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ENTREVISTA - JACINTO FIGUEIRA JR.
"A TV do Silvio Santos vai passar a Globo. Logo, logo"
DA REPORTAGEM LOCAL
JACINTO Figueira Júnior, 72, cultiva
a imagem que o tornou mito televisivo. Recebeu a reportagem da Folha, no
prédio onde mora em São Paulo, calçado
com seus inconfundíveis sapatos.
"O Homem do Sapato Branco", programa e personagem, surgiu em 1966 e
passou por Cultura, Bandeirantes, Globo
e SBT. A última aparição foi no "Aqui
Agora", jornalístico do canal de Silvio
Santos exibido entre 1991 e 1997.
Hoje, Jacinto vive de uma aposentadoria de R$ 700 e diz não ter mais esperanças de voltar à TV. Vítima de um derrame no início deste ano, tem problemas
de locomoção e ouve com dificuldade.
Criador do estilo levado adiante por
Ratinho, Márcia e João Kléber, não vê
qualidade nesses, que chama de imitadores. "Eu boto eles no chão", disse Jacinto
na entrevista cujos principais trechos você confere a seguir.
(RODRIGO DIONISIO)
Como surgiu o sapato branco?
Eu lia Friedrich Nietzsche e Schopenhauer e vi, em vários trechos, os homens que usavam sapato branco. Você
sabe que não é fácil entendê-los, mas eu
entendi. E os homens de sapato branco
eram dentistas, médicos, enfermeiros,
pessoas que, realmente, desejavam o
bem dos outros. Então, eu botei o nome
"O Homem do Sapato Branco".
O programa tratava de casos policiais?
De tudo. Ele era uma peneira, o que
caísse de bom eu colocava no ar. Hoje,
sou imitado por três ou quatro. O Ratinho é um que me imita. Se fosse nos Estados Unidos, estavam todos presos,
pois lá não pode. Eles estão me copiando.
Além do Ratinho, quem o senhor acha
que o imita?
Tem a Márcia, tem o João Kléber, que
agora também começou a me imitar.
Tem um outro cara de Curitiba que também está me imitando.
O Alborghetti?
Não, o Alborghetti até que é um bom
cara, porque ele falou: "Não esqueçam
que quem começou tudo isso foi o Jacinto Figueira Júnior". Mas o senhor Ratinho, o que fez? Pegou o "Sapato Branco"
e o Alborghetti e fez um programa para
ele, ganhando a fábula que ele ganha. E
não está certo. Fui imitado e sou imitado
até hoje, mas só que eu não consigo mais
espaço na TV. Eles não me querem de
volta de jeito nenhum.
Por quê?
Eu boto eles no chão. Posso fazer o "Sapato Branco", mas diferente. Não faço o
"Sapato Branco" igual a eles. E seria o
primeiro lugar novamente. Mas estou
barrado e não acredito que vá conseguir
mais nada. Não por causa dos donos,
mas pelos produtores e pelos colegas.
Então tudo se resume a uma questão de
medo da concorrência?
Lógico, concorrência. O medo deles é
exatamente esse. Pô, esse cara aparecendo outra vez vai ser um problema terrível
para nós. Não pode.
O senhor se considera injustiçado?
Com o quê?
Por estar hoje sem emprego, após sua
carreira na TV. O senhor diz ter ajudado a
Globo a ser líder no ibope...
Mas quem falou isso não fui eu. Foi o
Walter Clark [1936-1997]. Em todas as
entrevistas que deu e até em livro. Ele
disse: "Quem botou a Globo em primeiro lugar foi o "Sapato Branco'". Todo
mundo sabe disso, mas esqueceram, não
interessa, porque era um programa popular. Mas a Globo vai acabar caindo
nessa de popular outra vez, porque televisão hoje é isso. A Tupi foi a maior do
Brasil. Acabou. Aí ficou quem? A Record.
Quem acabou com a Record? Eu. Pois ela
estava em primeiro lugar, em segundo
estava a Tupi, em terceiro estava a Globo.
Quando eu cheguei lá [à Globo] eu dava
60 de audiência. Então, eu a coloquei em
primeiro lugar. Quando ela ficou em primeiro e não precisavam mais de mim,
acabou o contrato. É um ciclo. A TV do
Silvio Santos vai passar a Globo. Logo,
logo. E ela terá de voltar a ser popular para conseguir sobreviver.
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