São Paulo, domingo, 23 de dezembro de 2001

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À CAÇA DOS ARTISTAS

Fãs fazem seu próprio "domingo legal"

Gustavo Roth/Folha Imagem
Fãs "atacam" o carro da cantora Wanessa Camargo


RODRIGO DIONISIO
DA REPORTAGEM LOCAL

ELES não vão topar tudo por dinheiro nem viver um dia de princesa (ou príncipe). Mas, aos domingos, deixam a TV desligada e se dirigem ao SBT. Para a portaria da emissora, mais exatamente. Buscam um contato próximo com os ídolos da programação do canal de Silvio Santos e seus convidados, que chegam e saem da sede do SBT à margem da via Anhanguera, em Osasco (SP).
Fernando Luz Machado, 11, afirma ir todo domingo. Não é difícil de acreditar (nas duas vezes em que a reportagem esteve no local, o garoto compareceu).
Desinibido, puxa conversa com todo mundo e é uma espécie de "guia de programação" da portaria: sabe quais os carros dos artistas, em que horários eles costumam chegar, quando os programas entram no ar.
A insistência tem um motivo: conhecer o apresentador do "Domingo Legal", Augusto Liberato, o Gugu. "Não quero dinheiro, casa, carro. Só quero dar um abraço nele", diz Fernando, que fica desacompanhado na frente da emissora, mas afirma ter o consentimento dos pais em suas aventuras dominicais.
Mais "participativa", Maria Aparecida Franco Cybis, 49, costuma ir com as filhas, Michelly (10) e Suelen (15). O objetivo delas era ver os rapazes do grupo KLB, que estariam no "Domingo Legal".
Para Maria Aparecida, a visita funciona como um "programa" de final de semana. "Almoçamos e depois viemos para cá. Aqui é o melhor lugar para conseguir falar com eles [os artistas"", disse.
As três também levaram para o passeio Kika, uma calopsita -espécie de periquito- que é a "filha do Kiko", o "k" do KLB, nas palavras das meninas.
Outra fã do trio pop, Danielly Martinês, 17, afirma que é melhor estar na portaria que no estúdio de gravação. "Aqui dá para abraçar, conversar". Quanto ao calor, falta de lugar para sentar e de abrigo em caso de chuva, ela diz: "No começo é ruim, mas depois você se acostuma. Quando o KLB vem, estamos aqui".
Entretanto, muito além da "devoção" ao trio, o que parece importar mesmo é "tietar". Prova disso foi o tumulto gerado pela chegada da cantora Wanessa Camargo -a única a parar o carro e baixar o vidro para falar com os fãs durante o período em que a reportagem esteve diante da entrada do SBT.


Portaria do SBT é espaço para a reunião de fãs em busca da atenção de seus ídolos; local ainda serve como ponto de encontro de desesperados à espera de ajuda


Mães, adolescentes e até quem há pouco afirmara ter os meninos do KLB como ídolos únicos se espremeram contra a porta do veículo para chegar perto da filha de Zezé di Camargo.

Todas as idades Engana-se quem acha que esse "programão" dominical é coisa só de adolescentes (e seus acompanhantes). Há uma presença considerável de donas-de-casa, mães de família, na portaria da emissora. Já o número de homens é quase nulo.
"O [cantor sertanejo] Daniel é a minha paixão. Já vim outras vezes para vê-lo e é uma diversão", diz Silvana Godói Garcez, 31. Ela deixou os três filhos em casa, com o marido, para tentar ver seu ídolo.
Elisabete Canossa, 42, também queria ver o sertanejo Daniel e o grupo KLB. Ela afirma morar a cinco minutos de caminhada da sede da emissora e ser frequentadora assídua da portaria.
Diz ainda que o marido é "liberal" e não se importa com as escapadelas dominicais. "Mas aqui ele não vem, não."
Acompanhada pela filha Viviane, 20, foi uma das poucas a não se abalar com a chegada de Wanessa Camargo, mas elogiou a atitude da cantora. "Se tem quem gosta deles aqui, eles devem parar."
Quero entrar Claro que algumas pessoas não se contentam simplesmente com o entra-e-sai de celebridades.
As amigas Branca Maria, 23, e Lídia Lima, 24, viajaram de ônibus de Belo Horizonte (MG) a São Paulo para tentar participar de algum dos programas realizados ao vivo no SBT. Chegaram à capital paulista no sábado, se hospedaram em um hotel e, domingo, tentavam uma chance na portaria da emissora.
"Já ligamos várias vezes e não conseguimos vaga. Achamos que pessoalmente seria mais fácil, mas não funcionou. Agora, volto para casa desiludida e não tenho a menor vontade de tentar de novo", afirmou Branca.
Mas, se a possibilidade de não conseguir entrar sem ter combinado a visita antes era grande, por que arriscar? "É uma aventura vir para cá, ter alguma chance de conhecer os estúdios, ver os artistas", responde a mineira.


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