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Futuro da TV para crianças é discutido em Londres
BETH CARMONA
Mais de 800 especialistas em televisão, representando aproximadamente
80 países, estiveram reunidos recentemente em
Londres, onde aconteceu
a 2ª Conferência Mundial
sobre TV e Criança. Retomando a carta de princípios que foi redigida em
Melbourne, Austrália, em
1995, o evento foi de grande importância para todos aqueles que acreditam que a televisão pode
desempenhar um grande
papel no futuro das nações, visto a força de seu
impacto sobre o público
infantil. O clima do encontro poderia ser comparado ao das grandes reuniões de debate sobre direitos humanos e direitos
da infância.
Debates sobre a produção e a criatividade dos
programas, os temas políticos da comunicação, o
controle da programação,
o financiamento da televisão e a revolução tecnológica ocuparam integralmente os cinco dias do
evento.
Televisão terrestre, TV
via satélite, TV por assinatura, a multiplicação
dos canais, a globalização, a TV e a Internet, a
TV Comercial e a TV pública: a quem pertence o
futuro? Como conviver
com a revolução que se
apresenta neste final de
século? No âmbito das
discussões falou-se que se
apresenta neste final de
século? No âmbito das
discussões falou-se numa
tendência de integração
dos meios e num interessante clima de competitividade, onde as emissoras
deverão estar cada vez
mais preparadas para se
conectar com os novos
meios, mostrar personalidade própria, objetivos
claros e uma diferenciação de conteúdos.
Em princípio, esses são
temas válidos para debate
nos mais diferentes pontos do mundo, porém,
quando se fala em países
em desenvolvimento -e
durante a Conferência tivemos relatos de situação
de grupos continentais-,
fica cada vez mais clara a
importância da televisão
de acesso gratuito e principalmente a televisão pública, que deve se orientar
pela busca da qualidade
na programação infantil.
Para os países da África,
Ásia, América Latina e
Europa do Leste, a televisão reinará absoluta nos
espaços de vida das crianças e é nesse sentido que
todos os esforços ainda
deverão se concentrar sobre as programações que
essa parcela da população
vem recebendo de forma
avassaladora.
Na sessão plenária sobre
a América Latina, onde
representei o Brasil destacando a experiência da
TV Cultura, foram colocados alguns dados que
demonstram porque nosso continente é considerado uma espécie de paraíso
para os grupos internacionais de comunicação.
Com uma população de
aproximadamente 486
milhões e países com um
índice altíssimo de penetração da televisão nos
domicílios, o número potencial de telespectadores
na América Latina é muito grande. Países como a
Venezuela, o Peru e o Brasil, chegam a índices de
mais de 50% de população jovem, o que também
é um fator importante no
que se refere à televisão
que busca a criança como
alvo.
Esses números, aliados
ao fato de estarmos num
ambiente de domínio de
apenas duas línguas -o
espanhol e o português-,
atraem os canais estrangeiros para um campo
bastante propício à exploração. Os canais infantis
da TV paga já estão por
aí.
Hoje, mais de 85% dos
lares brasileiros têm pelo
menos um aparelho de
TV, e podemos estimar
que em cada uma dessas
casas exista em torno de
duas crianças. Mais de
32% de nossa população
está na faixa de 0 a 14
anos.
No Brasil, a TV Cultura
mostrou capacidade e
conquistou uma boa parcela dessas crianças, oferecendo programas infanto-juvenis de qualidade e
conseguindo bons índices
de audiência -fato que
foi percebido rapidamente pela TV comercial.
Já que a TV goza de
grande popularidade dentro do universo infantil e
concordando que a situação da escola para todos
ainda está longe de ser satisfatória em nosso país,
porque não aprimorar esse instrumento e oferecer
programas que ajudem na
formação e que respeitem
a inteligência das crianças?
A Conferência reservou
um dia inteiro para a discussão do financiamento
da programação de qualidade e foi reconhecido
que a TV para crianças se
tornou um grande negócio. Além disso, todos concordaram que os programa infantis custam caro
e, sendo assim, precisam
encontrar seus financiadores, sejam eles públicos
ou privados.
O ponto comum é que as
programações infantis deveriam ser orientadas e
regulamentadas de acordo com o interesse e a necessidade de seu público,
evitando qualquer tipo de
relação de exploração. A
comercialização de um
programa infantil não pode ferir princípios básicos.
Em Londres, foram feitos
vários apelos nesse sentido, ou seja, não podemos
nos deixar levar pela força do mercado quando estamos tratando de crianças.
É preciso impor um limite e um controle sobre o
merchandising e o licenciamento de produtos,
que está chegando ao auge do exagero no contexto
mundial.
O controle de qualidade
de uma programação, a
exploração do sexo e da
violência nas mais diversas formas e o acesso das
crianças a essa televisão
de influência negativa foram temas de grande polêmica.
Se por um lado os escandinavos são rigorosos na
escolha e na produção dos
programas que transmitem, os norte-americanos
mostraram soluções como
o V-chip, entre as muitas
atitudes que vêm tomando em relação à TV nos
Estados Unidos, desde os
anos 70.
A verdade é que, para
garantir a qualidade de
uma programação, serão
necessárias atitudes frequentes de grupos sociais
nos diferentes países, junto a seus governos.
Os profissionais de TV,
os educadores, os pais, os
grupos de defesa, a imprensa, a Justiça e os políticos devem estar atentos
para a questão da TV e da
criança. Uma vez reconhecida a potencialidade
da televisão ora como espelho e ora como janela, é
preciso direcionar os esforços para o uso mais
consciente desse poderoso
instrumento.
No encerramento dos
trabalhos em Londres, a
delegação da Grécia, com
a presença dos ministros
da Educação, Cultura e
Imprensa, já iniciava os
preparativos para o próximo encontro que será em
Atenas em 2001.
Uma série de ações e
orientações foram acordadas e desde já foram colocadas as possibilidades
da América Latina ser escolhida como sede para a
Conferência Mundial em
2003, em função de sua
importância no contexto
mundial. Se trabalharmos
para isso, o Brasil tem toda a chance de ser escolhido como país anfitrião do
evento, o que seria uma
ótima oportunidade para
conferir como estará se
comportando a televisão
brasileira no início do novo século.
Beth Carmona é diretora de Programação da TV Cultura. Representou o
Brasil na Sessão Plenária da América
Latina na 2ª Conferência Mundial Sobre TV e Criança realizada em Londres, de 9 a 13 de março
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