São Paulo, Domingo, 11 de Abril de 1999
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Com Manchete, CNT, Bandeirantes, SBT, Globo e Cultura cortando despesas e dispensando funcionários, a programação das emissoras cada vez mais deixa transparecer a crise que afeta o setor
Os efeitos da crise

Lili Martins/Folha Imagem
Mário César Santos, funcionário da Manchete que não recebe seu salário desde outubro e está acampado em frente à sede da emissora em SP


ALINE SORDILI
da Reportagem Local

A crise econômica atingiu a programação das redes de TV. Demissões e cortes de despesas nos departamentos artístico, jornalístico e técnico são cada vez mais perceptíveis para o telespectador.
A crise da Manchete se arrasta desde outubro, quando deixou de pagar seus funcionários. A CNT, com grandes dívidas cobradas na Justiça, eliminou os postos de diretor artístico e de gerente de produção do Rio, mas nega demissões.
No SBT, funcionários dos departamentos artístico e jornalístico foram demitidos. Só no mês passado, cerca de 15 profissionais deixaram a emissora.
Outras emissoras também dão mostras do impacto da crise. A Bandeirantes e a Cultura (que teve a luz cortada pela Eletropaulo Metropolitana recentemente por atraso no pagamento) estão adiando a produção de algumas atrações (leia texto ao lado). A Globo reduziu a verba investida em algumas produções e demitiu 480 pessoas em novembro.
No caso da Manchete, a solução para o impasse, mais uma vez, pode estar próxima. Agora, o grupo TeleTV, do empresário Amílcare Dallevo Junior, está fazendo uma auditoria para verificar a viabilidade da emissora. A conclusão sobre o estudo sai este mês. A TeleTV, empresa especializada em sorteios eletrônicos (0900), assumiria uma emissora com um passivo estimado em R$ 250 milhões e com a programação desestruturada. Os programas das apresentadoras Márcia Peltier e Claudete Troiano saíram do ar, assim como o "Na Rota do Crime".
A igreja Renascer, que ficou cerca de 40 dias no comando, só pagou o salário de alguns empregados.
A audiência da Manchete, que já chegou a dez pontos no horário nobre, é hoje de no máximo dois pontos no Ibope (cada ponto representa cerca de 80 mil telespectadores na Grande São Paulo).
"O descaso da emissora com os funcionários é o que mais assusta. Meu programa registrou uma alta no faturamento de 400%, dando até quatro pontos no Ibope. Com a crise, saiu do ar", afirma Claudete. Hoje, a apresentadora negocia uma possível volta à CNT/Gazeta ou mesmo um novo programa na Rede Mulher.
Cerca de 60 funcionários da emissora estão acampados em frente ao prédio da Manchete tentando sensibilizar a diretoria. "Queremos negociar o pagamento dos salários", afirma Mário César Santos, 34, um dos acampados, que trabalha na emissora desde abril de 97 no extinto "Na Rota do Crime".
Daniel Barbará, diretor comercial da agência de publicidade DPZ, avalia que seriam necessários oito anos de faturamento da Manchete, com programação normal, para que um comprador tivesse compensado seu gasto com a compra da emissora. "Isso sem contar os gastos para levantar a produção."

CNT
A CNT nega demissões, mas deixou de produzir pelo menos dois programas: o de Juca Kfouri e o do cantor Ronnie Von e os funcionários dessas atrações foram dispensados.
Deni Cavalcanti, 49, diretor artístico da CNT em São Paulo, diz que a emissora tem ordens para não gastar. "Apertamos o cinto até onde dá."
A Folha apurou que a CNT não paga alguns salários há cerca de três meses e meio, e que parte do primeiro escalão da casa também está sem receber.
Leleco Barbosa também deixou a emissora, só que no Rio. Seu cargo de diretor de produção e programação e o de gerente de produção foram unificados e serão ocupados por uma só pessoa, indicada pela sede, no Paraná.
"Eu era uma figura decorativa. Não tinha nada para acrescentar. Achei melhor sair", afirmou ele, que deixou a emissora na última semana. Mas salienta: "Foi uma saída da mais alta cordialidade".
Segundo ele, durante os dois anos e meio em que chefiou a programação, não houve investimento em produção. "Não tem o que descer mais."
"A qualidade da programação caiu muito", afirma Barbosa.
A Folha apurou junto ao SCI (Segurança ao Crédito e Informações) que até 98 haviam sido registrados sete pedidos de falência contra a emissora, de propriedade do deputado federal José Carlos Martinez (PTB) e de seu irmão, Flávio. Segundo o diretor jurídico da emissora, Ogier Buchi, isso foi resolvido.
Informado que a empresa também tinha 13 ações executivas, 30 execuções da Fazenda Federal, 121 protestos em cartórios no valor de R$ 775.704,19 e 4 títulos vencidos, Buchi disse que verificaria a veracidade das informações do SCI e se algumas delas já estariam sendo resolvidas.
Até o fechamento desta edição, Buchi, procurado pela reportagem, não se pronunciou. A Folha tentou ainda ouvir Flávio Martinez, que estava em São Paulo, e o deputado José Carlos, em Brasília. Nenhum deles respondeu às ligações da Folha.

SBT
Apesar de ter contratado pessoal para o programa "Ô... Coitado!", o SBT praticamente extinguiu seu departamento de jornalismo em São Paulo.
Em 98, foram demitidos cerca de 70 pessoas (entre jornalismo, produção e pessoal). Em 97, a emissora demitiu mais de 200 funcionários.


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