São Paulo, domingo, 20 de setembro de 1998

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Gordinhos como Cláudia Jimenez, Gilberto Barros, João Gordo e Gérson Abreu conquistam popularidade e espaço na TV. Na minissérie "Labirinto", a atriz Alice Borges fará o papel de uma garota rechonchuda que vai namorar os galãs Luciano Szafir e André Segatti; em "Torre de Babel", Bina, a personagem de Cláudia Jimenez, é disputada por três homens
As bolas da vez

Luzia Ferreira/Folha Imagem
O apresentador João Gordo, do game-show "Garganta e Torcicolo", da MTV, acha que os gordinhos protagonizam na TV uma espécie de "freak show"


RUI DANTAS
da Reportagem Local

Esbanjando talento e simpatia, os gordinhos conquistam mais espaço e popularidade na TV.
Sem culpa pelo excesso de peso, os personagens "cheinhos" das novelas já não passam o dia se autopunindo como antes.
Ao contrário, os gordinhos estão "contra-atacando", sendo cortejados por galãs e beldades.
É o caso de Bina Colombo, a ingênua personagem da atriz Cláudia Jimenez, 39, na novela "Torre de Babel", da Globo.
Ainda que não atenda aos padrões da estética convencional, ela é disputada pelos personagens de Victor Fasano (Edmundo Falcão), Oscar Magrini (Gustinho) e Ernani Moraes (Boneca).
Cláudia acredita que os padrões de beleza vigentes são "uma ignorância". Para ela, é perfeitamente possível ser gordinha e, ao mesmo tempo, sensual.
"Essa coisa de gorda, magra, loira, morena é uma bobagem. Posso ser perfeitamente gordinha como sou e atrair muita gente", conclui a atriz.
Cláudia, que diz não saber seu peso, acredita que, mais do que sexy, é muito sensual. Ela também afirma saber valorizar suas formas.
"Sou considerada sexy por ser a gordinha mais conhecida do Brasil. Procuro sempre um estilo de roupa que caia melhor em mim. Nunca vou cometer o erro, por exemplo de colocar um biquíni", diz.
Para se autopromover, Cláudia conta que prefere um bom decote e uma saia. "Tenho o colo bonito e as pernas torneadas."
Ela afirma que a naturalidade é essencial para que as pessoas tornem-se atraentes. A sensualidade, assim, independeria das características físicas.
"A nova loira do É o Tchan (Sheila Mello), por exemplo, tem o corpo espetacular, mas não acho que ela seja nem um pouco atraente. Ela não tem aquela coisa "tesuda' da Carla Perez", exemplifica.
Por ter sensualidade, Cláudia acredita, então, ser perfeitamente plausível ser disputada por galãs, como Oscar Magrini e Victor Fasano.
"No meu todo, sou sedutora. Eu mesmo já me surpreendi com pessoas que conquistei, que ficaram com tesão por mim", adverte.
Devido à sua crescente popularidade, o papel de Cláudia cresceu ao longo da novela.
No início da trama, quando Bina morava em um cortiço e trabalhava como garçonete, a atriz lembra que gravava apenas duas vezes por semana. Hoje, grava todos os dias.
"Tive que parar por enquanto com a minha peça", diz. Cláudia estrela "Julieta de Freud", que também escreveu.
Apesar da aparência simpática, Cláudia sabe que tem gênio forte. Foi por conta de seu gênio, inclusive, que ela foi convidada a sair do humorístico "Sai de Baixo", no qual interpretava a empregada doméstica Edileusa. Sobre o assunto, Cláudia evita comentários.
"Saí na hora em que deveria sair. O que posso falar é que, às vezes, a gente tem encontros que não são felizes. E esse não foi feliz pra mim."
"Sou de escorpião e só tenho problemas com gente medíocre. Como meu signo é muito forte, e eu falo o que penso, quando esbarro com uma pessoa rasa, que não sabe lidar com a verdade, aí tenho problemas", esclarece.
Um dos autores da novela, Alcides Nogueira, 48, admite que o propósito inicial dos autores, ao aproximar Bina e Gustinho ou Edmundo, era discutir o relação entre padrões de beleza distintos.
"É o caso da Shirley (Karina Barum), que, mesmo manca, se relaciona com o Adriano (Danton Mello), que é protótipo de beleza", compara.

Outros gordinhos
O apresentador João Gordo, 34, da MTV, é outro gordinho em alta.
Apresentando um programa muito popular entre adolescentes, o game-show "Garganta e Torcicolo no Paraíso das Ovelhinhas", João Gordo recebe dezenas de cartas por semana na emissora.
"Mas nenhuma delas é para dizer: "Ó gordinho lindo do meu coração'", brinca.
Escrachado, João Gordo acredita que o "freak show" está legalizado com a aparição e a popularização de gordinhos na TV.
"Acho que tem umas meninas que ficam cegas, ao dizer que sou lindo. Elas falam isso só porque trabalho na televisão", afirma.
Na Rede Record, os gordos de sucesso são Gérson de Abreu, que vem obtendo bons índices de audiência com seu infantil "Vila da Esperança", e o apresentador Gilberto Barros, do programa "Leão Livre", que, com seus 130 kg, vem "roendo" o ibope de seu antecessor, Ratinho, do SBT.
"Os gordinhos são sempre queridos pela população", explica Barros.
"Temos um ar bonachão e isso está no inconsciente coletivo desde a Idade Média", diz Abreu, que têm 160 kg.
Outra atriz de peso em alta é Camryn Manheim. Por sua atuação no seriado "O Desafio", ganhou o Emmy, o Oscar da TV norte-americana, como a melhor atriz coadjuvante em séries dramáticas.
A entrega do prêmio, domingo passado, em Los Angeles (EUA), foi televisionada para o mundo inteiro e, ao receber seu prêmio, Camryn fez questão de oferecê-lo às suas colegas de balança. "Isso é para todas as garotas gordas", bradou, ao levantar a estatueta.



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