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COMPORTAMENTO
O apresentador Max Fivelinha e Sócrates, de "Malhação", são exemplos diferentes de abordagem de homossexuais na TV
Mais espaço, menos clichê
BRUNO GARCEZ
CLÁUDIA CROITOR
DA REPORTAGEM LOCAL
NA ÚLTIMA semana, depois de ter
sua homossexualidade descoberta
por seus colegas de colégio, Sócrates decide mudar de escola. A história foi ao ar
no seriado "Malhação", da Globo -programa voltado para o público adolescente, nas tardes da emissora, povoado por
garotos e garotas bonitas.
Ao mesmo tempo, o ex-cabeleireiro
Max Fivelinha, homossexual assumido,
que tem um quadro no "talk show"
"Gordo a Go Go" na MTV, prepara-se
para comandar um programa dominical
na emissora a partir de março.
Os dois casos acima, embora distintos,
são um exemplo dos tratamentos variados que os homossexuais recebem na televisão.
No caso de "Malhação", o personagem
Sócrates, vivido pelo ator Erik Marmo, aparecia sem
qualquer estereótipo e atraía a atenção das meninas.
"Não quis fazer um clichê, especialmente em um programa que quer mostrar com realismo o universo dos
adolescentes", conta Emanoel Jacobina, autor da série.
"Na TV, há a limitação de se trabalhar em um meio
que entra nas casas das pessoas e é uma concessão pública. Por isso, devemos respeitar a moral da maioria da
sociedade brasileira. Mas quis apontar as repressões da
sociedade", diz.
Erik Marmo, que vive seu primeiro papel na TV, considera positivo interpretar Sócrates. "O personagem teve muita repercussão", diz. "Nunca sofri nenhum tipo
de preconceito ou agressão."
Mas nem sempre foi assim. Quando o personagem
não tem que "desaparecer", por determinação da emissora ou pela má aceitação dos telespectadores, o ator
pode sofrer reações do público, caso de André Gonçalves, que interpretou o homossexual Sandrinho em "A
Próxima Vítima" e chegou a ser agredido na rua.
O Sócrates de "Malhação" tem agradado também à
comunidade gay. "Ele é retratado com verossimilhança.
O autor discute e ridiculariza o preconceito, sem julgamentos morais. É a melhor abordagem do assunto desde o Sandrinho", diz André Fischer, diretor do Mix Brasil e colunista da Folha.
Sem bandeira
Ainda que não esconda sua opção sexual, Max Fivelinha diz não querer carregar qualquer bandeira. "Não vendo sexo
na TV. Não quero vincular minha imagem a uma tribo." Segundo Max, sua
persona televisiva é um personagem que
ele veste quando vai ao ar. "Em comum
com o personagem, só os bordões."
A própria MTV diz que a sexualidade
do apresentador não influiu em nada.
"Max sempre foi uma figura folclórica na
MTV, mas não por ser gay, e sim por ser
engraçadíssimo. Sou contra explorar a
sexualidade em uma atração de TV, como criar um programa GLS, porque você
coloca os gays em um nicho", afirma Zico Goes, diretor de programação e produção da MTV.
Assim como Max Fivelinha, atores que
interpretam ou que viveram personagens gays evitaram fazer com que a sexualidade de seus tipos estivesse em primeiro plano. É o que diz Luís Salem, que
vive o homossexual Ávila em "Um Anjo
Caiu do Céu". "Tanto o Ávila como o
personagem gay que vivi em "Anjo Mau"
tinham uma conotação não-sexual, pois
não era mostrada a relação deles com
ninguém. Não quis fazer o Ávila com trejeitos de mão, porque as pessoas não são
caricaturais no cotidiano", diz.
Cecil Thiré, que viveu o bissexual Mário Liberato em "Roda de Fogo", diz que
não procurou enfatizar a condição sexual
do personagem. "Sua função na trama
era ser um antagonista. A chave é que ele
não se assumia publicamente."
Há também o caso do caricatural Pitt-Bicha, interpretado por Tom Cavalcante
em "Zorra Total". Para Luís Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação,
a transferência do quadro da tarde,
quando era exibido no "Megatom", para
a noite, no "Zorra Total", se deveu a uma
"decisão para adequar o quadro à faixa
etária do público". Segundo ele, em sua
teledramaturgia, a Globo já recorreu a
psicólogos para auxiliar na composição
de personagens gays. "Eles não são tratados como uma categoria, mas como indivíduos com características próprias."
Retratar a vida de homossexuais também pode angariar pontos no Ibope. Foi o que aconteceu com o apresentador João Kleber, do "Te Vi na TV", que atingiu 10
pontos de audiência (cada ponto equivale a 80 mil telespectadores na Grande São Paulo) quando exibiu uma
entrevista com o travesti Taila, no último dia 29, obtendo o maior ibope da história da Rede TV!.
Kleber caracterizou-se como a drag queen Charlotte
Pink, que interpreta há mais de um ano. Ainda que o
personagem seja de gosto duvidoso, Kleber garante que
Charlotte "é venerada por gays e drag queens." Kleber
quer ainda montar uma banda de drags para o programa e tornar fixa a participação de Taila.
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