São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 2001

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COMPORTAMENTO

O apresentador Max Fivelinha e Sócrates, de "Malhação", são exemplos diferentes de abordagem de homossexuais na TV

Mais espaço, menos clichê

BRUNO GARCEZ
CLÁUDIA CROITOR
DA REPORTAGEM LOCAL

NA ÚLTIMA semana, depois de ter sua homossexualidade descoberta por seus colegas de colégio, Sócrates decide mudar de escola. A história foi ao ar no seriado "Malhação", da Globo -programa voltado para o público adolescente, nas tardes da emissora, povoado por garotos e garotas bonitas.

Ao mesmo tempo, o ex-cabeleireiro Max Fivelinha, homossexual assumido, que tem um quadro no "talk show" "Gordo a Go Go" na MTV, prepara-se para comandar um programa dominical na emissora a partir de março.
Os dois casos acima, embora distintos, são um exemplo dos tratamentos variados que os homossexuais recebem na televisão.
No caso de "Malhação", o personagem Sócrates, vivido pelo ator Erik Marmo, aparecia sem qualquer estereótipo e atraía a atenção das meninas. "Não quis fazer um clichê, especialmente em um programa que quer mostrar com realismo o universo dos adolescentes", conta Emanoel Jacobina, autor da série.
"Na TV, há a limitação de se trabalhar em um meio que entra nas casas das pessoas e é uma concessão pública. Por isso, devemos respeitar a moral da maioria da sociedade brasileira. Mas quis apontar as repressões da sociedade", diz.
Erik Marmo, que vive seu primeiro papel na TV, considera positivo interpretar Sócrates. "O personagem teve muita repercussão", diz. "Nunca sofri nenhum tipo de preconceito ou agressão."
Mas nem sempre foi assim. Quando o personagem não tem que "desaparecer", por determinação da emissora ou pela má aceitação dos telespectadores, o ator pode sofrer reações do público, caso de André Gonçalves, que interpretou o homossexual Sandrinho em "A Próxima Vítima" e chegou a ser agredido na rua.
O Sócrates de "Malhação" tem agradado também à comunidade gay. "Ele é retratado com verossimilhança. O autor discute e ridiculariza o preconceito, sem julgamentos morais. É a melhor abordagem do assunto desde o Sandrinho", diz André Fischer, diretor do Mix Brasil e colunista da Folha.
Sem bandeira
Ainda que não esconda sua opção sexual, Max Fivelinha diz não querer carregar qualquer bandeira. "Não vendo sexo na TV. Não quero vincular minha imagem a uma tribo." Segundo Max, sua persona televisiva é um personagem que ele veste quando vai ao ar. "Em comum com o personagem, só os bordões."
A própria MTV diz que a sexualidade do apresentador não influiu em nada. "Max sempre foi uma figura folclórica na MTV, mas não por ser gay, e sim por ser engraçadíssimo. Sou contra explorar a sexualidade em uma atração de TV, como criar um programa GLS, porque você coloca os gays em um nicho", afirma Zico Goes, diretor de programação e produção da MTV.
Assim como Max Fivelinha, atores que interpretam ou que viveram personagens gays evitaram fazer com que a sexualidade de seus tipos estivesse em primeiro plano. É o que diz Luís Salem, que vive o homossexual Ávila em "Um Anjo Caiu do Céu". "Tanto o Ávila como o personagem gay que vivi em "Anjo Mau" tinham uma conotação não-sexual, pois não era mostrada a relação deles com ninguém. Não quis fazer o Ávila com trejeitos de mão, porque as pessoas não são caricaturais no cotidiano", diz.
Cecil Thiré, que viveu o bissexual Mário Liberato em "Roda de Fogo", diz que não procurou enfatizar a condição sexual do personagem. "Sua função na trama era ser um antagonista. A chave é que ele não se assumia publicamente."
Há também o caso do caricatural Pitt-Bicha, interpretado por Tom Cavalcante em "Zorra Total". Para Luís Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação, a transferência do quadro da tarde, quando era exibido no "Megatom", para a noite, no "Zorra Total", se deveu a uma "decisão para adequar o quadro à faixa etária do público". Segundo ele, em sua teledramaturgia, a Globo já recorreu a psicólogos para auxiliar na composição de personagens gays. "Eles não são tratados como uma categoria, mas como indivíduos com características próprias."
Retratar a vida de homossexuais também pode angariar pontos no Ibope. Foi o que aconteceu com o apresentador João Kleber, do "Te Vi na TV", que atingiu 10 pontos de audiência (cada ponto equivale a 80 mil telespectadores na Grande São Paulo) quando exibiu uma entrevista com o travesti Taila, no último dia 29, obtendo o maior ibope da história da Rede TV!.
Kleber caracterizou-se como a drag queen Charlotte Pink, que interpreta há mais de um ano. Ainda que o personagem seja de gosto duvidoso, Kleber garante que Charlotte "é venerada por gays e drag queens." Kleber quer ainda montar uma banda de drags para o programa e tornar fixa a participação de Taila.


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