e Mussum,
em 94). Então vamos fazer outro tipo de programa".
"Os próprios trapalhões", continua Aragão, "mudaram de comportamento várias vezes nestes 35 anos. Começou como uma comédia completa, de uma hora, chamada "Os
Adoráveis Trapalhões", na TV Excelsior.
Depois virou esquetes. Depois disso, foi
para a TV Record como comédia. Até então, tinha sido sitcom, quadros, sitcom.
Aí fomos para a Tupi como variedades.
Tinha mais musical que humor, tinha
entrevistas. Aí voltou para histórias, sitcom. Então fomos para Globo com quadros. Desse jeito ficou mais tempo", diz,
se referindo aos 17 anos do programa na
Globo.
No Ceará
Ao contrário do que muita gente pensa,
Renato Aragão não começou sua carreira
em circo, e sim direto na TV. "Não tinha
nenhuma experiência. Estudava advocacia e trabalhava como bancário em Fortaleza", conta Aragão, que nasceu em Sobral, interior do Ceará.
Aragão tinha entre 23 e 24 anos quando
chegou à capital a TV Ceará, da Rede Tupi. "Estava tudo guardado. Quando
criança, eu ia 19 vezes assistir ao Oscarito.
A fita ficava em cartaz um mês, eu ia o
mês todo. Aí pensei: "Essa é a minha
chance, mas como é que eu vou?". No
Banco do Nordeste, ganhava um bom dinheiro. Estava no quarto ano de direito...
Como ia dizer para o pessoal que ia ser
palhaço?"
Aragão acabou indo fazer, como ouvinte, um curso que a TV ofereceu para
radialistas da região. "Pedi férias no banco, fiz isso escondido, ninguém sabia absolutamente de nada", lembra. Na prova
final, escreveu um esquete chapliniano,
sem falas. Acabou aprovado.
"O diretor me disse: "Quero você porque esse caras têm vícios de rádio. Você
não usou falas. Isso é que é TV!"."
O sucesso veio rápido. Aragão gravou o
programa de inauguração no final de
1960. Tinha apenas meia hora, o "Vídeo
Alegre". Ia ao ar nas noites de quarta-feira, às 19h. "Fiquei famoso rápido, e aí
veio o sufoco. Ia trabalhar de ônibus e,
quando descia no ponto, não conseguia
andar em paz a distância até em casa."
"Dois meses depois, tudo piorou ainda mais. O povo
se juntava na frente dos poucos televisores que havia na
cidade e o pessoal me agarrava na rua. Eu não entendia
nada. Fiquei trancado em casa três dias."
Nessa época, 1961, 62, não havia transmissão via satélite nem videoteipe, só programas ao vivo. "Era tudo local, acontecia ali, morria ali. Mas chegou notícia no Rio
de Janeiro que tinha um cara em Fortaleza fazendo um
treco diferente." Aragão chegou ao Rio em 63. De "treco
diferente" em "treco diferente", está lá até hoje.
HOMENAGEM - Renato Aragão completa 65 anos nesta quinta-feira, 13 de
janeiro. Nesse dia, o Canal Brasil exibe, às 16h30, um documentário sobre o
humorista e, em seguida, o filme "Bonga, o Vagabundo" (71).
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