São Paulo, domingo, 16 de abril de 2000


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MINISSÉRIE
Produção mistura documentário e comédia para contar a história de Caramuru, que viveu no Brasil do séc. 16
"Invenção" relata fábula no Brasil de 500 anos atrás

DA SUCURSAL DO RIO

A REDE Globo estréia nesta quarta, às 22h, uma de suas maiores apostas dentro da comemoração dos 500 anos do país: a minissérie em três partes "A Invenção do Brasil".
A criação de "Invenção" é assinada por dois dos mais criativos diretores e roteiristas da emissora, Guel Arraes e Jorge Furtado. Eles são responsáveis por programas memoráveis como "O Alienista" e "O Auto da Compadecida".
A atração é uma encomenda especial feita pela Globo à dupla no meio do ano passado. "Nos pediram um programa especial para as comemorações dos 500 anos. Decidimos que precisava ser uma associação de documentário com comédia, uma "documédia". É uma tentativa de brincar com os limites dos fatos e da ficção", conta Furtado.
""Invenção" é quase uma fábula sobre o início do Brasil", completa Arraes.
O título da minissérie, segundo Furtado, foi inspirado no prefácio do livro "A Fundação do Brasil", de Darcy Ribeiro. "Foi ali que eu lembro de ter lido pela primeira vez a idéia de que o Brasil foi inventado. Resolvemos fazer uma colagem das diversas versões, das misturas de fato e lenda de nossa história, para construir o roteiro."
A mistura de linguagens de dramaturgia, desenho animado e documentário é usada para contar a história de Diogo Álvares (Selton Mello), o Caramuru. O personagem mítico chegou ao Brasil na primeira década do século 16 e travou contato com os índios tupinambás.
Sua história começa em Portugal, quando ele se envolve em uma confusão relacionada aos mapas da expedição de Cabral e se vê deportado. A caravela na qual ele viaja naufraga, e ele chega à costa brasileira.
Aqui, se apaixona pela índia Paraguaçu (Camila Pitanga) e sua irmã Moema (Deborah Secco). Ele vive um harmonioso triângulo amoroso com as duas, tudo isso com a permissão do pai das moças, o cacique Itaparica (Tonico Pereira). O triângulo se desfaz quando Caramuru viaja para a Europa em uma caravela e as duas índias tentam segui-lo a nado, mas apenas Paraguaçu consegue alcançar o barco. O europeu e a índia se casam na França e decidem voltar a morar no Brasil.
"Decidimos que seria uma boa idéia contar a história de Caramuru, porque é uma metáfora de Adão e Eva acontecendo aqui. Eles simbolizam a mistura de raças que efetivou a existência do Brasil", diz Furtado.
Para ele, Caramuru é um personagem simbólico também porque foi o primeiro europeu a decidir morar no Brasil por livre e espontânea vontade.
A diferença básica que leva o personagem a ficar por aqui vai ficar bem clara nas imagens mostradas na série. "Busquei em Portugal as imagens góticas, sombrias, que contrastam com a exuberância da natureza brasileira. Os dois países são lados opostos da moeda. Aqui é luminoso. Lá, é cinza", explica Arraes.
A história de amor que guia o programa é complementada por diversos segmentos documentais. A equipe de produção fez uma extensa pesquisa de imagens que vai desde pinturas clássicas ao filme "O Descobrimento do Brasil", de Humberto Mauro.
Durante a trama, algumas imprecisões históricas e a dificuldade de comunicação entre índios e portugueses foram usadas para gerar momentos cômicos.
A minissérie terá também alguns minutos com vinhetas de animação produzidas por cartunistas como Allan Sieber, Fabio Zimbres (ilustrador da Folha) e do diretor de arte Fiapo Barth. São segmentos que ilustram as piadas. Em um deles, por exemplo, é mostrada a saga de El Dorado no formato de um videogame.
Arraes sabe que sofrerá uma grande cobrança do público, que tem em mente o sucesso de "Auto", mas, para ele, as duas obras não podem ser comparadas.
""Auto" é um trabalho baseado em uma obra clássica. "Invenção" é mais pop, neotropicalista, embolado", diz.
Outra diferença é que "Auto" foi feito em película, enquanto a nova minissérie foi gravada no padrão HDTV (TV de alta definição). Arraes queria que ao menos a parte ficcional fosse feita em película, deixando só os segmentos documentais em videoteipe. Não conseguiu.
Mas o pequeno revés não diminuiu o prazer de produzir a minissérie. Furtado diz que os dois costumam parar em alguns momentos para avaliar o que estão fazendo. "Se sentimos que ainda estamos nos divertindo muito é porque estamos no caminho certo." (AM)



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