|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
'Hermes e Renato' consagra o 'Heavy-Trash'
Com esquetes escatológicos e sem autocensura, cinco garotos conquistam um público fiel na MTV e ganham mais espaço na nova programação do canal
FERNANDA DANNEMANN
FREE LANCE PARA A FOLHA
O humor "heavy-trash" dos garotos do
grupo Hermes e Renato está de bola
cheia na MTV. A partir de março, eles
vão ganhar um horário cativo às segundas-feiras e exibirão seus esquetes, muitas vezes escatológicos mas sempre com
um frescor adolescente, durante meia
hora, com reprises nos outros dias da semana. Atualmente, a atração, que fica 15
minutos no ar logo depois do "Gordo a
Go-Go", é uma das maiores audiências
do canal musical, ao lado de programas
como o "Fica Comigo" e o "Piores Clipes", e já conquistou um público fiel que
inclui vários nomes da música.
"Naquele horário, entre programações
escatológicas como o bispo Macedo,
"Hermes e Renato" é quase uma coisa espiritualizada", afirma o cantor Lobão.
"Eles são os amigos que todos queríamos
ter, os heróis da MTV", completa Chorão, vocalista da banda Charlie Brown Jr.
Influências Fãs de "Chapolin",
"TV Pirata" e "Os Trapalhões", e sempre
atentos a novelas mexicanas e a programas policiais sensacionalistas, os cinco
humoristas se inspiram na própria TV
para criar a maioria de seus personagens.
O apresentador Cláudio Ricardo, por
exemplo, nos remete a João Kléber. Zé
Canjica, clone de José Mojica Marins, o
Zé do Caixão, é o resultado das sessões
de filmes de terror "classe Z" que Fausto
Fanti Jasmin, 24, adora. Marquinhos
Aguiar, o cantor que não consegue cantar, nasceu quando Bruno Satter, 22, viu
no "Domingão do Faustão" um astro ser
interrompido pelo apresentador quando
ia começar a música para que entrassem
no ar imagens ao vivo de uma rebelião de
presos.
Mas nem só de sátiras televisivas vive o
grupo. Joselito, o troglodita que "não sabe brincar", foi inspirado em um ex-cunhado homônimo de Fausto. "Joselito é
o cara que manda mal, toda a turma tem
um. O nosso é o baixista PJ", afirma Rogério Flausino, vocalista do Jota Quest,
outro que não perde um programa.
O grupo foi descoberto em 1999, quando Fausto mandou uma fita para o "Projeto Voz", da MTV. "Fazia esquetes desde os 12 anos. Sempre lá em casa, com as
roupas da família e as maquiagens da
minha irmã", diz ele. "Quando a MTV
nos chamou, não imaginamos que chegaria ao ponto de querer um programa",
diz Bruno.
A decisão de contratar os garotos partiu de André Mantovani, presidente da
MTV. "Ele se apaixonou", conta o diretor de programação da emissora, Zico
Góes, que credita o sucesso do grupo ao
descompromisso. "São bons atores e,
mesmo com eventuais canastrices, a química dá certo, porque eles dominam a
crítica." Já o diretor do programa, Gustavo Guimarães, garante que o grupo precisa, sim, de direção e elogia a "experimentação que não se vê em outras TVs".
Mas nem todos se derramam em elogios. O comediante Lúcio Mauro Filho,
do elenco de "Zorra Total", da Globo,
por exemplo, é reticente. "Não me agrada muito, não é o tipo de humor que me
faça ficar sentado diante da TV."
"A gente faz o que acha engraçado", resume Felipe Fagundes, 21. "Uma jornalista do Rio disse que a gente tem que nadar muito pra ser igual ao "Casseta & Planeta". Mas quem disse que é isso que a
gente quer?", questiona Adriano Silva,
22. "Eles não entendem que é tudo sátira,
que os personagens Hermes e Renato esbanjam palavrão porque a gente trabalha
em cima do exagero", explica Bruno.
"Mas as críticas acabam sendo boas, pelo
menos nosso nome está lá no jornal", gaba-se Fausto.
Globo não Apesar do inesperado
sucesso, eles não sonham com um improvável convite da Globo. Descartam
qualquer possibilidade com um
"nãããooo!!!" em côro. "A Globo iria tolher nossa criatividade", afirma Bruno, o
único do grupo que casou e saiu da casa
dos pais. "Que graça teria uma grande
produção em "Hermes e Renato'? O
"heavy-trash" é nossa maior qualidade",
diz Felipe. "Prefiro ficar aqui e ter liberdade", completa Fausto, lembrando que,
enquanto a emissora carioca vetou que a
turma do Casseta abordasse o ataque ao
World Trade Center, eles reproduziram
o atentado às torres gêmeas com papelão, aviãozinho e bombinhas explodindo
os prédios no instante em que Marquinhos Aguiar começaria a cantar. "O humor é baseado na desgraça dos outros,
mas uma jornalista disse que a piada era
de extremo mau-gosto. O nosso público
é adolescente e adora o humor que fazemos", diz Bruno. O humorista Tom Cavalcante confirma a tese. "Meu filho, de
14 anos, adora", conta o intérprete do estranho Pittbicha.
E os Cassetas, o que dizem? "Não assisto muito, mas já vi coisas engraçadas,
aquele jeito mambembe. Espero que tenham um futuro de sucesso, com mulheres gostosas e carro na garagem. Eles têm
uma linguagem particular, mas seria
possível se adaptarem à Globo. O ser humano é muito adaptável, principalmente
diante de um cheque polpudo", ironiza
Marcelo Madureira. É esperar para ver.
Texto Anterior: Para autor, eventual interferência da emissora "faz parte" Próximo Texto: "Vida de Plástico" também inova Índice
|