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Emissoras servem cardápios cada vez mais esdrúxulos nas gincanas
O BARATO DAS BARATAS
Divulgação
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Zeca Camargo apresenta o cardápio ao aeroviário Fábio Nascimento |
CARLA MENEGHINI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
HÁ CERCA de um ano e meio, uma
cena da primeira edição de "No Limite" chocou muitos telespectadores: os
participantes do "reality show" da TV
Globo comendo olho de cabra. Era repugnante, mas ninguém conseguia parar
de olhar, e a audiência foi nas alturas.
Hoje, cenas repulsivas, tais como gente
comendo iguarias detestáveis, lidando
com bichos asquerosos ou vomitando,
são atrações comuns na TV brasileira.
Em "Hipertensão", que estreou domingo passado na mesma Globo, foram
ingeridas baratas e minhocas. A cena
mereceu um comentário de Ratinho, do
SBT: "Se eu fizer isso aqui, vão gritar que
é baixaria!".
No "Interligado Games", da Band, o
participante deve comer farofa de formiga e enfiar a mão em um aquário de sapos. João Kléber "enterrou" a atriz Leila
Lopes e o ator Rodrigo Pavanello num
caixão cheio de ratos no "Você na TV",
da Rede TV!.
E tem mais: em "Descontrole", da
Band, já houve vômito e uma conversa
no vaso sanitário. No "É Show", da Record, com Adriane Galisteu, uma pessoa
da platéia é fechada numa caixa de plástico com insetos vivos. E o "Domingo Legal", do SBT, faz artistas tentarem descobrir qual é o bicho, apenas tocando nas
criaturas asquerosas.
"É uma pena que a TV explore fórmulas cada vez mais degradantes para o ser
humano; lamento a falta de criatividade
das emissoras", diz o sociólogo Laurindo
Leal Filho, professor da USP.
As cenas nojentas estão com os dias
contados, pelo menos no "Descontrole",
que chegou a mostrar o assistente de palco Cidão vomitando. Segundo a assessoria, "a Band admite que houve excessos e
pretende corrigir o programa".
"O público tem uma curiosidade natural por tudo aquilo que é anormal, a mesma que faz com que as pessoas se amontoem na rua para ver feridos de um acidente", diz o sociólogo. "Mas não tenho
dúvida de que o telespectador só assiste a
esses programas por falta de opção."
Coquetel
Na estréia de "Hipertensão", os participantes que almejavam o
prêmio de R$ 50 mil tiveram de comer
um "coquetel" de seis minhocas, quatro
tenebras e uma barata -todas vivas.
"As provas envolvendo bichos são propositalmente repulsivas, são feitas para
que eles desistam; o público não quer
ver, mas quer saber quem vai se superar,
quem vai se submeter a esse tipo de experiência", diz o diretor-geral do programa, Carlos Magalhães.
O aeroviário Fábio Nascimento, 24,
vencedor do primeiro episódio, conta
como conseguiu enfrentar a "degustação": "Fui para a gravação decidido a fingir que a barata era um sushi, mas, quando a coloquei na boca, não deu para me
enganar, pois o asco era muito. Só me
preocupei em morder forte para matar
os bichos e depois engolir rápido".
Segundo Fábio, os participantes foram
instruídos por uma nutricionista -que
os aconselhou a fazer apenas uma refeição leve antes da gravação-, e os bichos
aparentavam ser "bem limpinhos", o
que não impediu que ele sentisse náusea
após a prova. "Não conseguia parar de
pensar que tinha uma barata dentro da
minha barriga." Segundo Magalhães, os
bichos utilizados no programa vêm de
laboratórios especializados.
Sadismo
No "Interligado Games", a
"Prova do Banquete" prevê que os competidores -pré-adolescentes- comam
pratos como testículo e rim de boi, farofa
de formigas, larvas de laranja (vivas),
olho de cabra e ovas de bagre. Noutra
prova, devem enfiar a mão em aquários
cheios de insetos, sapos, cobras ou ratos.
"Apesar de serem nojentos, são pratos
exóticos que existem em outros lugares
do mundo; mas é claro que servimos
sem tempero, senão perde a graça", diz a
apresentadora Fabiana Saba, que, no entanto, afirma que nunca comeria nenhum dos "pratos" que serve.
Enquanto o participante enfrenta as
provas, a apresentadora faz comentários
para provocar mais nojo. "Confesso que
sou meio sádica na hora da prova; acho
divertido ver que a pessoa está morrendo
de asco e, ainda assim, come", diz.
Para a apresentadora, o telespectador
prefere ver cenas nojentas "de mentirinha" do que assistir à violência de verdade. "Meu programa é muito mais light
que qualquer telejornal", afirma. Mas ela
confessa que frequentemente não consegue almoçar após as gravações.
Laurindo Leal Filho acredita que o apelo televisivo às cenas nojentas tem vida
curta: "Com o tempo isso será banalizado e logo substituído por nova fórmula".
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